
8ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5003329-36.2020.4.03.6103
RELATOR: Gab. 28 - DES. FED. TORU YAMAMOTO
APELANTE: JOSE CARLOS ARNALDO
Advogados do(a) APELANTE: ANDRE LUIS DE PAULA - SP288135-A, ISABELA FARIA BORTHOLACE DA SILVA - SP392574-A, LEONARDO AUGUSTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA - SP293580-A
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5003329-36.2020.4.03.6103
RELATOR: Gab. 28 - DES. FED. TORU YAMAMOTO
APELANTE: JOSE CARLOS ARNALDO
Advogados do(a) APELANTE: ANDRE LUIS DE PAULA - SP288135-A, ISABELA FARIA BORTHOLACE DA SILVA - SP392574-A, LEONARDO AUGUSTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA - SP293580-A
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
O EXMO. DESEMBARGADOR FEDERAL TORU YAMAMOTO (RELATOR):
Trata-se de ação previdenciária ajuizada por JOSÉ CARLOS ARNALDO em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL-INSS, objetivando a concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição mediante o reconhecimento de atividade comum nos períodos de 18/07/1985 a 18/10/1985, 29/01/1991 a 18/02/1991 e de 01/11/1989 a 27/12/1989, e de atividade especial nos períodos de 13/06/1978 a 05/02/1979, 18/06/1979 a 25/03/1981, 01/10/2000 a 19/02/2016 e de 04/07/2016 a 12/12/2016.
A r. sentença (ID 293620770 completada pelo ID 293620776) julgou parcialmente procedente o pedido para reconhecer como comuns os períodos de 18/07/1985 a 18/10/1985, 29/01/1991 a 18/02/1991 e de 01/11/1989 a 27/12/1989, e como especiais os períodos de 13/06/1978 a 05/02/1979 e de 18/06/1979 a 25/03/1981, determinando sua averbação. O autor foi condenado em custas e honorários fixados em R$6.662,50 (seis mil, seiscentos e sessenta e dois reais e cinquenta centavos), observada a justiça gratuita.
O autor ofertou apelação (ID 293620775) requerendo o reconhecimento de atividade especial nos períodos de 01/10/2000 a 19/02/2016 e de 04/07/2016 a 12/12/2016, bem como a concessão de aposentadoria por tempo de serviço, sem incidência de fator previdenciário.
É o relatório.
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5003329-36.2020.4.03.6103
RELATOR: Gab. 28 - DES. FED. TORU YAMAMOTO
APELANTE: JOSE CARLOS ARNALDO
Advogados do(a) APELANTE: ANDRE LUIS DE PAULA - SP288135-A, ISABELA FARIA BORTHOLACE DA SILVA - SP392574-A, LEONARDO AUGUSTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA - SP293580-A
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
VOTO
O EXMO. DES. FEDERAL RELATOR TORU YAMAMOTO
Verifico, em juízo de admissibilidade, que o recurso ora analisado mostra-se formalmente regular, motivado (artigo 1.010 CPC) e com partes legítimas, preenchendo os requisitos de adequação (art. 1009 CPC) e tempestividade (art. 1.003 CPC). Assim, presente o interesse recursal e inexistindo fato impeditivo ou extintivo, recebo-o e passo a apreciá-lo nos termos do artigo 1.011 do Código de Processo Civil.
A concessão da aposentadoria por tempo de serviço, hoje tempo de contribuição, está condicionada ao preenchimento dos requisitos previstos nos artigos 52 e 53 da Lei nº 8.213/91.
A par do tempo de serviço/contribuição, deve também o segurado comprovar o cumprimento da carência, nos termos do artigo 25, inciso II, da Lei nº 8.213/91. Aos já filiados quando do advento da mencionada lei, vige a tabela de seu artigo 142 (norma de transição), em que, para cada ano de implementação das condições necessárias à obtenção do benefício, relaciona-se um número de meses de contribuição inferior aos 180 (cento e oitenta) exigidos pela regra permanente do citado artigo 25, inciso II.
Para aqueles que implementaram os requisitos para a concessão da aposentadoria por tempo de serviço até a data de publicação da EC nº 20/98 (16/12/1998), fica assegurada a percepção do benefício, na forma integral ou proporcional, conforme o caso, com base nas regras anteriores ao referido diploma legal.
Por sua vez, para os segurados já filiados à Previdência Social, mas que não implementaram os requisitos para a percepção da aposentadoria por tempo de serviço antes da sua entrada em vigor, a EC nº 20/98 impôs as seguintes condições, em seu artigo 9º, incisos I e II.
Ressalte-se, contudo, que as regras de transição previstas no artigo 9º, incisos I e II, da EC nº 20/98 aplicam-se somente para a aposentadoria proporcional por tempo de serviço, e não para a integral, uma vez que tais requisitos não foram previstos nas regras permanentes para obtenção do referido benefício.
Desse modo, caso o segurado complete o tempo suficiente para a percepção da aposentadoria na forma integral, faz jus ao benefício independentemente de cumprimento do requisito etário e do período adicional de contribuição, previstos no artigo 9º da EC nº 20/98.
Por sua vez, para aqueles filiados à Previdência Social após a EC nº 20/98, não há mais possibilidade de percepção da aposentadoria proporcional, mas apenas na forma integral, desde que completado o tempo de serviço/contribuição de 35 (trinta e cinco) anos, para os homens, e de 30 (trinta) anos, para as mulheres.
Portanto, atualmente vigoram as seguintes regras para a concessão de aposentadoria por tempo de serviço/contribuição:
1) Segurados filiados à Previdência Social antes da EC nº 20/98:
a) têm direito à aposentadoria (integral ou proporcional), calculada com base nas regras anteriores à EC nº 20/98, desde que cumprida a carência do artigo 25 c/c 142 da Lei nº 8.213/91, e o tempo de serviço/contribuição dos artigos 52 e 53 da Lei nº 8.213/91 até 16/12/1998;
b) têm direito à aposentadoria proporcional, calculada com base nas regras posteriores à EC nº 20/98, desde que cumprida a carência do artigo 25 c/c 142 da Lei nº 8.213/91, o tempo de serviço/contribuição dos artigos 52 e 53 da Lei nº 8.213/91, além dos requisitos adicionais do art. 9º da EC nº 20/98 (idade mínima e período adicional de contribuição de 40%);
c) têm direito à aposentadoria integral, calculada com base nas regras posteriores à EC nº 20/98, desde que completado o tempo de serviço/contribuição de 35 (trinta e cinco) anos, para os homens, e de 30 (trinta) anos, para as mulheres;
2) Segurados filiados à Previdência Social após a EC nº 20/98:
- têm direito somente à aposentadoria integral, calculada com base nas regras posteriores à EC nº 20/98, desde que completado o tempo de serviço/contribuição de 35 (trinta e cinco) anos, para os homens, e 30 (trinta) anos, para as mulheres.
Tendo em vista a ausência de recurso da autarquia, tenho que a atividade comum nos períodos de 18/07/1985 a 18/10/1985, 29/01/1991 a 18/02/1991 e de 01/11/1989 a 27/12/1989, e a atividade especial nos períodos de 13/06/1978 a 05/02/1979 e de 18/06/1979 a 25/03/1981 restaram incontroversos.
Alega a parte autora que teria desempenhado atividade especial nos períodos de 01/10/2000 a 19/02/2016 e de 04/07/2016 a 12/12/2016. Contudo, ao contrário do que alega a parte, verifica-se que o primeiro registro se deu em 01/10/2009, e não em 01/10/2000, razão pela qual entendo que a controvérsia nos presentes autos refere-se ao reconhecimento do exercício de atividade especial nos períodos de 01/10/2009 a 19/02/2016 e de 04/07/2016 a 12/12/2016, bem como o preenchimento dos requisitos para concessão de aposentadoria por tempo de serviço.
Atividade Especial
A aposentadoria especial foi instituída pelo artigo 31 da Lei nº 3.807/60.
O critério de especificação da categoria profissional com base na penosidade, insalubridade ou periculosidade, definidas por Decreto do Poder Executivo, foi mantido até a edição da Lei nº 8.213/91, ou seja, as atividades que se enquadrassem no decreto baixado pelo Poder Executivo seriam consideradas penosas, insalubres ou perigosas, independentemente de comprovação por laudo técnico, bastando, assim, a anotação da função em CTPS ou a elaboração do então denominado informativo SB-40.
Foram baixados pelo Poder Executivo os Decretos nºs 53.831/64 e 83.080/79, relacionando os serviços considerados penosos, insalubres ou perigosos.
Embora o artigo 57 da Lei nº 8.213/91 tenha limitado a aposentadoria especial às atividades profissionais sujeitas a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, o critério anterior continuou ainda prevalecendo, como a seguir se verifica.
De notar que, da edição da Lei nº 3.807/60 até a última CLPS que antecedeu à Lei nº 8.213/91, o tempo de serviço especial foi sempre definido com base nas atividades que se enquadrassem no decreto baixado pelo Poder Executivo como penosas, insalubres ou perigosas, independentemente de comprovação por laudo técnico.
A própria Lei nº 8.213/91, em suas disposições finais e transitórias, estabeleceu, em seu artigo 152, que a relação de atividades profissionais prejudiciais à saúde ou à integridade física deverá ser submetida à apreciação do Congresso Nacional, prevalecendo, até então, a lista constante da legislação atualmente em vigor para aposentadoria especial.
Os agentes prejudiciais à saúde foram relacionados no Decreto nº 2.172, de 05/03/1997 (art. 66 e Anexo IV), mas por se tratar de matéria reservada à lei, tal decreto somente teve eficácia a partir da edição da Lei n 9.528, de 10/12/1997.
Destaque-se que o artigo 57 da Lei nº 8.213/91, em sua redação original, deixou de fazer alusão a serviços considerados perigosos, insalubres ou penosos, passando a mencionar apenas atividades profissionais sujeitas a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, sendo que o artigo 58 do mesmo diploma legal, também em sua redação original, estabelecia que a relação dessas atividades seria objeto de lei específica.
A redação original do artigo 57 da Lei nº 8.213/91 foi alterada pela Lei nº 9.032/95 sem que até então tivesse sido editada lei que estabelecesse a relação das atividades profissionais sujeitas a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, não havendo dúvidas até então que continuavam em vigor os Decretos nºs 53.831/64 e 83.080/79. Neste sentido, confira-se a jurisprudência: STJ; Resp 436661/SC; 5ª Turma; Rel. Min. Jorge Scartezzini; julg. 28.04.2004; DJ 02.08.2004, pág. 482.
É de se ressaltar, quanto ao nível de ruído, que a jurisprudência já reconheceu que o Decreto nº 53.831/64 e o Decreto nº 83.080/79 vigeram de forma simultânea, ou seja, não houve revogação daquela legislação por esta, de forma que, constatando-se divergência entre as duas normas, deverá prevalecer aquela mais favorável ao segurado (STJ - REsp. n. 412351/RS; 5ª Turma; Rel. Min. Laurita Vaz; julgado em 21.10.2003; DJ 17.11.2003; pág. 355).
O Decreto nº 2.172/97, que revogou os dois outros decretos anteriormente citados, passou a considerar o nível de ruídos superior a 90 dB(A) como prejudicial à saúde.
Por tais razões, até ser editado o Decreto nº 2.172/97, considerava-se a exposição a ruído superior a 80 dB(A) como agente nocivo à saúde.
Todavia, com o Decreto nº 4.882, de 18/11/2003, houve nova redução do nível máximo de ruídos tolerável, uma vez que por tal decreto esse nível voltou a ser de 85 dB(A) (art. 2º do Decreto nº 4.882/2003, que deu nova redação aos itens 2.01, 3.01 e 4.00 do Anexo IV do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n. 3.048/99).
Houve, assim, um abrandamento da norma até então vigente, a qual considerava como agente agressivo à saúde a exposição acima de 90 dB(A), razão pela qual é de se considerar o nível de ruídos superior a 85 dB(A) a partir de 05/03/1997.
Ocorre que o C. STJ, no julgamento do Recurso Especial nº 1.398.260/PR, sob o rito do artigo 543-C do CPC, decidiu não ser possível a aplicação retroativa do Decreto nº 4.882/03, de modo que no período de 06/03/1997 a 18/11/2003, em consideração ao princípio tempus regit actum, a atividade somente será considerada especial quando o ruído for superior a 90 dB(A).
Nesse sentido, segue a ementa do referido julgado:
"ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. TEMPO ESPECIAL. RUÍDO. LIMITE DE 90DB NO PERÍODO DE 6.3.1997 A 18.11.2003. DECRETO 4.882/2003. LIMITE DE 85 DB. RETROAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA LEI VIGENTE À ÉPOCA DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.
Controvérsia submetida ao rito do art. 543-C do CPC
1. Está pacificado no STJ o entendimento de que a lei que rege o tempo de serviço é aquela vigente no momento da prestação do labor. Nessa mesma linha: REsp 1.151.363/MG, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, DJe 5.4.2011; REsp 1.310.034/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 19.12.2012, ambos julgados sob o regime do art. 543-C do CPC.
2. O limite de tolerância para configuração da especialidade do tempo de serviço para o agente ruído deve ser de 90 dB no período de 6.3.1997 a 18.11.2003, conforme Anexo IV do Decreto 2.172/1997 e Anexo IV do Decreto 3.048/1999, sendo impossível aplicação retroativa do Decreto 4.882/2003, que reduziu o patamar para 85 dB, sob pena de ofensa ao art. 6º da LINDB (ex-LICC). Precedentes do STJ. Caso concreto
3. Na hipótese dos autos, a redução do tempo de serviço decorrente da supressão do acréscimo da especialidade do período controvertido não prejudica a concessão da aposentadoria integral.
4. Recurso Especial parcialmente provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 8/2008."
(STJ, REsp 1398260/PR, Primeira Seção, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 05/12/2014)
Ademais, dispõe o Decreto nº 4.827/03 (que deu nova redação ao art. 70 do Decreto nº 3.048/99):
"Art. 1º, § 2º - As regras de conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum constantes deste artigo aplicam-se ao trabalho prestado em qualquer período."
Destaco, ainda, que inexiste vinculação do ato de reconhecimento de tempo de atividade perigosa, ou nociva ao eventual pagamento de encargos tributários com alíquotas diferenciadas, eis que os artigos 57 e 58 da Lei nº 8.213/91 não demandam tal exigência, que constituiria encargo para o empregador, não podendo o empregado ser por isso prejudicado.
Por seu turno, o recebimento de adicional de insalubridade ou de pagamento da taxa SAT (com indicação de IEAN no CNIS) não implica necessariamente no reconhecimento de exercício de atividade especial, que tem que ser comprovada pelos meios estabelecidos na legislação vigente.
Quanto à possibilidade da contagem do tempo em gozo de auxílio-doença como atividade especial, o julgamento proferido em sede de repetitivo (Tema repetitivo n. 998), fixou da seguinte tese: “O Segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de auxílio-doença, seja acidentário ou previdenciário, faz jus ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial”.
Registro que o Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP substitui o laudo técnico, sendo documento suficiente para aferição das atividades nocivas a que esteve sujeito o trabalhador. E também não obsta o reconhecimento de tempo de trabalho em condições especiais à extemporaneidade de documento, pois a situação em época remota era pior ou ao menos igual à constatada na data da elaboração do laudo, tendo em vista que as condições do ambiente de trabalho só melhoraram com a evolução tecnológica.
O artigo 58, § 1º, da Lei nº 8.213/91, exige que a comprovação do tempo especial seja feita por formulário, ancorado em laudo técnico elaborado por engenheiro ou médico do trabalho, o qual, portanto, pode se basear em qualquer metodologia científica. Não tendo a lei determinado que a aferição só poderia ser feita por meio de uma metodologia específica, não se pode deixar de reconhecer o labor especial pelo fato de o empregador ter utilizado uma técnica diversa daquela indicada na Instrução Normativa do INSS, pois isso representaria uma extrapolação do poder regulamentar da autarquia.
Quanto à eficácia do EPI, vale dizer que, por ocasião do julgamento do ARE 664335, o E. STF assentou as seguintes teses: a) “o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo a sua saúde, de modo que, se o Equipamento de Proteção Individual (EPI) for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial"; b) "na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador, no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), da eficácia do Equipamento de Proteção Individual (EPI), não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria".
Destaco, ainda, que o uso de equipamento de proteção individual não descaracteriza a natureza especial da atividade a ser considerada, uma vez que tal tipo de equipamento não elimina os agentes nocivos à saúde que atingem o segurado em seu ambiente de trabalho, mas somente reduz seus efeitos. Nesse sentido, precedentes desta E. Corte (AC nº 2000.03.99.031362-0/SP; 1ª Turma; Rel. Des. Fed. André Nekatschalow; v.u; J. 19.08.2002; DJU 18.11) e do Colendo Superior Tribunal de Justiça: REsp 584.859/ES, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, 5ª Turma, julgado em 18/08/2005, DJ 05/09/2005 p. 458.
Contudo, cabe ressaltar que, para descaracterização da atividade especial em razão do uso de EPI, há necessidade de prova da efetiva neutralização do agente, sendo que a mera redução de riscos e a dúvida sobre a eficácia do equipamento não infirmam o cômputo diferenciado.
No presente caso, da análise do PPP (ID 29361975 e 293618976) e de acordo com a legislação previdenciária vigente à época, a parte autora não comprovou o exercício de atividades especiais nos períodos de 01/10/2009 a 12/02/2016 e de 04/07/2016 a 12/12/2016 haja vista que os PPP´s juntados aos autos foram enfáticos ao afirmar que o autor esteve exposto a ruído "menor ou igual a 88dB", constando do campo 15 que "para os agentes físicos (ruído), a técnica utilizada foi por amostragem quantitativa sendo que a exposição é habitual e permanente e os valores amostrados não ultrapassam os valores do limite de tolerância, estando classificados abaixo de 85dB (A) conforme NR 15, porém em algumas situações esporádicas em caso de exposição acima do LT, a título e prevenção são fornecidos e obrigatório o uso de EPI tipo Plug de Inserção (contra entrega de recibo), e para os trabalhos realizados nos escritórios, a exposição não ultrapassa os 65dB(A) determinados pela NR17, desta forma não se aplica o uso de EPIs."
Logo, não restou demonstrado o exercício de atividades especiais nos períodos requeridos.
Desta forma, somando-se os períodos em questão, acrescidos dos demais períodos incontroversos, até a data do requerimento administrativo (09/12/2019), não se perfazem os requisitos necessários para concessão do benefício de aposentadoria por tempo de serviço, consoante previstos nos 52 e 53, inciso II, da Lei nº 8.213/91.
Tendo em vista que o autor não se insurgiu quanto à fixação da verba honorária, mantenho-a consoante fixado em sentença.
Determino, por fim, a majoração da verba honorária em 2% (dois por cento) a título de sucumbência recursal, nos termos do §11 do artigo 85 do CPC/2015, observada a justiça gratuita.
Cabe esclarecer, por fim, que a ausência de prévia fonte de custeio para a concessão do benefício, tendo em vista que nos documentos técnicos apresentados não constam códigos de recolhimento pertinentes à exposição a agente nocivo no respectivo campo GFIP, não é motivo para o indeferimento do benefício, pois o trabalhador não pode ser penalizado pelo incorreto recolhimento de tributos por parte de seu empregador. Além disso, a autarquia previdenciária tem meios próprios de receber seus créditos.
Ante o exposto, enfrentadas as questões pertinentes à matéria em debate, NEGO PROVIMENTO À APELAÇÃO DO AUTOR, mantida a r. sentença, nos termos da fundamentação.
É como voto.
CONTAGEM DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
TEMPO DE SERVIÇO COMUM (com conversões)
| Data de Nascimento | 19/03/1955 |
|---|---|
| Sexo | Masculino |
| DER | 09/12/2019 |
| Nº | Nome / Anotações | Início | Fim | Fator | Tempo | Carência |
| 1 | - | 01/07/1971 | 30/12/1971 | 1.00 | 0 anos, 6 meses e 0 dias | 6 |
| 2 | - | 01/07/1972 | 13/05/1973 | 1.00 | 0 anos, 10 meses e 13 dias | 11 |
| 3 | - | 01/08/1973 | 17/06/1975 | 1.00 | 1 anos, 10 meses e 17 dias | 23 |
| 4 | - | 01/07/1975 | 02/03/1977 | 1.00 | 1 anos, 8 meses e 2 dias | 21 |
| 5 | - | 09/05/1977 | 28/06/1977 | 1.00 | 0 anos, 1 meses e 20 dias | 2 |
| 6 | - | 05/05/1978 | 02/06/1978 | 1.00 | 0 anos, 0 meses e 28 dias | 1 |
| 7 | 81dB | 13/06/1978 | 05/02/1979 | 1.40 Especial | 0 anos, 7 meses e 23 dias + 0 anos, 3 meses e 3 dias = 0 anos, 10 meses e 26 dias | 9 |
| 8 | 81,9dB | 18/06/1979 | 25/03/1981 | 1.40 Especial | 1 anos, 9 meses e 8 dias + 0 anos, 8 meses e 15 dias = 2 anos, 5 meses e 23 dias | 22 |
| 9 | - | 28/12/1981 | 26/03/1982 | 1.00 | 0 anos, 2 meses e 29 dias | 4 |
| 10 | - | 01/10/1982 | 21/01/1983 | 1.00 | 0 anos, 3 meses e 21 dias | 4 |
| 11 | - | 22/01/1983 | 31/08/1983 | 1.00 | 0 anos, 7 meses e 9 dias | 7 |
| 12 | - | 26/04/1984 | 21/05/1984 | 1.00 | 0 anos, 0 meses e 26 dias | 2 |
| 13 | - | 26/11/1984 | 16/04/1985 | 1.00 | 0 anos, 4 meses e 21 dias | 6 |
| 14 | comum | 18/07/1985 | 18/10/1985 | 1.00 | 0 anos, 3 meses e 1 dias | 4 |
| 15 | - | 02/09/1985 | 23/10/1985 | 1.00 | 0 anos, 0 meses e 5 dias (Ajustada concomitância) | 0 |
| 16 | - | 14/01/1986 | 20/03/1986 | 1.00 | 0 anos, 2 meses e 7 dias | 3 |
| 17 | - | 01/04/1986 | 29/11/1986 | 1.00 | 0 anos, 7 meses e 29 dias | 8 |
| 18 | - | 22/06/1987 | 27/03/1989 | 1.00 | 1 anos, 9 meses e 6 dias | 22 |
| 19 | - | 02/05/1989 | 19/07/1989 | 1.00 | 0 anos, 2 meses e 18 dias | 3 |
| 20 | - | 01/11/1989 | 27/12/1989 | 1.00 | 0 anos, 1 meses e 27 dias | 2 |
| 21 | - | 03/01/1990 | 24/04/1990 | 1.00 | 0 anos, 3 meses e 22 dias | 4 |
| 22 | - | 01/10/1990 | 29/10/1990 | 1.00 | 0 anos, 0 meses e 29 dias | 1 |
| 23 | - | 29/10/1990 | 26/01/1991 | 1.00 | 0 anos, 2 meses e 27 dias (Ajustada concomitância) | 3 |
| 24 | comum | 29/01/1991 | 18/02/1991 | 1.00 | 0 anos, 0 meses e 20 dias | 1 |
| 25 | - | 04/01/1992 | 15/01/1992 | 1.00 | 0 anos, 0 meses e 12 dias | 1 |
| 26 | - | 24/01/1992 | 04/03/1992 | 1.00 | 0 anos, 1 meses e 11 dias | 2 |
| 27 | - | 06/04/1992 | 03/01/1994 | 1.00 | 1 anos, 8 meses e 28 dias | 22 |
| 28 | - | 15/10/1996 | 04/08/1999 | 1.00 | 2 anos, 9 meses e 20 dias | 35 |
| 29 | - | 08/05/2000 | 01/04/2002 | 1.00 | 1 anos, 10 meses e 24 dias | 24 |
| 30 | - | 02/02/2004 | 28/02/2004 | 1.00 | 0 anos, 0 meses e 27 dias | 1 |
| 31 | - | 01/03/2004 | 01/12/2004 | 1.00 | 0 anos, 9 meses e 1 dias | 10 |
| 32 | - | 01/11/2005 | 04/05/2006 | 1.00 | 0 anos, 6 meses e 4 dias | 7 |
| 33 | - | 14/09/2006 | 20/12/2006 | 1.00 | 0 anos, 3 meses e 7 dias | 4 |
| 34 | - | 01/02/2007 | 17/08/2007 | 1.00 | 0 anos, 6 meses e 17 dias | 7 |
| 35 | - | 15/01/2008 | 11/04/2008 | 1.00 | 0 anos, 2 meses e 27 dias | 4 |
| 36 | - | 14/04/2008 | 28/08/2009 | 1.00 | 1 anos, 4 meses e 15 dias | 16 |
| 37 | não comprovou especial | 01/10/2009 | 19/02/2016 | 1.00 | 6 anos, 4 meses e 19 dias | 77 |
| 38 | não comprovou especial | 04/07/2016 | 12/12/2016 | 1.00 | 0 anos, 5 meses e 9 dias | 6 |
| 39 | - | 10/07/2017 | 31/03/2018 | 1.00 | 0 anos, 8 meses e 21 dias | 9 |
| 40 | - | 01/07/2019 | 30/11/2019 | 1.00 | 0 anos, 5 meses e 0 dias | 5 |
| 41 | - | 02/09/2019 | 23/09/2019 | 1.00 | 0 anos, 0 meses e 0 dias (Ajustada concomitância) | 0 |
| Marco Temporal | Tempo de contribuição | Carência | Idade | Pontos (Lei 13.183/2015) |
| Até a data da EC nº 20/98 (16/12/1998) | 18 anos, 1 mês e 29 dias | 221 | 43 anos, 8 meses e 27 dias | inaplicável |
| Pedágio (EC 20/98) | 4 anos, 8 meses e 24 dias | |||
| Até a data da Lei 9.876/99 (28/11/1999) | 18 anos, 9 meses e 17 dias | 229 | 44 anos, 8 meses e 9 dias | inaplicável |
| Até a data da Reforma - EC nº 103/19 (13/11/2019) | 32 anos, 4 meses e 21 dias | 399 | 64 anos, 7 meses e 24 dias | 97.0417 |
| Até a DER (09/12/2019) | 32 anos, 5 meses e 8 dias | 399 | 64 anos, 8 meses e 20 dias | 97.1611 |
- Aposentadoria por tempo de serviço / contribuição
Em 16/12/1998 (EC 20/98), o segurado não tem direito à aposentadoria por tempo de serviço, ainda que proporcional (regras anteriores à EC 20/98), porque não cumpre o tempo mínimo de serviço de 30 anos.
Em 28/11/1999 (Lei 9.876/99), o segurado não tem direito à aposentadoria por tempo de contribuição, ainda que proporcional (regras de transição da EC 20/98), porque não preenche o tempo mínimo de contribuição de 30 anos, o pedágio de 4 anos, 8 meses e 24 dias (EC 20/98, art. 9°, § 1°, inc. I) e nem a idade mínima de 53 anos.
Em 13/11/2019 (último dia de vigência das regras pré-reforma da Previdência - art. 3º da EC 103/2019), o segurado não tem direito à aposentadoria por tempo de contribuição, ainda que proporcional (regras de transição da EC 20/98), porque não preenche o pedágio de 4 anos, 8 meses e 24 dias (EC 20/98, art. 9°, § 1°, inc. I) .
Em 09/12/2019 (DER), o segurado:
- não tem direito à aposentadoria conforme art. 15 da EC 103/19, porque não cumpre o tempo mínimo de contribuição (35 anos). Também não tem direito à aposentadoria conforme art. 16 da EC 103/19, porque não cumpre o tempo mínimo de contribuição (35 anos).
- não tem direito à aposentadoria conforme art. 17 das regras de transição da EC 103/19, porque não cumpre o tempo mínimo de contribuição até a data da entrada em vigor da EC 103/19 (mais de 33 anos), o tempo mínimo de contribuição (35 anos) e nem o pedágio de 50% (1 anos, 3 meses e 20 dias).
- não tem direito à aposentadoria conforme art. 20 das regras de transição da EC 103/19, porque não cumpre o tempo mínimo de contribuição (35 anos) e nem o pedágio de 100% (2 anos, 7 meses e 9 dias).
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. ATIVIDADE ESPECIAL.APELAÇÃO DO AUTOR IMPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA.
1. Tendo em vista a ausência de recurso da autarquia, o exercício de atividade comum nos períodos de 18/07/1985 a 18/10/1985, 29/01/1991 a 18/02/1991 e de 01/11/1989 a 27/12/1989, e de atividade especial nos períodos de 13/06/1978 a 05/02/1979 e de 18/06/1979 a 25/03/1981 restaram incontroversos.
2. Alega a parte autora que teria desempenhado atividade especial nos períodos de 01/10/2000 a 19/02/2016 e de 04/07/2016 a 12/12/2016. Contudo, ao contrário do que alega a parte, verifica-se que o primeiro registro se deu em 01/10/2009, e não em 01/10/2000, razão pela qual a controvérsia nos presentes autos refere-se ao reconhecimento do exercício de atividade especial nos períodos de 01/10/2009 a 19/02/2016 e de 04/07/2016 a 12/12/2016, bem como o preenchimento dos requisitos para concessão de aposentadoria por tempo de serviço.
3. No presente caso, da análise do PPP (ID 29361975 e 293618976) e de acordo com a legislação previdenciária vigente à época, a parte autora não comprovou o exercício de atividades especiais nos períodos de 01/10/2009 a 12/02/2016 e de 04/07/2016 a 12/12/2016 haja vista que os PPP´s juntados aos autos foram enfáticos ao afirmar que o autor esteve exposto a ruído "menor ou igual a 88dB", constando do campo 15 que "para os agentes físicos (ruído), a técnica utilizada foi por amostragem quantitativa sendo que a exposição é habitual e permanente e os valores amostrados não ultrapassam os valores do limite de tolerância, estando classificados abaixo de 85dB (A) conforme NR 15, porém em algumas situações esporádicas em caso de exposição acima do LT, a título e prevenção são fornecidos e obrigatório o uso de EPI tipo Plug de Inserção (contra entrega de recibo), e para os trabalhos realizados nos escritórios, a exposição não ultrapassa os 65dB(A) determinados pela NR17, desta forma não se aplica o uso de EPIs."
4. Desta forma, somando-se os períodos em questão, acrescidos dos demais períodos incontroversos, até a data do requerimento administrativo (09/12/2019), não se perfazem os requisitos necessários para concessão do benefício de aposentadoria por tempo de serviço, consoante previstos nos 52 e 53, inciso II, da Lei nº 8.213/91.
5. Tendo em vista que o autor não se insurgiu quanto à fixação da verba honorária, mantenho-a consoante fixado em sentença.
6. Determino, por fim, a majoração da verba honorária em 2% (dois por cento) a título de sucumbência recursal, nos termos do §11 do artigo 85 do CPC/2015, observada a justiça gratuita.
7. Cabe esclarecer, por fim, que a ausência de prévia fonte de custeio para a concessão do benefício, tendo em vista que nos documentos técnicos apresentados não constam códigos de recolhimento pertinentes à exposição a agente nocivo no respectivo campo GFIP, não é motivo para o indeferimento do benefício, pois o trabalhador não pode ser penalizado pelo incorreto recolhimento de tributos por parte de seu empregador. Além disso, a autarquia previdenciária tem meios próprios de receber seus créditos.
8. Apelação do autor improvida.
ACÓRDÃO
DESEMBARGADOR FEDERAL
