D.E. Publicado em 06/12/2018 |
EMENTA
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Nona Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação do autor, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Desembargadora Federal
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Nº de Série do Certificado: | 7D0099FCBBCB2CB7 |
Data e Hora: | 26/11/2018 16:37:33 |
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0006322-61.2013.4.03.6143/SP
RELATÓRIO
A Desembargadora Federal MARISA SANTOS (RELATORA): Ação ajuizada contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), objetivando o reconhecimento da natureza especial das atividades exercidas de 11.05.1977 a 31.10.1977, de 03.11.1977 a 10.04.1978, de 06.05.1978 a 06.12.1978, de 07.12.1978 a 10.05.1979, de 21.05.1979 a 26.11.1979, de 01.12.1979 a 26.05.1980, de 08.05.1980 a 01.07.1980 como "serviços gerais da lavoura"; de 02.07.1980 a 31.07.1980 como "ajudante de produção" na Brigatto Móveis; de 01.08.1980 a 30.09.1989 como "ajudante de motorista" na Levamóveis Transportes; de 04.03.1991 a 12.09.1991 como "motorista truck" na Papa-Légua Transportes; de 01.09.1992 a 30.09.1992 como "motorista" na Galzerano Ind. Carrinhos e Berços; de 01.12.1992 a 11.10.1994 como "motorista" na Expresso Limeirense; de 16.01.1995 a 31.01.1996 como "motorista" na Transportadora JJ; de 22.07.1996 a 09.08.2001 como "motorista" na Joca Transportes; de 01.03.2002 a 28.11.2003 e de 03.05.2004 a 07.07.2006 como "motorista" na Transportes Silvestrini; de 05.03.2007 a 24.04.2007 como "manobrista" na APAE Limeira; de 03.05.2007 a 27.04.2009 como "motorista" na Viação Limeirense; de 01.12.2009 a 31.12.2011 como "motorista autônomo"; de 01.10.1978 a 28.02.1979 como "auxiliar de encanador" para Idail Aparecido Bicudo; de 23.03.1979 a 15.04.1979 como "meio oficial encanador" para Alfredo Freire; de 28.06.1979 a 09.01.1984 como "ferreiro" na Prefeitura Municipal de Limeira; de 01.09.1984 a 23.10.1984 como "soldador" na Tanques Lavoura; de 23.10.1984 a 14.03.1986 como "soldador" na Máquinas Furlan; de 29.04.1986 a 25.11.1996 como "soldador" na Matisa S/A; de 01.11.1997 a 27.11.1997 como "soldador" na Máquinas D'Andréa; de 05.07.1999 a 13.08.1999 como "mecânico geral" na Maqmetal Ltda; de 23.06.2004 a 25.12.2004 como "ajudante encanador" na Monica e Massino ME; e de 22.09.2008 a 20.12.2008 como "ajudante encanador" na Rafael Schenke, com a consequente revisão da RMI da aposentadoria por tempo de contribuição.
O Juízo de 1º grau, ausentes quaisquer formulários, laudos técnicos ou PPPs, julgou improcedente o pedido, condenando o autor ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, ressalvando a concessão da justiça gratuita.
Apela o autor, alegando ter comprovado as condições especiais por meio de "robustos documentos entranhados aos autos" bem como requer a realização de "perícia ergométrica" com engenheiro de segurança, pugnando pela nulidade da sentença, por cerceamento de defesa.
Sem contrarrazões, subiram os autos.
É o relatório.
VOTO
A Desembargadora Federal MARISA SANTOS (RELATORA): Ação ajuizada contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), objetivando o reconhecimento da natureza especial das atividades exercidas de 11.05.1977 a 31.10.1977, de 03.11.1977 a 10.04.1978, de 06.05.1978 a 06.12.1978, de 07.12.1978 a 10.05.1979, de 21.05.1979 a 26.11.1979, de 01.12.1979 a 26.05.1980, de 08.05.1980 a 01.07.1980 como "serviços gerais da lavoura"; de 02.07.1980 a 31.07.1980 como "ajudante de produção" na Brigatto Móveis; de 01.08.1980 a 30.09.1989 como "ajudante de motorista" na Levamóveis Transportes; de 04.03.1991 a 12.09.1991 como "motorista truck" na Papa-Légua Transportes; de 01.09.1992 a 30.09.1992 como "motorista" na Galzerano Ind. Carrinhos e Berços; de 01.12.1992 a 11.10.1994 como "motorista" na Expresso Limeirense; de 16.01.1995 a 31.01.1996 como "motorista" na Transportadora JJ; de 22.07.1996 a 09.08.2001 como "motorista" na Joca Transportes; de 01.03.2002 a 28.11.2003 e de 03.05.2004 a 07.07.2006 como "motorista" na Transportes Silvestrini; de 05.03.2007 a 24.04.2007 como "manobrista" na APAE Limeira; de 03.05.2007 a 27.04.2009 como "motorista" na Viação Limeirense; de 01.12.2009 a 31.12.2011 como "motorista autônomo"; de 01.10.1978 a 28.02.1979 como "auxiliar de encanador" para Idail Aparecido Bicudo; de 23.03.1979 a 15.04.1979 como "meio oficial encanador" para Alfredo Freire; de 28.06.1979 a 09.01.1984 como "ferreiro" na Prefeitura Municipal de Limeira; de 01.09.1984 a 23.10.1984 como "soldador" na Tanques Lavoura; de 23.10.1984 a 14.03.1986 como "soldador" na Máquinas Furlan; de 29.04.1986 a 25.11.1996 como "soldador" na Matisa S/A; de 01.11.1997 a 27.11.1997 como "soldador" na Máquinas D'Andréa; de 05.07.1999 a 13.08.1999 como "mecânico geral" na Maqmetal Ltda; de 23.06.2004 a 25.12.2004 como "ajudante encanador" na Monica e Massino ME; e de 22.09.2008 a 20.12.2008 como "ajudante encanador" na Rafael Schenke, com a consequente revisão da RMI da aposentadoria por tempo de contribuição.
É ônus do autor a apresentação dos documentos comprobatórios de seu direito, como formulários, laudos técnicos ou PPPs, ou, ao menos, a demonstração de que as empresas se recusaram a fornecê-los, tarefa da qual não se desincumbiu, não restando caracterizado o alegado cerceamento de defesa.
Dispunha o art. 202, II, da CF, em sua redação original:
Em obediência ao comando constitucional, editou-se a Lei nº 8.213, de 24.07.1991, cujos arts. 52 e seguintes forneceram o regramento legal sobre o benefício previdenciário aqui pleiteado, e segundo os quais restou afirmado ser devido ao segurado da Previdência Social que completar 25 anos de serviço, se mulher, ou 30 anos, se homem, evoluindo o valor do benefício de um patamar inicial de 70% do salário-de-benefício para o máximo de 100%, caso completados 30 anos de serviço, se do sexo feminino, ou 35 anos, se do sexo masculino.
A tais requisitos, some-se o cumprimento da carência, acerca da qual previu o art. 25, II, da Lei nº 8.213/91 ser de 180 contribuições mensais no caso de aposentadoria por tempo de serviço.
Tal norma, porém, restou excepcionada, em virtude do estabelecimento de uma regra de transição, posta pelo art. 142 da Lei nº 8.213/91, para o segurado urbano já inscrito na Previdência Social por ocasião da publicação do diploma legal em comento, a ser encerrada no ano de 2011, quando, somente então, serão exigidas as 180 contribuições a que alude o citado art. 25, II, da mesma Lei nº 8.213/91.
Oportuno anotar, ainda, a EC 20, de 15.12.1998, cujo art. 9º trouxe requisitos adicionais à concessão de aposentadoria por tempo de serviço:
Ineficaz o dispositivo em questão desde a origem, por ausência de aplicabilidade prática, razão pela qual o próprio INSS reconheceu não serem exigíveis quer a idade mínima para a aposentação, em sua forma integral, quer o cumprimento do adicional de 20%, aos segurados já inscritos na Previdência Social em 16.12.1998. É o que se comprova dos termos postos pelo art. 109, I, da Instrução Normativa INSS/DC nº 118, de 14.04.2005:
A legislação aplicável ao reconhecimento da natureza da atividade exercida pelo segurado - se comum ou especial -, bem como à forma de sua demonstração, é aquela vigente à época da prestação do trabalho respectivo; tal entendimento visa não só amparar o próprio segurado contra eventuais alterações desfavoráveis perpetradas pelo Instituto autárquico, mas tem também por meta, induvidosamente, o princípio da segurança jurídica, representando uma garantia, ao órgão segurador, de que lei nova mais benéfica ao segurado não atingirá situação consolidada sob o império da legislação anterior, a não ser que expressamente prevista.
Realço, também, que a atividade especial pode ser assim considerada mesmo que não conste em regulamento, bastando a comprovação da exposição a agentes agressivos por prova pericial, conforme já de há muito pacificado pelo extinto TFR na Súmula 198:
Posto isto, impõe-se verificar se cumpridas as exigências legais para a caracterização da natureza especial das atividades citadas na inicial.
Até o advento da Lei nº 9.032, de 29.04.1995, a comprovação do exercício de atividade especial era realizada através do cotejo da categoria profissional em que inserido o segurado, observada a classificação inserta nos Anexos I e II do citado Decreto nº 83.080/79 e Anexo do Decreto nº 53.831, de 25.03.1964, os quais foram ratificados expressamente pelo art. 295 do Decreto nº 357, de 07.12.1991, que "Aprova o Regulamento dos Benefícios da Previdência Social" e pelo art. 292 do Decreto nº 611, de 21.07.1992, que "Dá nova redação ao Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 357, de 7.12.1991, e incorpora as alterações da legislação posterior".
Com a edição da Lei 9.032/95, passou-se a exigir a efetiva demonstração da exposição do segurado a agente prejudicial à saúde, conforme a nova redação então atribuída ao § 4º do art. 57 da Lei nº 8.213/91, nos seguintes termos:
Nesse sentido, a jurisprudência do STJ:
Registro, por oportuno, ter sido editada a controversa Ordem de Serviço 600/98, alterada pela OS 612/98, estabelecendo certas exigências para a conversão do período especial em comum, quais sejam:
a) a exigência de que o segurado tenha direito adquirido ao benefício até 28.05.1998, véspera da edição da Medida Provisória 1.663-10, de 28.05.1998;
b) se o segurado tinha direito adquirido ao benefício até 28.04.1995 - Lei nº 9.032/95 -, seu tempo de serviço seria computado segundo a legislação anterior;
c) se o segurado obteve direito ao benefício entre 29.04.1995 - Lei nº 9.032/95 - e 05.03.1997 - Decreto nº 2.172/97 -, ou mesmo após esta última data, seu tempo de serviço somente poderia ser considerado especial se atendidos dois requisitos: 1º) enquadramento da atividade na nova relação de agentes agressivos; e 2º) exigência de laudo técnico da efetiva exposição aos agentes agressivos para todo o período, inclusive o anterior a 29.04.1995.
Em resumo, as ordens de serviço impugnadas estabeleceram o termo inicial para as exigências da nova legislação relativa ao tempo de serviço especial.
E com fundamento nesta norma infralegal é que o INSS passou a denegar o direito de conversão dos períodos de trabalho em condições especiais.
Ocorre que, com a edição do Decreto 4.827, de 03.09.2003, que deu nova redação ao art. 70 do Decreto 3.048 - Regulamento da Previdência Social -, de 06.05.1999, verificou-se substancial alteração do quadro legal referente à matéria posta a desate, não mais subsistindo, a partir de então, o entendimento posto nas ordens de serviço em referência.
Isso é o que se dessume da norma agora posta no citado art. 70 do Decreto nº 3.048/99:
Importante realçar, no particular, ter a jurisprudência do STJ firmado orientação no sentido da viabilidade da conversão de tempo de serviço especial para comum, em relação à atividade prestada após 28.05.1998:
Diga-se, ainda, ter sido editado o Decreto 4.882, de 18.11.2003, que "Altera dispositivos do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.0480, de 6 de maio de 1999".
A partir de então, restou alterado o conceito de "trabalho permanente", com o abrandamento do rigor excessivo antes previsto para a hipótese, conforme a nova redação do art. 65 do Decreto 3.048/99:
Quanto ao ruído, o Decreto 53.831/64 previu o limite mínimo de 80 decibéis para ser tido por agente agressivo - código 1.1.6 - e, assim, possibilitar o reconhecimento da atividade como especial, orientação que encontra amparo no que dispôs o art. 292 do Decreto 611/92 (RGPS). Tal norma é de ser aplicada até a edição do Decreto 2.172, de 05.03.1997, a partir de quando se passou a exigir o nível de ruído superior a 90 decibéis. Posteriormente, o Decreto 4.882, de 18.11.2003, alterou o limite vigente para 85 decibéis.
Ao caso dos autos.
O autor juntou somente cópias das CTPS, sem quaisquer formulários, laudos técnicos ou PPPs para comprovar a exposição a agente agressivo.
Os períodos de 11.05.1977 a 31.10.1977, de 03.11.1977 a 10.04.1978, de 06.05.1978 a 06.12.1978, de 07.12.1978 a 10.05.1979, de 21.05.1979 a 26.11.1979, de 01.12.1979 a 26.05.1980, de 08.05.1980 a 01.07.1980, de 02.07.1980 a 31.07.1980, de 01.08.1980 a 30.09.1989, de 04.03.1991 a 12.09.1991, de 01.09.1992 a 30.09.1992, de 01.12.1992 a 11.10.1994, de 16.01.1995 a 31.01.1996, de 22.07.1996 a 09.08.2001, de 01.03.2002 a 28.11.2003 e de 03.05.2004 a 07.07.2006, de 05.03.2007 a 24.04.2007, de 03.05.2007 a 27.04.2009 e de 01.12.2009 a 31.12.2011, indicados na inicial, sequer se referem ao autor, pois as CTPS trazem anotações totalmente diferentes.
Assim, deixo de apreciar os citados períodos.
As funções de "auxiliar de encanador", "meio oficial encanador" e "ferreiro" não estão enquadradas na legislação especial e, ausentes quaisquer provas da exposição a agente agressivo, não é possível reconhecer a natureza especial das atividades de 01.10.1978 a 28.02.1979, de 23.03.1979 a 15.04.1979 e de 28.06.1979 a 09.01.1984.
A atividade de "soldador" consta da legislação especial e sua natureza especial pode ser reconhecida pelo enquadramento profissional até 28.04.1995, ocasião em que passou a ser obrigatória a apresentação do formulário e, a partir de 05.03.1997, do laudo técnico ou do PPP comprovando a efetiva exposição a agente agressivo.
Dessa forma, as atividades exercidas de 01.09.1984 a 23.10.1984, de 23.10.1984 a 14.03.1986, de 29.04.1986 a 28.04.1995 podem ser reconhecidas como especiais, desde o pedido administrativo - 26.04.2010.
Considerando que o autor não trouxe aos autos quaisquer documentos que atestem a especialidade dos demais vínculos de trabalho, posteriores a 28.04.1995, inviável o reconhecimento da sua natureza especial.
s parcelas vencidas serão acrescidas de correção monetária a partir dos respectivos vencimentos e de juros moratórios a partir da citação.
A correção monetária será aplicada em conformidade com a Lei n. 6.899/81 e legislação superveniente, de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos da Justiça Federal, observados os termos do julgamento final proferido na Repercussão Geral no RE 870.947, em 20/09/2017, ressalvada a possibilidade de, em fase de execução do julgado, operar-se a modulação de efeitos, por força de decisão a ser proferida pelo STF.
Os juros moratórios serão calculados de forma global para as parcelas vencidas antes da citação, e incidirão a partir dos respectivos vencimentos para as parcelas vencidas após a citação. E serão de 0,5% (meio por cento) ao mês, na forma dos arts. 1.062 do antigo CC e 219 do CPC/1973, até a vigência do CC/2002, a partir de quando serão de 1% (um por cento) ao mês, na forma dos arts. 406 do CC/2002 e 161, § 1º, do CTN. A partir de julho de 2.009, os juros moratórios serão de 0,5% (meio por cento) ao mês, observado o disposto no art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, alterado pelo art. 5º da Lei n. 11.960/2009, pela MP n. 567, de 13.05.2012, convertida na Lei n. 12.703, de 07.08.2012, e legislação superveniente, bem como Resolução 458/2017 do Conselho da Justiça Federal.
Os honorários advocatícios são fixados em 10% das parcelas vencidas até esta decisão.
DOU PARCIAL PROVIMENTO à apelação do autor para reformar a sentença, reconhecer a natureza especial das atividades exercidas de 01.09.1984 a 23.10.1984, de 23.10.1984 a 14.03.1986, de 29.04.1986 a 28.04.1995, condenar o INSS a revisar a RMI da aposentadoria por tempo de contribuição, desde o pedido administrativo - 26.04.2010, e fixar os consectários nos termos da fundamentação.
É o voto.
MARISA SANTOS
Desembargadora Federal
Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por: | |
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Data e Hora: | 26/11/2018 16:37:30 |