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APOSENTADORIA ESPECIAL. SENTENÇA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NOS PPPS JUNTADOS PELO AUTOR. MÉDICO RADIOLOGISTA. EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO IONIZANTE. AGENTE CANCERÍGE...

Data da publicação: 22/12/2024, 22:52:32

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. SENTENÇA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NOS PPPS JUNTADOS PELO AUTOR. MÉDICO RADIOLOGISTA. EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO IONIZANTE. AGENTE CANCERÍGENO. NÃO SUJEIÇÃO A LIMITE DE TOLERÂNCIA. IRRELEVÂNCIA DO FORNECIMENTO DE EPI. SENTENÇA MANTIDA. 1. Não deve ser acolhida alegação de nulidade da sentença por ausência de fundamentação, já que todos os períodos enquadrados como especiais foram baseados nos Perfis Profissiográficos juntados aos autos. 2. A caracterização do tempo de serviço especial obedece à legislação vigente à época em que foi efetivamente executado o trabalho (interpretação do tema 694 do STJ). Tem-se, portanto, que no período de vigência dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 a especialidade da atividade se dava por presunção legal, de modo que bastava a informação acerca da profissão do segurado para lhe assegurar a contagem de tempo diferenciada. A partir da edição da Lei n.º 9.032/95, o enquadramento de tempo especial passou a depender de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho permanente em atividades com efetiva exposição a agentes nocivos. Por fim, a partir da edição do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico. 3. A radiação ionizante é agente reconhecidamente cancerígeno (Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 9, de 07 de outubro de 2014) e não se sujeita a limite de tolerância, nem há equipamento de proteção individual ou coletiva capaz de neutralizar a sua nocividade (art. 284, parágrafo único, da Instrução Normativa INSS/PRES 77/2015). Precedentes, inclusive do TEMA 170 da TNU (A redação do art. 68, § 4º, do Decreto 3.048/99 dada pelo Decreto 8.123/2013 pode ser aplicada na avaliação de tempo especial de períodos a ele anteriores, incluindo-se, para qualquer período: (1) desnecessidade de avaliação quantitativa; e (2) ausência de descaracterização pela existência de EPI".). 4. Apelação não provida. (TRF 1ª Região, NONA TURMA, APELAÇÃO CIVEL (AC) - 1001449-77.2020.4.01.3308, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL URBANO LEAL BERQUÓ NETO, julgado em 07/03/2024, DJEN DATA: 07/03/2024)

Brasão Tribunal Regional Federal
JUSTIÇA FEDERAL
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PROCESSO: 1001449-77.2020.4.01.3308  PROCESSO REFERÊNCIA: 1001449-77.2020.4.01.3308
CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198)

POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
POLO PASSIVO:ALEXANDRE KALIL CASTANHEIRA ALEXANDRE
REPRESENTANTE(S) POLO PASSIVO: ALUIZIO BRITO DE CARVALHO - BA18140-A e DANIELA ALMEIDA SILVANY LIMA - BA49699-A

RELATOR(A):URBANO LEAL BERQUO NETO


Brasão Tribunal Regional Federal
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

Gab. 25 - DESEMBARGADOR FEDERAL URBANO LEAL BERQUÓ NETO

PROCESSO: 1001449-77.2020.4.01.3308  PROCESSO REFERÊNCIA: 1001449-77.2020.4.01.3308
CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) 
POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
POLO PASSIVO:ALEXANDRE KALIL CASTANHEIRA ALEXANDRE
REPRESENTANTES POLO PASSIVO: ALUIZIO BRITO DE CARVALHO - BA18140-A e DANIELA ALMEIDA SILVANY LIMA - BA49699-A
RELATOR: URBANO LEAL BERQUO NETO 

R E L A T Ó R I O

Trata-se de apelação interposta pela parte RÉ de sentença que julgou parcialmente procedente o pedido inicial para conceder ao autor a aposentadoria por tempo de contribuição, com DIB na DER, convertendo em comum períodos laborados sob condições especiais.

Narra o apelante, em apertada síntese: que a sentença é nula por falta de fundamentação; que a eficácia do EPI em relação a agentes cancerígenos vem sendo discutida pelo Tema 170 da TNU, devendo haver suspensão do feito; que o médico radiologista não está diretamente exposto à radiação e que o PPP indica exposição inferior a 1 mSV; que não há comprovação de exposição contínua do autor a risco biológico; que os PPP’s indicam fornecimento de EPI eficaz.

Sem contrarrazões.

É o relatório.


Brasão Tribunal Regional Federal
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

Gab. 25 - DESEMBARGADOR FEDERAL URBANO LEAL BERQUÓ NETO

PROCESSO: 1001449-77.2020.4.01.3308  PROCESSO REFERÊNCIA: 1001449-77.2020.4.01.3308
CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) 
POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
POLO PASSIVO:ALEXANDRE KALIL CASTANHEIRA ALEXANDRE
REPRESENTANTES POLO PASSIVO: ALUIZIO BRITO DE CARVALHO - BA18140-A e DANIELA ALMEIDA SILVANY LIMA - BA49699-A
RELATOR: URBANO LEAL BERQUO NETO 

V O T O

           

Conheço da apelação por tempestiva (ID 147435550).

Afasto, de pronto, a alegação de nulidade da sentença, já que todos os períodos enquadrados como especiais foram fundamentados nos Perfis Profissiográficos juntados aos autos.

Da mesma forma, não há que se suspender o feito em razão de matéria afetada na TNU, dada à absoluta ausência de relação com os recursos julgados neste Tribunal. Ademais, já houve o trânsito em julgado, isto em 23/11/2022, conforme se denota da busca lançada no sítio do Conselho da Justiça Federal.

Passo à análise do mérito.

A caracterização do tempo de serviço especial obedece à legislação vigente à época em que foi efetivamente executado o trabalho (interpretação do tema 694 do STJ). Tem-se, portanto, que no período de vigência dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 a especialidade da atividade se dava por presunção legal, de modo que bastava a informação acerca da profissão do segurado para lhe assegurar a contagem de tempo diferenciada. A partir da edição da Lei n.º 9.032/95, o enquadramento de tempo especial passou a depender de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho permanente em atividades com efetiva exposição a agentes nocivos. Por fim, a partir da edição do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico.

O autor, de acordo com os PPP’s juntados aos autos, laborou nos períodos averbados como médico radiologista e esteve exposto ao agente nocivo “radiação ionizante” (ID’s 147435520, 147435521 e 147435522). A radiação ionizante é agente reconhecidamente cancerígeno (Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 9, de 07 de outubro de 2014) e não se sujeita a limite de tolerância, nem há equipamento de proteção individual ou coletiva capaz de neutralizar a sua nocividade (art. 284, parágrafo único, da Instrução Normativa INSS/PRES 77/2015). Na mesma trilha o TEMA 170, da TNU (A redação do art. 68, § 4º, do Decreto 3.048/99 dada pelo Decreto 8.123/2013 pode ser aplicada na avaliação de tempo especial de períodos a ele anteriores, incluindo-se, para qualquer período: (1) desnecessidade de avaliação quantitativa; e (2) ausência de descaracterização pela existência de EPI".)

Neste sentido, é a jurisprudência desta Corte:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. SENTENÇA TRABALHISTA. EFEITOS PREVIDENCIÁRIOS. POSSIBILIDADE. RECONHECIMENTO DE TEMPO ESPECIAL. RUÍDO. RADIAÇÃO IONIZANTE. COMPROVAÇÃO POR PPP E LAUDO TÉCNICO. TEMPO ESPECIAL RECONHECIDO. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. MAJORAÇÃO. SENTENÇA PARCIALMENTE MANTIDA. 1. No presente caso, a controvérsia meritória, na esfera recursal, se restringe ao reconhecimento a) do período de 27/07/1965 a 28/03/1969 reconhecido em sentença trabalhista homologatória de acordo, e b) da especialidade dos períodos de 01/07/1973 a 15/09/1974, 16/10/1974 a 23/10/1975, 23/10/1975 a 01/04/1976, 12/04/1976 a 16/08/1977, 01/09/1977 a 30/11/1979 e de 06/03/1997 a 31/12/1998. 2. A sentença trabalhista homologatória de acordo também é documento idôneo, ainda que o INSS não tenha integrado a lide trabalhista, podendo ser admitida como início de prova material, no âmbito previdenciário, para se comprovar o tempo de serviço (art. 55, §3º, da Lei 8.213/91) e o salário de contribuição no período alegado pelo trabalhador desde que fundada em elementos que demonstrem o labor exercido na função e os períodos alegados pelo trabalhador, na esteira da abalizada jurisprudência do STJ (REsp 1674420/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/11/2019, DJe 22/11/2019; REsp 1734991/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/06/2018, DJe 22/11/2018). 3. In casu, o autor apresentou cópia das principais peças e decisões da reclamatória trabalhista (fls. 143/159). Em que pese a inexistência de prova documental da existência do vínculo trabalhista quanto ao período de 27/07/1965 a 28/03/1969, a sentença homologatória de acordo deve ser considerada para fins previdenciários, dada a particularidade da situação verificada na espécie. 4. Isso porque a reclamatória trabalhista foi ajuizada em 09/05/1969, apenas dois meses após o término da relação laboral, ou seja, mais de trinta e seis anos antes da formulação do pedido de aposentadoria em 23/01/2006 (fl. 44), o que afasta qualquer indício de lide simulada visando à concessão de benefício previdenciário. 5. O referido vínculo foi anotado na CTPS do autor, conforme consta de fls. 38. Como é cediço, as informações constantes da CTPS, ainda que não constantes do CNIS do segurado, são dotadas de presunção relativa de veracidade, formando prova suficiente da relação de emprego e correspondente tempo de serviço, conforme preconiza a súmula 75 da TNU. 6. De acordo com a prova dos autos, o autor trabalhou, de modo habitual e permanente, não ocasional, nem intermitente, sujeito às seguintes condições: 07/08/1973 a 15/09/1974, 16/10/1974 a 23/10/1975, 24/10/1975 a 01/04/1976, 12/04/1976 a 16/08/1977, 01/09/1977 a 30/11/1979, exposto a ruídos superiores ao limite de tolerância e de 06/03/1997 a 31/12/1998, exposto a radiação ionizante, agente qualificado como especial, nos termos item 1.1.3 do anexo I do Decreto 83.080/79; item 2.0.3 do anexo IV do Decreto 2.172/97 e item 2.0.3 do anexo IV do Decreto 3.048/99. conforme CTPS de fl. 41, PPP de fl. 122 e Laudo Técnico Pericial de fl. 123. 7. Em consonância com o entendimento pacificado pelo STJ, deve-se considerar como agressiva à saúde a exposição ao agente ruído em nível superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto nº 53.831/64, ou seja, até 05/03/1997; superior a 90 decibéis, na vigência do Decreto nº 2.172/1997 (período de 06/03/1997 a 18/11/2003); e superior a 85 decibéis, a partir da edição do Decreto nº 4.882/2003 (a partir de 19/11/2003) e art. 280 da IN INSS/PRES 77/2015. 8. A jurisprudência pacífica do e. TRF da 1ª Região já assentou que a extemporaneidade dos documentos fornecidos pela empresa, quais sejam formulários, PPP's, laudos técnicos e outros, não afasta o reconhecimento do tempo especial quando comprovado o exercício da atividade em condições especiais (AC 0008230-25.2007.4.01.3200/AM, Rel. Juiz Federal Warney Paulo Nery Araujo (conv.), Primeira Turma, e-DJF1 de 19/05/2016; AC 0066812-56.2010.4.01.3800/MG, Rel. Juiz Federal Marcelo Motta de Oliveira, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Juiz de Fora, e-DJF1 de 10/03/2016). 9. O fornecimento de EPI ao autor é irrelevante, pois o uso de equipamentos de proteção coletiva ou individual não é suficiente para neutralizar a nocividade do ruído (quando acima dos limites de tolerância), sendo este o entendimento firmado pelo STF no julgamento do Agravo (ARE) 664335/SC, com repercussão geral reconhecida. Portanto, a presunção (relativa) é de ineficácia do EPI no caso de ruído acima do limite de tolerância, cabendo a prova desconstitutiva dessa presunção ao INSS (art. 373, II, do CPC/2015). 10. Ressalta-se, conforme aduzido alhures, que a radiação ionizante é agente confirmadamente carcinogênico para humanos (Portaria Interministerial MTE/MS/MPS 9, de 07/10/2014), de modo que a simples presença desse agente no ambiente de trabalho já é suficiente para a comprovação da efetiva exposição do trabalhador, nos termos do § 4º do art. 68 do Decreto 3.048/99. Logo, não se sujeita a limite de tolerância e o uso de equipamentos de proteção coletiva ou individual é irrelevante, uma vez que há presunção (relativa) de que estes equipamentos não são suficientes para neutralizar completamente a nocividade decorrente da exposição a agentes cancerígenos. 11. Insurge-se o autor contra o capítulo da sentença que fixou os honorários advocatícios no valor fixo de R$ 1.000,00 (mil reais). Pugna pela majoração dos honorários para, pelo menos, 20% (quinze por cento) do valor da condenação. Assiste razão, em parte, ao apelante. 12. Considerando-se que, no presente caso, a sentença, ora confirmada, condenou o INSS à concessão do benefício de aposentadoria e ao pagamento dos atrasados desde o requerimento administrativo, a verba honorária há que tomar por base o disposto no §3º do art. 20, que estipula um percentual entre 10% (dez por cento) e 20% (vinte por cento) incidente sobre o valor da condenação. 13. No presente caso, tendo em vista que, a despeito da demora na tramitação processual, a causa não apresenta grande complexidade, não demandando atuação além do razoável por parte do advogado do autor, entendo por bem fixar os honorários no patamar mínimo de 10% previsto no art. 20, §3º, do CPC/1973, em vigor à época da prolação da sentença, observando-se, como base de cálculo o valor da condenação, conforme preconiza a súmula 111 do STJ. 14. Apelação do INSS a que se nega provimento. Apelação do autor a que se dá parcial provimento. (AC 0005290-49.2011.4.01.3814, JUIZ FEDERAL GUILHERME BACELAR PATRÍCIO DE ASSIS, TRF1 - 2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 17/09/2021 PAG.)

PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. ATIVIDADE PRESTADA EM CONDIÇÕES INSALUBRES. RADIAÇÃO IONIZANTE (RAIOS X). AGENTES BIOLÓGICOS. AVALIAÇÃO QUALITATIVA. USO DE EPI, IRRELEVÂNCIA. TEMPO SUFICIENTE PARA A CONCESSÃO DA APOSENTADORIA ESPECIAL. BENEFÍCIO DEVIDO. CONSECTÁRIOS LEGAIS. SENTENÇA MANTIDA EM SUA ESSÊNCIA. 1. Na esteira da jurisprudência desta Corte, não há que se falar em inadequação do mandado de segurança em tema de reconhecimento de tempo de serviço especial e concessão do benefício previdenciário correspondente. 2. O PPP anexado aos autos comprova que o impetrante, durante o exercício do cargo de técnico em fotografia, nos períodos de 01/08/1978 a 22/08/1988, 01/03/1989 a 18/08/1993 e 01/12/1994 a 31/08/2002, auxiliava nos exames que eram efetuados no setor de hemodinâmica com o uso de radiação ionizante (raio X), o qual se trata de agente reconhecidamente cancerígeno cuja nocividade, independentemente do anexo do Decreto a ser utilizado, é qualitativa, tendo em vista que os efeitos tóxicos das radiações ionizantes nos seres humanos representam um risco à saúde independentemente da dose recebida (AC 2007.38.15.000699-6/MG, Juiz Federal Rodrigo Rigamonte Fonseca, 1º CRP/MG, DJe de 02/12/2015). 3. A atividade profissional com exposição a agentes biológicos é considerada nociva à saúde, em conformidade com o Código 1.3.2 do Anexo do Decreto nº 53.831/64; Código 1.3.4 do Decreto nº 83.080/1979; Código 3.0.1 do Anexo IV do Decreto nº 2.172/1997; e Código 3.0.1 do Anexo IV do Decreto nº 3.084/1999. 4. No caso concreto, o PPP também confirma que no período de 01/09/2002 a 05/07/2005 o impetrante, no desempenho do cargo de técnico de radiologia- cuja função precípua consistia na realização de exames de raio X (radiação ionizante)-, também estivera exposto a diversos microorganismos (vírus, bactérias, fungos, e bacilos.), os quais constituem agentes biológicos infectocontagiosos expressamente elencados nas normas regulamentares mencionadas anteriormente. 5. Afasta-se a alegação da autarquia previdenciária no sentido de que o reconhecimento do caráter insalubre da atividade somente se aplica aos profissionais de saúde lotados em unidades hospitalares, em contato efetivo com pacientes portadores de doenças infectocontagiosas ou com materiais contaminados, haja vista que a legislação previdenciária não estabelece tais condicionantes, bastando a exposição do segurado a fatores de risco biológico durante a jornada de trabalho correspondente, tal como demonstrado na espécie. 6. Para os agentes nocivos biológicos não há estabelecimento de nível máximo de tolerância pela legislação de regência, sendo suficiente a simples constatação de sua presença (análise qualitativa) para ser caracterizada a nocividade, tampouco a exposição precisa ocorrer durante toda a jornada de trabalho, uma vez que basta o contato de forma eventual para que haja risco de contração de doenças. 7. A mera indicação do uso eficaz de EPI não descaracteriza a especialidade da atividade exposta a agentes biológicos, pois não neutraliza totalmente os efeitos nocivos da exposição. A propósito: STJ, REsp1515053 RS 2015/0027992-2, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Publicação DJ 09/03/2015; TRF1, AC 0002108-12.2011.4.01.3311/BA, Rel. JUIZ FEDERAL SAULO JOSÉ CASALI BAHIA, 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DA BAHIA, e-DJF1 de 16/05/2016. 8. Com a confirmação da especialidade do labor exercido nos períodos reconhecidos na sentença, o impetrante perfaz mais de 25 anos de serviço todo especial, o que lhe confere o direito líquido e certo à concessão da aposentadoria especial desde a data do requerimento administrativo 9. Em se tratando de mandado de segurança, embora o benefício seja devido a partir da data do requerimento administrativo, os efeitos financeiros da concessão retroagem a partir da impetração, ressalvando-se as vias ordinárias para cobrança das parcelas vencidas entre a data do requerimento administrativo e a impetração deste mandamus (Súmulas 269 e 271 do STF). 10. Juros de mora e correção monetária sobre as parcelas vencidas a partir da impetração, em consonância com o Manual de Cálculo da Justiça Federal até o advento da Lei 11.960/09, observados a partir de então os critérios definidos pelo STF no julgamento do RE 870.947/SE (Repercussão geral, Tema 810). 11. Sem condenação em honorários advocatícios (art. 25, Lei 12.016/2009) e isenção de custas processuais, nos termos da lei. 12. Apelação do INSS desprovida. Remessa necessária parcialmente provida (item 9).(AMS 0040868-81.2012.4.01.3800, JUIZ FEDERAL MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, TRF1 - 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, PJe 24/08/2021 PAG.)

Por fim, considerando que todos os períodos reconhecidos em sentença têm a especialidade definida pela exposição a radiação ionizante, considero dispensável a discussão acerca dos demais fatores, como agentes biológicos.

Por tudo isso, não há qualquer reparo a ser feito na sentença.

Assim, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO.

Majoro em um ponto percentual o valor devido pelo INSS a título de honorários de sucumbência.

É o voto.

Desembargador Federal URBANO LEAL BERQUÓ NETO

Relator

 


Brasão Tribunal Regional Federal
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

Gab. 25 - DESEMBARGADOR FEDERAL URBANO LEAL BERQUÓ NETO

PROCESSO: 1001449-77.2020.4.01.3308  PROCESSO REFERÊNCIA: 1001449-77.2020.4.01.3308
CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) 
POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
POLO PASSIVO:ALEXANDRE KALIL CASTANHEIRA ALEXANDRE
REPRESENTANTES POLO PASSIVO: ALUIZIO BRITO DE CARVALHO - BA18140-A e DANIELA ALMEIDA SILVANY LIMA - BA49699-A

 

E M E N T A

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. SENTENÇA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NOS PPP’S JUNTADOS PELO AUTOR. MÉDICO RADIOLOGISTA. EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO IONIZANTE. AGENTE CANCERÍGENO. NÃO SUJEIÇÃO A LIMITE DE TOLERÂNCIA. IRRELEVÂNCIA DO FORNECIMENTO DE EPI. SENTENÇA MANTIDA.

1. Não deve ser acolhida alegação de nulidade da sentença por ausência de fundamentação, já que todos os períodos enquadrados como especiais foram baseados nos Perfis Profissiográficos juntados aos autos.

2. A caracterização do tempo de serviço especial obedece à legislação vigente à época em que foi efetivamente executado o trabalho (interpretação do tema 694 do STJ). Tem-se, portanto, que no período de vigência dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 a especialidade da atividade se dava por presunção legal, de modo que bastava a informação acerca da profissão do segurado para lhe assegurar a contagem de tempo diferenciada. A partir da edição da Lei n.º 9.032/95, o enquadramento de tempo especial passou a depender de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho permanente em atividades com efetiva exposição a agentes nocivos. Por fim, a partir da edição do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico.

3. A radiação ionizante é agente reconhecidamente cancerígeno (Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 9, de 07 de outubro de 2014) e não se sujeita a limite de tolerância, nem há equipamento de proteção individual ou coletiva capaz de neutralizar a sua nocividade (art. 284, parágrafo único, da Instrução Normativa INSS/PRES 77/2015). Precedentes, inclusive do TEMA 170 da TNU (A redação do art. 68, § 4º, do Decreto 3.048/99 dada pelo Decreto 8.123/2013 pode ser aplicada na avaliação de tempo especial de períodos a ele anteriores, incluindo-se, para qualquer período: (1) desnecessidade de avaliação quantitativa; e (2) ausência de descaracterização pela existência de EPI".).

4. Apelação não provida.

A C Ó R D Ã O

Decide a Nona Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO à apelação, nos termos do voto do Relator.

Desembargador Federal URBANO LEAL BERQUÓ NETO

Relator

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