Processo
ApelRemNec - APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA / SP
5003917-51.2017.4.03.6102
Relator(a)
Desembargador Federal LUIZ DE LIMA STEFANINI
Órgão Julgador
8ª Turma
Data do Julgamento
23/11/2021
Data da Publicação/Fonte
DJEN DATA: 26/11/2021
Ementa
E M E N T A
APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO. PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA.
LIBERAÇÃO DE PARCELAS DE SEGURO-DESEMPREGO. SÓCIODE PESSOA JURÍDICA.
AUSÊNCIA DE RENDA. APELAÇÃO E REEXAME IMPROVIDOS
1. Apelação e reexame necessário emmandado de segurançaimpetrado contra suposto ato coator
praticado pelo MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, que indeferiu o pagamento das
parcelas do seguro-desemprego, sob o fundamento de que o(a) impetrante figuraria como
sócio(a) de empresa.
2. Contudo, é cediço que o simples fato de o(a) impetrante ter figurado como sócio(a) em
sociedade empresarial, não constitui, por si só, fundamentopara indeferimento do seguro
desemprego.
3.Com efeito,restou comprovado nos autos por meio da CTPS de ID 6549961e sentença
trabalhista de ID 6549962 que o(a) impetrante foi contratado(a) pela empresa "KATIA MAIRA P.
AMARAL ME"em 13.01.2016, tendo sido dispensado(a) em 10.01.2017, de maneira que recebeu
salários por mais de12 (doze) meses nos últimos 18 (dezoito) meses imediatamente anteriores à
data da suadispensa.
4. A demissão foi sem justa causa, conforme se extrai da sentença trabalhista referida -fl. 2
doID6549962.
5. Comprovou-se, ademais, que apesar de ser sócio(a) da empresa "TORNEADORA MEDEIROS
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
LTDA - ME", restou demonstrado pela Declaração Contábil de ID 6549965, emitida pela empresa
"Al Contabilidade", com firma reconhecida em Cartório,que referida empresa, apesar de
formalmente ativa na Receita Federal, estava na realidade inativa, já que há mais de cinco anos
sem movimentação financeira,não havendo contraprova nos autos pela Uniãode ter a impetrante
auferido qualquerreceita concomitantemente ao seu vínculo trabalhista, mesmo porquelaborava
como empregada no cargo debalconista em padaria, com carga horária de 44 horas semanais,
circunstância a corroborar a alegação de quehá muito tempo não mais se dedicava à empresa
referida, cuja atividade estaria encerrada desde o ano de 2012.
6. Apelação e reexame necessário improvidos.
Acórdao
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região
8ª Turma
APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº5003917-51.2017.4.03.6102
RELATOR:Gab. 29 - DES. FED. LUIZ STEFANINI
APELANTE: UNIÃO FEDERAL
APELADO: DANIELLY APARECIDA MEDEIROS
Advogado do(a) APELADO: CASSIA APARECIDA ROSSI - SP216273-A
OUTROS PARTICIPANTES:
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região8ª Turma
APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº5003917-51.2017.4.03.6102
RELATOR:Gab. 29 - DES. FED. LUIZ STEFANINI
APELANTE: UNIÃO FEDERAL
APELADO: DANIELLY APARECIDA MEDEIROS
Advogado do(a) APELADO: CASSIA APARECIDA ROSSI - SP216273-A
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
Trata-se de reexame necessário e de apelação interposta pela UNIÃO FEDERAL,emmandado
de segurançaimpetrado contra suposto ato coator praticado pelo MINISTÉRIO DO TRABALHO
E EMPREGO, que indeferiu o pagamento das parcelas do seguro-desemprego, sob o
fundamento de que o(a) impetrante figuraria como sócio(a) de empresa.
Em primeiro grau a segurança foi concedida para determinar à autoridade impetrada que libere
em favor do(a) impetrante todas as parcelas do seguro-desemprego.
Apela a União aduzindo quea impetrante é sócia de uma empresa que se encontra ativa na
Receita Federal, consoante documento anexo a este recurso. Afirma que: "Reitera-se
queenquanto a empresa não for submetida aos procedimentos administrativos e fiscais de baixa
perante os órgãos competentes, mesmo que esta não esteja proporcionando lucros para o
empresário, não há descaracterização da condição jurídica da empresa, ou seja, ela continua
com o status deempresa ativa, e, portanto, seus sócios não se encontram na condição de
desempregados".
Requer, pois, o provimento à apelação, com a denegação da segurança.
Contrarrazões pelo desprovimento do apelo.
O Ministério Público Federal manifestou-se pelo prosseguimento do feito sem a sua
intervenção.
É o relatório.
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região8ª Turma
APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº5003917-51.2017.4.03.6102
RELATOR:Gab. 29 - DES. FED. LUIZ STEFANINI
APELANTE: UNIÃO FEDERAL
APELADO: DANIELLY APARECIDA MEDEIROS
Advogado do(a) APELADO: CASSIA APARECIDA ROSSI - SP216273-A
OUTROS PARTICIPANTES:
V O T O
Dispõem os artigos 2º e 3º da Lei nº 7.998/90:
"Art. 2º O programa do seguro-desemprego tem por finalidade:
I - prover assistência financeira temporária ao trabalhador desempregado em virtude de
dispensa sem justa causa, inclusive a indireta, e ao trabalhador comprovadamente resgatado
de regime de trabalho forçado ou da condição análoga à de escravo;
II - auxiliar os trabalhadores na busca ou preservação do emprego, promovendo, para tanto,
ações integradas de orientação, recolocação e qualificação profissional.
Art. 3º Terá direito à percepção do seguro-desemprego o trabalhador dispensado sem justa
causa que comprove:
I - ter recebido salários de pessoa jurídica ou de pessoa física a ela equiparada, relativos a:
(Redação dada pela Lei nº 13.134, de 2015)
a) pelo menos 12 (doze) meses nos últimos 18 (dezoito) meses imediatamente anteriores à
data de dispensa, quando da primeira solicitação; (Incluído pela Lei nº 13.134, de 2015)
b) pelo menos 9 (nove) meses nos últimos 12 (doze) meses imediatamente anteriores à data de
dispensa, quando da segunda solicitação; e (Incluído pela Lei nº 13.134, de 2015)
c) cada um dos 6 (seis) meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando das
demais solicitações;
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.134, de 2015)
III - não estar em gozo de qualquer benefício previdenciário de prestação continuada, previsto
no Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, excetuado o auxílio-acidente e o auxílio
suplementar previstos na Lei nº 6.367, de 19 de outubro de 1976, bem como o abono de
permanência em serviço previsto na Lei nº 5.890, de 8 de junho de 1973;
IV - não estar em gozo do auxílio-desemprego; e
V - não possuir renda própria de qualquer natureza suficiente à sua manutenção e de sua
família.
VI - matrícula e frequência, quando aplicável, nos termos do regulamento, em curso de
formação inicial e continuada ou de qualificação profissional habilitado pelo Ministério da
Educação, nos termos do art. 18 da Lei no 12.513, de 26 de outubro de 2011, ofertado por meio
da Bolsa-Formação Trabalhador concedida no âmbito do Programa Nacional de Acesso ao
Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), instituído pela Lei no 12.513, de 26 de outubro de 2011,
ou de vagas gratuitas na rede de educação profissional e tecnológica. (Incluído pela Lei nº
13.134, de 2015)".
No caso dos autos, o indeferimento do benefício deveu-se ao fato de o(a) impetrante possuir
renda própria, na condição de sócio(a) de empresa.
Contudo, é cediço que o simples fato de o(a) impetrante ter figurado como sócio(a) em
sociedade empresarial, não constitui, por si só, fundamentopara indeferimento do seguro
desemprego.
Com efeito,restou comprovado nos autos por meio da CTPS de ID 6549961e sentença
trabalhista de ID 6549962 que o(a) impetrante foi contratado(a) pela empresa "KATIA MAIRA P.
AMARAL ME"em 13.01.2016, tendo sido dispensado(a) em 10.01.2017, de maneira que
recebeu salários por mais de12 (doze) meses nos últimos 18 (dezoito) meses imediatamente
anteriores à data da suadispensa.
A demissão foi sem justa causa, conforme se extrai da sentença trabalhista referida -fl. 2
doID6549962.
Comprovou-se, ademais, que apesar de ser sócio(a) da empresa "TORNEADORA MEDEIROS
LTDA - ME", restou demonstrado pela Declaração Contábil de ID 6549965, emitida pela
empresa "Al Contabilidade", com firma reconhecida em Cartório,que referida empresa, apesar
de formalmente ativa na Receita Federal, estava na realidade inativa, já que há mais de cinco
anos sem movimentação financeira,não havendo contraprova nos autos pela Uniãode ter a
impetrante auferido qualquerreceita concomitantemente ao seu vínculo trabalhista, mesmo
porquelaborava como empregada no cargo debalconista em padaria, com carga horária de 44
horas semanais, circunstância a corroborar a alegação de quehá muito tempo não mais se
dedicava à empresa referida, cuja atividade estaria encerrada desde o ano de 2012.
Por fim, mesmo tendo sido devidamente intimada, a União não se manifestou acerca da
Declaração Contábil supra referida.
Quanto ao tema, o§ 4º do artigo 3º, da Lei 7.998/90, aqui aplicável por analogia, assim dispõe:
"§ 4o O registro como Microempreendedor Individual - MEI, de que trata o art. 18-A da Lei
Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, não comprovará renda própria suficiente à
manutenção da família, exceto se demonstrado na declaração anual simplificada da
microempresa individual". (Incluído pela Lei Complementar nº 155, de 2016)
Sobre o tema, colaciono os seguintes precedentes:
"PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. SEGURO-DESEMPREGO.
- Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, objetivando, em síntese, a
liberação do pagamento de parcelas de seguro-desemprego à parte autora, negado em razão
da constatação de que era sócio de uma pessoa jurídica inativa.
- A ação foi instruída com documentos, destacando-se os seguintes: distrato social da empresa
Rocha e Novaes Informática Ltda, da qual o impetrante era sócio, constando a data de abertura
em 14.02.2005 e encerramento das operações em 31.12.2005; comprovante de inscrição no
CNPJ da referida empresa, constando a situação cadastral "baixada"; termo de rescisão do
contrato de trabalho, sem justa causa, em nome do impetrante, com vínculo empregatício
iniciado em 13.04.2006 junto ao Itaú Unibanco S/A e encerrado em 15.07.2015.
- O simples fato de o impetrante ter figurado como sócio em sociedade empresarial, não
constitui fundamento para indeferimento do seguro desemprego. Os documentos anexados aos
autos comprovam que o impetrante foi proprietário da empresa Rocha e Novaes Informática
Ltda, de 14.02.2005 a 31.12.2005, portanto, quando foi contratado em 13.04.2006, a empresa
já estava inativa.
- Devido o seguro desemprego em razão do término do vínculo perante o Itaú Unibanco S/A em
15.07.2015.
- Reexame necessário improvido. Apelação da União Federal improvida."
(TRF3, Apelação/ Remessa Necessária nº 0011489-86.2016.4.03.6100/SP, Oitava Turma, Rel.
Des. Federal Tânia Marangoni, j. 10/7/17, v.u., e-DJF3 Judicial I 25/7/17).
PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. LIBERAÇÃO DE PARCELAS DE SEGURO-
DESEMPREGO. SÓCIODE ASSOCIAÇÃO CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. AUSÊNCIA DE
RENDA.
I- O seguro desemprego é um benefício constitucionalmente previsto visando prover assistência
financeira temporária ao trabalhador dispensado involuntariamente. O impetrante comprovou
seu vínculo empregatício por meio de cópia de sua CTPS, a dispensa imotivada, bem como o
requerimento do seguro desemprego.
II- A Lei nº 7.998/90 que regula o programa do seguro desemprego, dispôs em seu art. 3º,
vigente à época do desligamento do impetrante, que faria jus ao benefício o trabalhador
dispensado sem justa causa que comprovasse não possuir renda própria de qualquer natureza
suficiente à sua manutenção e de sua família.
III- Conforme as informações constantes do extrato do portal do Ministério do Trabalho e
Emprego referente à situação do requerimento formal, juntado a fls. 30 (id. 102329491 – pág.
27), existe notificação para restituir as 1ª e 2ª parcelas do benefício, e a não liberação das
demais, em razão de o sistema comunicar a existência de "Renda Própria – Sócio de Empresa.
Data de Inclusão do Sócio: 29/04/2006, CNPJ: 07.953.889/0001-70".
IV- Contudo, como bem asseverou o MM. Juiza quofls. 92 (id. 102329491 – pág. 89),
"(...)também restou comprovado que o requerente foi empossado no cargo de Diretor
do"Grêmio dos Funcionários da Santa Casa de Misericórdia de Pereira Barreto - GFUSC",
CNPJ 07.953.889/0001-70, em 18/01/2006, com Ata registrada em 20/04/ 2006 (fls. 37/39). Tal
entidade é uma associação civilsem fins lucrativos, o que pode ser verificado tanto por simples
pesquisa junto ao website da Receita Federal (fls. 27) como pelos documentos anexados àsfls.
30/36. Isso é corroborado pelo disposto no art. 18 do "Estatuto da Associação dos Funcionários
da Santa Casa de Misericórdia de Pereira Barreto" (fls. 43), bem como no art. 25 do 'Estatuto do
Grémio dos Funcionários da Santa Casa de Misericórdia de Pereira Barreto" (fls. 53), visto que
ambos os dispositivos determinam que nenhum membro da Diretoria será remunerado em
razão de suas funções, disso decorrendo logicamente que o requerente não possuía qualquer
renda auferida desta entidade, o que lhe garante o direito à fruição do seguro-desemprego em
razão da cessação do vínculo empregatício dantes noticiado".
V- A simples condição de ser sócio de pessoa jurídica não constitui óbice ao recebimento do
seguro desemprego, quando há a comprovação de inexistência de renda decorrente do
exercício da empresa.
VI- Remessa oficial improvida.
(TRF3,REMESSA NECESSÁRIA CÍVEL Nº0000478-46.2016.4.03.6137,RELATOR:DES. FED.
NEWTON DE LUCCA, 8ª Turma, Julgado em 07.12.2020).
Ante todo o exposto, nego provimento à apelação da UNIÃO e à remessa necessária.
É o voto.
E M E N T A
APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO. PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA.
LIBERAÇÃO DE PARCELAS DE SEGURO-DESEMPREGO. SÓCIODE PESSOA JURÍDICA.
AUSÊNCIA DE RENDA. APELAÇÃO E REEXAME IMPROVIDOS
1. Apelação e reexame necessário emmandado de segurançaimpetrado contra suposto ato
coator praticado pelo MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, que indeferiu o pagamento
das parcelas do seguro-desemprego, sob o fundamento de que o(a) impetrante figuraria como
sócio(a) de empresa.
2. Contudo, é cediço que o simples fato de o(a) impetrante ter figurado como sócio(a) em
sociedade empresarial, não constitui, por si só, fundamentopara indeferimento do seguro
desemprego.
3.Com efeito,restou comprovado nos autos por meio da CTPS de ID 6549961e sentença
trabalhista de ID 6549962 que o(a) impetrante foi contratado(a) pela empresa "KATIA MAIRA P.
AMARAL ME"em 13.01.2016, tendo sido dispensado(a) em 10.01.2017, de maneira que
recebeu salários por mais de12 (doze) meses nos últimos 18 (dezoito) meses imediatamente
anteriores à data da suadispensa.
4. A demissão foi sem justa causa, conforme se extrai da sentença trabalhista referida -fl. 2
doID6549962.
5. Comprovou-se, ademais, que apesar de ser sócio(a) da empresa "TORNEADORA
MEDEIROS LTDA - ME", restou demonstrado pela Declaração Contábil de ID 6549965, emitida
pela empresa "Al Contabilidade", com firma reconhecida em Cartório,que referida empresa,
apesar de formalmente ativa na Receita Federal, estava na realidade inativa, já que há mais de
cinco anos sem movimentação financeira,não havendo contraprova nos autos pela Uniãode ter
a impetrante auferido qualquerreceita concomitantemente ao seu vínculo trabalhista, mesmo
porquelaborava como empregada no cargo debalconista em padaria, com carga horária de 44
horas semanais, circunstância a corroborar a alegação de quehá muito tempo não mais se
dedicava à empresa referida, cuja atividade estaria encerrada desde o ano de 2012.
6. Apelação e reexame necessário improvidos.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Oitava Turma, por
unanimidade, decidiu negar provimento à apelação da UNIÃO e à remessa necessária, nos
termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA
