
POLO ATIVO: GENI MARIA RODRIGUES DE JESUS
REPRESENTANTE(S) POLO ATIVO: CIRO ALEXANDRE SOUBHIA - SP172085
POLO PASSIVO:INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
RELATOR(A):LUIS GUSTAVO SOARES AMORIM DE SOUSA

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
R E L A T Ó R I O
O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL GUSTAVO SOARES AMORIM (RELATOR):
Trata-se de recurso de apelação interposto pela parte autora contra sentença (proferida da vigência do atual CPC), que julgou improcedente seu pedido de benefício assistencial de prestação continuada (LOAS), e fixou os honorários advocatícios em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, com a exigibilidade suspensa, em razão da assistência judiciária gratuita deferida.
Em suas razões recursais, afirma que preenche os requisitos legais para a concessão do benefício assistencial de prestação continuada, pois sua incapacidade é total e permanente, bem como a renda familiar per capita é inferior a ¼ do salário mínimo.
É o relatório.
Desembargador Federal GUSTAVO SOARES AMORIM
Relator

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
Processo Judicial Eletrônico
VOTO
O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL GUSTAVO SOARES AMORIM (RELATOR):
Conheço do recurso interposto por entender preenchidos os pressupostos de sua admissibilidade.
Cuida-se de ação de conhecimento proposta por Geni Maria Rodrigues de Jesus contra o INSS, objetivando a condenação do réu a objetivando a condenação do réu a conceder-lhe o benefício assistencial de amparo ao deficiente.
Alega a parte autora que é portadora de "CID 10. M54.4 - Lumbago com ciática; CID 10. M47.2 - Outras espondiloses com radiculopatias; CID 10 - E13.4 - Outros tipos especificados de diabetes mellitus CID 10 · N20 - Calculose do rim e do ureter ", o que a incapacitaria total e permanentemente.
A Lei 8.742/93, em seu art. 20, determina os critérios para a concessão do citado benefício, nos seguintes termos:
Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
§ 1o Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
§ 2o Para efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)
§ 3o Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
(...)
Na hipótese, a perícia médica concluiu que a autora é portadora de "CID 10. M54.4 - Lumbago com ciática; CID 10. M47.2 - Outras espondiloses com radiculopatias; CID 10 - E13.4 - Outros tipos especificados de diabetes mellitus CID 10 · N20 - Calculose do rim e do ureter ", o que a torna incapacitada parcial e temporariamente para suas atividades laborais, conforme o laudo médico (Id 372265660, fl. 61/64), nos seguintes termos:
“CONCLUSÃO: apresenta moléstias que ocasionam incapacidades de modo parcial, permanente, multiprofissional. Apesar disso, dependerá de tratamento medicamentoso e acompanhamento contínuo por tempo indeterminado, mas superior a vinte e quatro meses.”
Quanto à renda familiar, o Estudo Social concluiu que a autora encontra-se em situação de vulnerabilidade econômica e social, nos seguintes termos (Id 372265660, fl. 77/80):
“Foi realizado visitar domiciliar à senhora Geni Maria Rodrigues de Jesus (59 anos). A senhora acima supracitada informa que reside com seu esposo Aparecido Marcelino de Jesus (61anos). A residência é própria, composta por 6 cômodos, 02 (dois) quartos, sala, cozinha, 01 banheiro e área de serviço, com piso de cimento. Percebe-se que a residência em que a mesma reside está em precário estado de conservação. Ao inicial a entrevista a senhora Geni, informou que é portadora de diabetes, pressão alta, colesterol alto, problemas relacionados à coluna e catarata em ambos os olhos, relata ainda que a mesma faz uso de medicamentos (...) Em relação à fonte de renda familiar, segundo a senhora acima supracitada, a renda perfaz o valor total de R$ 1.302,00 (mil trezentos e dois reais), proveniente da aposentadoria de seu esposo o senhor Aparecido Marcelino. Quanto às despesas mensais, a senhora Geni afirma que despendem em média R$ 40,00 com fatura de água, R$ 55,00 com fatura de energia, R$ 600,00 com alimentação e R$ 250,00 com medicação, diz ainda que recebe ajuda dos filhos e das pessoas que colaboram com a casa da sopa para conseguir se manter. A mesma relata ainda que seu esposo fez empréstimos e não consegue custear as despesas da residência. A renda per capita é de R$ 651,00.”
Na análise do requisito da renda per capita, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos Recursos Extraordinários nº 567.985/MT e 580.963/PR, declarou a inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, da lei nº 8.742/93, e a inconstitucionalidade por omissão parcial do art. 34, parágrafo único, da Lei nº 10.741/03, em observância ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana e da isonomia, com a finalidade de alargar os critérios de aferição da hipossuficiência, não limitando apenas à análise da renda inferior a 1/4 do salário mínimo, bem como para determinar a exclusão do cálculo da renda familiar per capita os benefícios assistenciais conferidos a deficientes e os benefícios previdenciários no valor de até um salário mínimo percebidos por idosos.
Assim sendo, o benefício assistencial contribuirá para que a autora possa ter melhor qualidade de vida.
Portanto, na hipótese, foram supridos os dois requisitos para a concessão do benefício assistencial de prestação continuada: a incapacidade de longo prazo e a vulnerabilidade econômica e social da família.
Consectários Legais:
Atualização monetária e juros devem incidir nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal.
Honorários recursais
Invertendo-se os ônus da sucumbência, condena-se o INSS ao pagamento de honorários advocatícios fixados no percentual mínimo, nos termos do art. 85, §§ 3º e 4º, inciso II, do CPC, com a observância da Súmula n. 111/STJ.
Dispositivo
Ante o exposto, dou provimento à apelação da parte autora, para julgar procedente o pedido e conceder o benefício assistencial de amparo à pessoa com deficiência, a partir da data do requerimento administrativo (23/07/2021).
É como voto.
Desembargador Federal GUSTAVO SOARES AMORIM
Relator

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
APELAÇÃO CÍVEL (198) 1022198-19.2023.4.01.9999
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL GUSTAVO SOARES AMORIM
APELANTE: GENI MARIA RODRIGUES DE JESUS
Advogado do(a) APELANTE: CIRO ALEXANDRE SOUBHIA - SP172085
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. BENEFÍCIO DE AMPARO SOCIAL À PESSOA COM DEFICIÊNCIA E AO IDOSO. ART. 203, V, CF/88. LEI 8.742/93. REQUISITOS PREENCHIDOS. SENTENÇA REFORMADA.
1. Trata-se de recurso de apelação interposto pela parte autora contra sentença (proferida da vigência do atual CPC), que julgou improcedente seu pedido de benefício assistencial de prestação continuada (LOAS), e fixou os honorários advocatícios em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, com a exigibilidade suspensa, em razão da assistência judiciária gratuita deferida.
2. A Lei 8.742/93, em seu art. 20, determina os critérios para a concessão do citado benefício, nos seguintes termos: Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) § 1o Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) § 2o Para efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011) § 3o Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) (...).
3. Na hipótese, a perícia médica concluiu que a autora é portadora de “CID 10. M54.4 - Lumbago com ciática; CID 10. M47.2 - Outras espondiloses com radiculopatias; CID 10 - E13.4 - Outros tipos especificados de diabetes mellitus CID 10 · N20 - Calculose do rim e do ureter ", o que a torna incapacitada parcial e temporariamente para suas atividades laborais, conforme o laudo médico (Id 372265660, fl. 61/64), nos seguintes termos: “Conclusão: apresenta moléstias que ocasionam incapacidades de modo parcial, permanente, multiprofissional. Apesar disso, dependerá de tratamento medicamentoso e acompanhamento contínuo por tempo indeterminado, mas superior a vinte e quatro meses.”
4. Quanto à renda familiar, o Estudo Social concluiu que a autora encontra-se em situação de vulnerabilidade econômica e social, nos seguintes termos (Id 372265660, fl. 77/80): “Foi realizado visitar domiciliar a senhora Geni Maria Rodrigues de Jesus (59 anos). A senhora acima supracitada informa que reside com seu esposo Aparecido Marcelino de Jesus (61anos). A residência é própria, composta por 6 cômodos, 02 (dois) quartos, sala, cozinha, 01 banheiro e área de serviço, com piso de cimento. Percebe-se que a residência em que a mesma reside está em precário estado de conservação. Ao inicial a entrevista a senhora Geni, informou que é portadora de diabetes, pressão alta, colesterol alto, problemas relacionados à coluna e catarata em ambos os olhos, relata ainda que a mesma faz uso de medicamentos (...) Em relação à fonte de renda familiar, segundo a senhora acima supracitada, a renda perfaz o valor total de R$ 1.302,00 (mil trezentos e dois reais), proveniente da aposentadoria de seu esposo o senhor Aparecido Marcelino. Quanto às despesas mensais, a senhora Geni afirma que despendem em média R$ 40,00 com fatura de água, R$ 55,00 com fatura de energia, R$ 600,00 com alimentação e R$ 250,00 com medicação, diz ainda que recebe ajuda dos filhos e das pessoas que colaboram com a casa da sopa para conseguir se manter. A mesma relata ainda que seu esposo fez empréstimos e não consegue custear as despesas da residência. A renda per capita é de R$ 651,00.”
5. Portanto, foram supridos os dois requisitos para a concessão do benefício assistencial de prestação continuada: a incapacidade e a vulnerabilidade econômica e social da família.
6. Atualização monetária e juros devem incidir nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal.
7. Invertendo-se os ônus da sucumbência, condena-se o INSS ao pagamento de honorários advocatícios fixados no percentual mínimo, nos termos do art. 85, §§ 3º e 4º, inciso II, do CPC, com a observância da Súmula n. 111/STJ.
8. Apelação da parte autora provida, para julgar procedente o pedido e conceder o benefício assistencial de amparo à pessoa com deficiência, a partir da data do requerimento administrativo (23/07/2021).
A C Ó R D Ã O
Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por unanimidade, dar provimento à apelação, nos termos do voto do Relator.
Brasília-DF,
Desembargador Federal GUSTAVO SOARES AMORIM
Relator
