Processo
AI - AGRAVO DE INSTRUMENTO / SP
5000300-85.2019.4.03.0000
Relator(a)
Desembargador Federal PAULO SERGIO DOMINGUES
Órgão Julgador
7ª Turma
Data do Julgamento
29/07/2020
Data da Publicação/Fonte
e - DJF3 Judicial 1 DATA: 05/08/2020
Ementa
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. FASE DE CUMPRIMENTO. BENEFÍCIO
POR INCAPACIDADE. ATIVIDADE LABORATIVA. PERÍODO CONCOMITANTE. RECURSO
NÃO PROVIDO.
1. A legislação previdenciária em vigor estabelece que o exercício de atividade laborativa é
incompatível com o recebimento do benefício por incapacidade.
2. Diante do indeferimento de benefício, naturalmente, o segurado vê-se obrigado a permanecer
trabalhando para sobreviver - muitas vezes à custa da própria saúde -, considerando a
possibilidade de não obter êxito em seu pleito judicial. Assim, o fato de a parte autora ter
trabalhado para garantir a sua subsistência não descaracteriza a existência de incapacidade.
3. É indevida a desconsideração das parcelas vencidas nos períodos em que a parte autora
desempenhou suas atividades laborativas após o termo inicial do benefício judicialmente
concedido.
4. Agravo de instrumento não provido.
Acórdao
AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Nº5000300-85.2019.4.03.0000
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
RELATOR:Gab. 24 - DES. FED. PAULO DOMINGUES
AGRAVANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
AGRAVADO: JOYCE DE MACEDO FERREIRA
Advogados do(a) AGRAVADO: LUIZ DONIZETI DE SOUZA FURTADO - SP108908-N,
ALESSANDRA BAPTISTA DA SILVEIRA ESPOSITO - SP211155-A
OUTROS PARTICIPANTES:
AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Nº 5000300-85.2019.4.03.0000
RELATOR: Gab. 24 - DES. FED. PAULO DOMINGUES
AGRAVANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
AGRAVADO: JOYCE DE MACEDO FERREIRA
Advogados do(a) AGRAVADO: LUIZ DONIZETI DE SOUZA FURTADO - SP108908-N,
ALESSANDRA BAPTISTA DA SILVEIRA ESPOSITO - SP211155-A
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
Trata-se de agravo de instrumento interposto peloINSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL
- INSSem face de decisão proferida em fase de cumprimento do julgado.
O agravante sustenta, em síntese, que o exercício de atividade laboral é incompatível com o
recebimento de benefícios por incapacidade, razão pela qual devem ser descontados dos
cálculos de liquidação as competências em que a parte autora trabalhou em concomitância com o
período dos atrasados.
Requereu a concessão de efeito suspensivo. Requereu que, ao final, seja provido o recurso para
reformar a decisão agravada, extinguindo-se o processo, nos termos do artigo 924, II e III do
Código de Processo Civil, já que nada mais é devido em favor da autora, e, subsidiariamente,
suspendendo-se a execução, até decisão final do E. Supremo Tribunal Federal sobre o tema em
discussão.
O pedido de concessão de efeito suspensivo foi indeferido.
Intimada, a parte agravada não apresentou contrarrazões.
É o relatório.
AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Nº 5000300-85.2019.4.03.0000
RELATOR: Gab. 24 - DES. FED. PAULO DOMINGUES
AGRAVANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
AGRAVADO: JOYCE DE MACEDO FERREIRA
Advogados do(a) AGRAVADO: LUIZ DONIZETI DE SOUZA FURTADO - SP108908-N,
ALESSANDRA BAPTISTA DA SILVEIRA ESPOSITO - SP211155-A
OUTROS PARTICIPANTES:
V O T O
O título executivo condenou o INSS - Instituto Nacional do Seguro Social a arcar com o
pagamento do benefício deauxílio-doença desde a data do requerimento
administrativo(10/01/2017), acrescido dos consectários legais, bem como o condenou ao
pagamento dos honorários advocatícios, fixados estes em 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação, considerando as parcelas vencidas até a data da sentença. Houve a antecipação
dos efeitos da tutela para implantação do benefício previdenciário. A sentença foi proferida em
01/12/2017.
Em acórdão, o INSS foi condenado ao pagamento de honorários advocatícios arbitrados em 2%
do valor da condenação, na forma da Súmula STJ n° 111, em decorrência da sucumbência
recursal.
O trânsito em julgado ocorreu em 06/09/2018.
O NB 31/621.608.962-9 foi implantado com DER/DRD/DDB em 16/01/2018, DIP em 01/01/2018 e
DCB em 15/05/2018.
Iniciado o cumprimento do julgado (Autos n° 0001754-69.2018.8.26.0123 – formato digital),
aparte credoraapresentou conta de liquidação dos atrasados, referente ao período de01/2017 a
12/2017, no valor total deR$ 15.069,14, sendoR$ 13.699,22a título de principal eR$ 1.369,92a
título de honorários advocatícios, atualizados para 10/2018 (fls. 01/18 dos autos principais).
Em sua impugnação, oINSSalegou excesso de execução, porquanto não houve o desconto dos
períodos em que a parte credora trabalhou e recebeu a respectiva remuneração (01/2017 a
12/2017). Alega a ausência de valores a serem pagos em favor da parte credora, haja vista que
trabalhou em todo o período dos cálculos, sendo devida a extinção da execução (fls. 23/28 dos
autos principais).
O juízo de origem rejeitou a impugnação ao cumprimento do julgado, apresentada pelo INSS, e
homologou os cálculos apresentados pela exequente (fls. 35/36 dos autos principais).
Inconformado com a decisão acima, o INSS interpôs o presente recurso.
O extrato do CNIS (emitido em 09/11/2018) demonstra a existência de vínculo mantido entre a
parte agravada ea empresa AS APOIO EDUCACIONAL LTDA, iniciado em 03/10/2016 e com
última remuneração em 09/2018, na qualidade de empregada (fls. 27/28 dos autos principais).
Nesse contexto, não obstante o título executivo judicial não tenha disciplinado a questão relativa
ao desconto dos períodos em que houve o recolhimento previdenciário, tal questão repercute na
liquidação/cumprimento do julgado, de modo que é devida sua apreciação neste momento
processual.
Com efeito, os benefícios por incapacidade têm a finalidade de substituir a renda que o segurado
percebia no período em que exercia suas atividades laborais, devendo ser mantidos enquanto
perdurar o estado incapacitante.
O fato de a parte credora ter trabalhado para garantir a sua subsistência ou ter vertido
contribuições previdenciárias como contribuinte individual, em razão da não obtenção do auxílio-
doença pela via administrativa, contudo, não descaracteriza a existência de incapacidade.
Embora a legislação previdenciária em vigor (art. 46 da Lei nº 8.213/91) estabeleça que o
exercício de atividade laborativa é incompatível com o recebimento do benefício por incapacidade
e não obstante o segurado possa ter recolhido contribuições previdenciárias como contribuinte
individual, há que se considerar, naturalmente, que, diante do indeferimento de benefício, o
segurado vê-se obrigado a permanecer trabalhando para sobreviver – muitas vezes à custa da
própria saúde – ou impelido a verter contribuições para manter-se vinculado ao RGPS,
considerando a possibilidade de não obter êxito em seu pleito judicial.
Portanto, comprovados os requisitos legais, a parte credora faz jus aos atrasados da condenação,
ainda que, após o termo inicial do benefício judicialmente concedido, tenha efetivamente
desempenhado suas atividades laborativas ou vertido contribuições previdenciárias como
contribuinte individual.
Neste sentido, transcrevo os seguintes julgados:
"PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL. AGRAVO (CPC, ART. 557, §1º). AUXÍLIO-DOENÇA.
DEVOLUÇÃO DE VALORES. VÍNCULO EMPREGATÍCIO. I - Não há que se falar em desconto
das prestações vencidas no período em que a autora se manteve trabalhando, devido à
necessidade de subsistência, aguardando o deferimento da benesse pleiteada. II - A decisão
monocrática apreciou os documentos que instruíram a inicial, sopesando todos os elementos
apresentados, segundo o princípio da livre convicção motivada, concluindo que foi demonstrada a
incapacidade para o exercício atividade laborativa, suscetível da concessão de auxílio-doença. III
- Agravo (CPC, art. 557, §1º) interposto pelo réu improvido. (AC 00345955420154039999,
DESEMBARGADOR FEDERAL SERGIO NASCIMENTO, TRF3 - DÉCIMA TURMA, e-DJF3
Judicial 1 DATA:14/03/2016).
PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL - EMBARGOS À EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA
PÚBLICA - ATIVIDADE HABITUAL MANTIDA PARA SUBSISTÊNCIA DURANTE A VIGÊNCIA
DE BENEFÍCIO POR INCAPACIDADEDE. DESCONTO DO PERÍODO EM QUE O EXEQUENTE
RECEBEU SEGURO-DESEMPREGO - VALOR DA EXECUÇÃO DEFINIDO NOS TERMOS DO
ART. 569 DO CPC. AGRAVO DO ART. 557, § 1º, CPC. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE E ABUSO
DE PODER.
I - A manutenção da atividade habitual ocorre porque a demora na implantação do benefício
previdenciário, na esfera administrativa ou judicial, obriga o(a) trabalhador(a), apesar dos
problemas de saúde incapacitantes, a continuar a trabalhar para garantir a subsistência,
colocando em risco sua integridade física e agravando suas enfermidades. Portanto, o benefício é
devido também no período em que o autor exerceu atividade remunerada.
II - Os únicos benefícios da Previdência Social que podem ser acumulados com o seguro-
desemprego são a pensão por morte, o auxílio-reclusão e o auxílio-acidente, porque eles não têm
a função de substituir o salário do trabalhador. Caso ocorra o pagamento simultâneo, a Caixa
Econômica Federal (CEF), responsável pela liberação do seguro-desemprego, bloqueia o crédito,
após confirmado o recebimento de benefício pago pelo INSS.
III - O valor correto da execução, nos termos do art. 569 do CPC, foi definido na sentença e
mantido na decisão monocrática terminativa agravada.
IV - No agravo do art. 557, § 1º, do CPC, a controvérsia limita-se ao exame da ocorrência, ou
não, de flagrante ilegalidade ou abuso de poder, a gerar dano irreparável ou de difícil reparação
para a parte.
V - Razões recursais que não contrapõem tal fundamento a ponto de demonstrar o desacerto do
decisum, limitando-se a reproduzir argumento visando a rediscussão da matéria nele decidida.
VI - Agravo legal improvido.
(TRF 3ª Região, NONA TURMA, AC 0002256-71.2012.4.03.6111, Rel. DESEMBARGADORA
FEDERAL MARISA SANTOS, julgado em 15/02/2016, e-DJF3 Judicial 1 DATA:26/02/2016)
DIREITO PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO LEGAL. APOSENTADORIA
POR INVALIDEZ. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE LABORATIVA APÓS A CESSAÇÃO DO
AUXÍLIO-DOENÇA. DESCONTO DOS VALORES NO PERÍODO DO SUPOSTO TRABALHO.
IMPOSSIBILIDADE. LEI 11.960/09. APLICAÇÃO COM RELAÇÃO À CORREÇÃO MONETÁRIA.
AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. O fato da autora ter trabalhado ou voltado a trabalhar, por si só, não significa que tenha
recuperado a capacidade laborativa, uma vez que pode tê-lo feito por razão de extrema
necessidade e de sobrevivência, ainda mais se tratando de empregada doméstica, não obstante
incapacitada para tal.
2. A autora, que deveria ter sido aposentada por invalidez, porém continuou a contribuir após
referido período, em função de indevida negativa do benefício pelo INSS, não pode ser
penalizada com o desconto dos salários-de-contribuição sobre os quais verteu contribuições,
pois, se buscou atividade remunerada, por falta de alternativa, para o próprio sustento, em que
pese a incapacidade laborativa, no período em que a autarquia opôs-se ilegalmente ao seu
direito, não cabe ao INSS tirar proveito de sua própria conduta.
3. No que tange à correção monetária, devem ser aplicados os índices oficiais de remuneração
básica, a partir da vigência da Lei 11.960/09.
4. Agravo parcialmente provido."
(TRF 3ª Região, DÉCIMA TURMA, AgR 2011.03.99.036499-. Rel. Des. Federal Baptista Pereira,
julgado em 05/02/2013, e-DJF 3 Judicial DATA: 18/02/2013).
Seguindo tal linha de raciocínio, é indevida a desconsideração das parcelas vencidas nos
períodos em que a parte autora desempenhou suas atividades laborativas após o termo inicial do
benefício judicialmente concedido.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo de instrumento.
É o voto.
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. FASE DE CUMPRIMENTO. BENEFÍCIO
POR INCAPACIDADE. ATIVIDADE LABORATIVA. PERÍODO CONCOMITANTE. RECURSO
NÃO PROVIDO.
1. A legislação previdenciária em vigor estabelece que o exercício de atividade laborativa é
incompatível com o recebimento do benefício por incapacidade.
2. Diante do indeferimento de benefício, naturalmente, o segurado vê-se obrigado a permanecer
trabalhando para sobreviver - muitas vezes à custa da própria saúde -, considerando a
possibilidade de não obter êxito em seu pleito judicial. Assim, o fato de a parte autora ter
trabalhado para garantir a sua subsistência não descaracteriza a existência de incapacidade.
3. É indevida a desconsideração das parcelas vencidas nos períodos em que a parte autora
desempenhou suas atividades laborativas após o termo inicial do benefício judicialmente
concedido.
4. Agravo de instrumento não provido. ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Sétima Turma, por
unanimidade, decidiu negar provimento ao agravo de instrumento, nos termos do relatório e voto
que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA
