
POLO ATIVO: MARIA LUIZA CARDOSO DUARTE e outros
REPRESENTANTE(S) POLO ATIVO: DORISLENE MENDONCA DA CUNHA FERREIRA - RO2041
POLO PASSIVO:INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS e outros
REPRESENTANTE(S) POLO PASSIVO: DORISLENE MENDONCA DA CUNHA FERREIRA - RO2041
RELATOR(A):JOAO LUIZ DE SOUSA

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 6 - DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA
Processo Judicial Eletrônico
APELAÇÃO CÍVEL (198) 1028003-89.2019.4.01.9999
RELATÓRIO
O EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA (RELATOR):
Trata-se de apelações em face de sentença que julgou procedente o pedido contido na inicial, condenando a autarquia federal a conceder à parte autora o benefício previdenciário de aposentadoria por invalidez, desde a data do último requerimento administrativo.
O INSS, em sua apelação alega que a autora omitiu informações e que não possui a qualidade de segurada especial. Aduz que o esposo da requerente exerce atividade empresarial, possui endereço urbano e veículos em seu nome. Assim, requer a improcedência dos pedidos e condenação da autora em litigância de má-fe.
Em suas razões de recorrer, por sua vez, a autora requereu, em síntese, que o termo inicial do benefício fosse fixado na data da cessação administrativa e a verba honorária advocatícia seja fixada considerando todo o valor da condenação, sem delimitar a data da sentença como termo final para o cálculo.
Contrarrazões apresentadas.
É o relatório.

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 6 - DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA
Processo Judicial Eletrônico
APELAÇÃO CÍVEL (198) 1028003-89.2019.4.01.9999
VOTO
O EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA (RELATOR):
Presentes os pressupostos de admissibilidade, recebo a apelação no efeito devolutivo (arts. 1.011 e 1.012 do CPC).
Pretende a parte autora a concessão/restabelecimento do benefício de auxílio-doença e/ou aposentadoria por invalidez rural.
A aposentadoria por invalidez será concedida, nos termos do art. 42 da Lei n. 8.213/1991, ao segurado que, estando ou não em gozo do auxílio-doença, for considerado incapaz para o trabalho, de forma total e permanente, e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e será paga enquanto permanecer nessa situação.
A concessão do benefício de aposentadoria por invalidez para trabalhador rural, segurado especial, independe do cumprimento de carência, entretanto, quando os documentos não forem suficientes para a comprovação dos requisitos previstos em lei – prova material plena (art. 39, I c/c 55, § 3º, da Lei 8.213/91), exige-se a comprovação do início de prova material da atividade rural com a corroboração dessa prova indiciária por prova testemunhal.
O auxílio-doença será devido ao segurado empregado, cf. art. 60 da Lei n. 8.213/1991, a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapacitado para o trabalho. Neste caso, a incapacidade é parcial e temporária.
A incapacidade para o trabalho, especialmente no caso do trabalhador rural, deve ser aferida considerando-se as suas condições pessoais e as atividades por ele desempenhadas, daí resultando que os trabalhadores com baixa instrução e/ou que ao longo da vida desempenharam atividades que demandassem esforço físico e que não mais puderem a ele se submeter devem ser considerados como incapacitados, não lhes sendo exigida a reabilitação em outra atividade dissociada do histórico profissional até então exercido.
No tocante à prova do labor rural, cumpre registrar que o eg. Superior Tribunal de Justiça adotou, em matéria previdenciária, a solução pro misero.
Assim sendo, não há um rol taxativo dos documentos necessários, sendo possível aceitar como início razoável de prova material documentos públicos como, por exemplo, Certidão de Casamento, Certidão de Óbito do cônjuge, Certidão de Nascimento de filhos, Certificado de Reservista etc, nos quais esteja especificada a profissão da parte autora ou de seu cônjuge como trabalhador rural.
Nesse sentido o entendimento manifestado no julgamento REsp 267.355/MS, relatado pelo Ministro Jorge Scartezzini, publicado no DJ 20.11.2000, do seguinte teor: “A qualificação profissional de lavrador ou agricultor do marido, constante dos assentamentos de registro civil, é extensível à esposa, e constitui indício aceitável de prova material do exercício da atividade rural...”.
Muito embora a jurisprudência tenha flexibilizado o posicionamento no tocante aos documentos que podem servir como início de prova documental, a jurisprudência já firmou entendimento de que não possuem integridade probante documentos confeccionados em momento próximo ao ajuizamento da ação ou ao implemento do requisito etário, produzidos tão somente com o intuito de servir como meio de prova em ações de índole previdenciária. Não são aceitos como início de prova material, assim, certidões de cartório eleitoral com anotação da profissão da parte autora, prontuários médicos, certidões relativas à filiação à sindicatos de trabalhadores rurais etc contemporâneos ao ajuizamento da ação.
Saliente-se, ainda, que documentos que, em regra são aceitos como início de prova documental, como certidões de casamento com anotação da profissão da parte autora ou de seu cônjuge, podem ter sua eficácia afastada pelo conjunto probatório dos autos como na hipótese em que comprovada a existência de vínculos urbanos de longa duração da parte ou de seu cônjuge, o que ilide a condição de trabalhador rural em regime de economia familiar ou quando demonstrada a condição de produtor rural de relevante quilate, que não se coaduna com a pretensa vulnerabilidade social do trabalhador nas lides campesinas.
Na hipótese, segundo o laudo judicial, a parte autora é portadora de lombalgia crônica com espondilodiscartrose lombar (moderada) e cervicalgia crônica com espondilodiscartrose (moderada), que a incapacita de forma parcial e permanente para suas atividades laborativas, notadamente, o labor rural, sendo fixada a data de início da incapacidade em novembro de 2016. No que concerne à qualidade de segurada especial da parte autora, esta restou devidamente comprovada, conforme os documentos catalogados ao feito: certidão de casamento (34852521 - Pág. 1); contrato de comodato datado de 2015 (34852525 - Pág. 2); comprovante de endereço com endereço rural (34852525 - Pág. 1); notas de compra de produtos agrícolas em nome de seu esposo, anos 2009, 2011, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018); ficha de atendimento de saúde da autora com endereço rural (34852529 - Pág. 1); cadastro de produtor rural do esposo, com data de 31/01/2000 (34852530 - Pág. 1); formulário de requerimento de regularização fundiária em nome da filha da autora, datado de 04/05/11 (34852530 - Pág. 3); ficha de atualização cadastral de imóvel rural em nome do esposo, datada de 17/01/08 (34852531 - Pág. 1); documento da EMATER, denominado cadastro do produtor de agricultura familiar, anos de 2008 a 2010 (34852532 - Pág. 2).
De tais documentos, evidencia-se o efetivo exercício de labor rural pela parte requerente. Tendo em conta, outrossim, as condições pessoais e socioeconômicas desfavoráveis à requerente, bem assim a impossibilidade de concorrência frente ao exigente mercado de trabalho, deve lhe ser concedida a aposentadoria por invalidez, estando a segurada obrigada a se sujeitar ao exame médico-pericial periódico, consoante estabelecido no art. 70 da Lei n. 8.212/1991, ainda que o direito ao benefício tenha sido assegurado apenas em juízo, ressalvando-se, todavia, as hipóteses previstas no art. 101 da Lei n. 8.213/1991.
No que concerne à data de início do benefício esta deve ser fixada na data da cessação administrativa do auxílio-doença concedido anteriormente (25/02/18), visto que presentes os requisitos à época. Devem, ainda, ser descontados eventuais importes recebidos, no mesmo período, a título de benefício inacumulável.
Quanto aos honorários, a jurisprudência deste Tribunal é pacífica no sentido de que, nas ações previdenciárias, os honorários advocatícios devem ser fixados em percentual incidente sobre o valor das parcelas vencidas até a prolação da sentença de procedência do pedido, nos termos da Súmula 111 do egrégio STJ, tendo sido esse o entendimento adotado pela sentença.
No mais, inexiste substrato fático-jurídico à condenação da parte autora em litigância de má-fé, na medida em que a jurisprudência desta Corte é assente que a configuração da litigância de má-fé exige a comprovação do dolo ou a intenção de dano processual, o que não restou caracterizado nos autos.
Por fim, sem honorários recursais, na forma do art. 85, § 11º, do CPC porquanto não preenchidos os requisitos simultâneos fixados pelo Superior Tribunal de Justiça para sua aplicação (cf. AgInt nos EREsp 1539725/DF, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/08/2017, DJe 19/10/2017).
Posto isso, dou parcial provimento à apelação da autora, para fixar a data de início do benefício na data da cessação administrativa do auxílio-doença e nego provimento à apelação do INSS, nos termos da presente fundamentação.
É como voto.

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 6 - DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA
Processo Judicial Eletrônico
APELAÇÃO CÍVEL (198) 1028003-89.2019.4.01.9999
APELANTE: MARIA LUIZA CARDOSO DUARTE, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
Advogado do(a) APELANTE: DORISLENE MENDONCA DA CUNHA FERREIRA - RO2041
APELADO: MARIA LUIZA CARDOSO DUARTE, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
Advogado do(a) APELADO: DORISLENE MENDONCA DA CUNHA FERREIRA - RO2041
EMENTA
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. TRABALHADOR RURAL. CONDIÇÃO DE SEGURADO ESPECIAL COMPROVADA. LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO. INCAPACIDADE LABORAL. DATA DE INÍCIO DO BENEFÍCIO. DATA DA CESSAÇÃO ADMINISTRATIVA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CONFORMIDADE COM A SÚMULA 111 DO STJ. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
1. São requisitos para a concessão dos benefícios de aposentadoria por invalidez e de auxílio-doença: a qualidade de segurado da Previdência Social, com o preenchimento do período de carência de 12 (doze) contribuições mensais, salvo nas hipóteses previstas no art. 26, II, III e art. 39, I, ambos da Lei 8.213/91, e a comprovação de incapacidade para o exercício de atividade que garanta a subsistência (art. 42, § 1º e § 2º, da Lei 8.213/91), devendo essa incapacitação ser definitiva, para a aposentadoria por invalidez, e temporária, no caso do auxílio-doença.
2. A concessão do benefício de aposentadoria por invalidez para trabalhador rural, segurado especial, independe do cumprimento de carência, entretanto, quando os documentos não forem suficientes para a comprovação dos requisitos previstos em lei – prova material plena (art. 39, I c/c 55, § 3º, da Lei 8.213/91), exige-se a comprovação do início de prova material da atividade rural com a corroboração dessa prova indiciária por prova testemunhal.
3. Na hipótese, segundo o laudo judicial, a parte autora é portadora de lombalgia crônica com espondilodiscartrose lombar (moderada) e cervicalgia crônica com espondilodiscartrose (moderada), que a incapacita de forma parcial e permanente para suas atividades laborativas, notadamente, o labor rural, sendo fixada a data de início da incapacidade em novembro de 2016. No que concerne à qualidade de segurada especial da parte autora, esta restou devidamente comprovada, conforme os documentos catalogados ao feito: certidão de casamento (34852521 - Pág. 1); contrato de comodato datado de 2015 (34852525 - Pág. 2); comprovante de endereço com endereço rural (34852525 - Pág. 1); notas de compra de produtos agrícolas em nome de seu esposo, anos 2009, 2011, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018); ficha de atendimento de saúde da autora com endereço rural (34852529 - Pág. 1); cadastro de produtor rural do esposo, com data de 31/01/2000 (34852530 - Pág. 1); formulário de requerimento de regularização fundiária em nome da filha da autora, datado de 04/05/11 (34852530 - Pág. 3); ficha de atualização cadastral de imóvel rural em nome do esposo, datada de 17/01/08 (34852531 - Pág. 1); documento da EMATER, denominado cadastro do produtor de agricultura familiar, anos de 2008 a 2010 (34852532 - Pág. 2). De tais documentos, evidencia-se o efetivo exercício de labor rural pela parte requerente. Tendo em conta, outrossim, as condições pessoais e socioeconômicas desfavoráveis à requerente, bem assim a impossibilidade de concorrência frente ao exigente mercado de trabalho, deve lhe ser concedida a aposentadoria por invalidez, estando a segurada obrigada a se sujeitar ao exame médico-pericial periódico, consoante estabelecido no art. 70 da Lei n. 8.212/1991, ainda que o direito ao benefício tenha sido assegurado apenas em juízo, ressalvando-se, todavia, as hipóteses previstas no art. 101 da Lei n. 8.213/1991.
4. No que concerne à data de início do benefício esta deve ser fixada na data da cessação administrativa do auxílio-doença concedido anteriormente (25/02/18), visto que presentes os requisitos à época. Devem, ainda, ser descontados eventuais importes recebidos, no mesmo período, a título de benefício inacumulável.
5. Quanto aos honorários, a jurisprudência deste Tribunal é pacífica no sentido de que, nas ações previdenciárias, os honorários advocatícios devem ser fixados em percentual incidente sobre o valor das parcelas vencidas até a prolação da sentença de procedência do pedido, nos termos da Súmula 111 do egrégio STJ, tendo sido esse o entendimento adotado pela sentença.
6. Inexiste substrato fático-jurídico à condenação da parte autora em litigância de má-fé, na medida em que a jurisprudência desta Corte é assente que a configuração da litigância de má-fé exige a comprovação do dolo ou a intenção de dano processual, o que não restou caracterizado nos autos.
7. Sem honorários recursais, na forma do art. 85, § 11º, do CPC porquanto não preenchidos os requisitos simultâneos fixados pelo Superior Tribunal de Justiça para sua aplicação (cf. AgInt nos EREsp 1539725/DF, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/08/2017, DJe 19/10/2017).
8. Apelação do INSS desprovida. Apelação da autora parcialmente provida nos termos do item 4.
ACÓRDÃO
Decide a Segunda Turma do TRF da 1ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação do INSS e dar parcial provimento à apelação da autora, nos termos do voto do Relator.
Brasília - DF.
ASSINADO DIGITALMENTE
Desembargador Federal João Luiz de Sousa
Relator
