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ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVISTO NO ART. 203, INC. V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PESSOA IDOSA. MISERABILIDADE NÃO COMPROVADA. ASSISTÊNCIA ESTATAL SUBSIDI...

Data da publicação: 09/07/2020, 00:34:40

E M E N T A ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVISTO NO ART. 203, INC. V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PESSOA IDOSA. MISERABILIDADE NÃO COMPROVADA. ASSISTÊNCIA ESTATAL SUBSIDIÁRIA À ASSISTÊNCIA FAMILIAR. I- O benefício previsto no art. 203, inc. V, da CF é devido à pessoa portadora de deficiência ou considerada idosa e, em ambas as hipóteses, que não possua meios de prover a própria subsistência ou de tê-la provida por sua família. II- In casu, despicienda qualquer discussão quanto ao atendimento do requisito etário porquanto os documentos acostados aos autos comprovam inequivocamente a idade avançada da parte autora (66 anos) à época do ajuizamento da ação (em 13/10/16). III- A alegada miserabilidade não ficou comprovada. Quadra ressaltar que, no presente caso, foi levado em consideração todo o conjunto probatório apresentado nos autos, não se restringindo ao critério da renda mensal per capita. O estudo social revela que a autora, viúva e do lar, reside com o filho Ronaldo Francisco de 35 anos e desempregado, e a irmã da requerente Vera Mariano, de 56 anos, aluna da APAE e pensionista, em casa própria, construída em terreno de herdeiros, há vinte e seis anos. Apresenta problemas de saúde, com uso de medicamentos. Informou à assistente social que possui cinco filhos, sendo quatro casados. A renda mensal é proveniente da pensão recebida pela irmã no valor de um salário mínimo, dos trabalhos eventuais informais realizados pelo filho Ronaldo, bem como da ajuda dos demais filhos. Os gastos mensais totalizam R$ 740,00, sendo R$ 200,00 em energia elétrica, R$ 80,00 em água/esgoto, R$ 30,00 em telefone, R$ 30,00 em plano funeral, e R$ 400,00 em medicamentos. A alimentação não foi incluída porque depende dos trabalhos do filho. IV- Conforme informações constantes da cópia da certidão de óbito do cônjuge Davi Francisco, ocorrido em 13/4/16, a fls. 136 (doc. 38861139 – pág. 28), "Deixa os filhos: Rosimeire, com 46 anos, Rogerio, com 42 anos, Roseli, com 41 anos, Ronaldo (declarante), com 33 anos, Rodrigo, com 27 anos e Michele, com 19 anos de idade." Como bem asseverou o I. Representante do Parquet Federal, a fls. 8 (doc. 48327442 – pág. 4), "O dever de sustento da família não pode ser substituído pela intervenção Estatal, pois o próprio artigo 203, V, da Constituição Federal estabelece que o benefício é devido quando o sustento não puder ser provido pela família. Ainda, dispõe o artigo 229, da Constituição Federal que "Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade." (grifos nossos)." V- Embora os filhos não residam com o casal, tal fato não os exime da obrigação prevista em lei de sustentar os genitores, devendo a assistência prestada pelos filhos preceder à assistência estatal. Cumpre registrar, por oportuno, que a jurisprudência desta E. Corte é pacífica no sentido de que a ajuda financeira prestada pelos filhos à requerente deve ser levada em consideração para a análise da miserabilidade (TRF - 3ª Região, AC nº 2001.61.83.002360-9, 8ª Turma, Rel. Des. Fed. Marianina Galante, j. em 15/12/08, v.u., DJU de 27/01/09). VI- Há que se observar que a assistência social a ser prestada pelo Poder Público possui caráter subsidiário, restrita às situações de total impossibilidade de manutenção própria ou por meio da família, não sendo possível ser utilizado o benefício assistencial como complementação de renda. VII- Não preenchido o requisito necessário para a concessão do benefício previsto no art. 203 da Constituição Federal, consoante dispõe a Lei n.º 8.742/93, impõe-se o indeferimento do pedido. VIII- Apelação da parte autora improvida. (TRF 3ª Região, 8ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL - 5337420-65.2019.4.03.9999, Rel. Desembargador Federal NEWTON DE LUCCA, julgado em 10/06/2019, e - DJF3 Judicial 1 DATA: 13/06/2019)



Processo
ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL / SP

5337420-65.2019.4.03.9999

Relator(a)

Desembargador Federal NEWTON DE LUCCA

Órgão Julgador
8ª Turma

Data do Julgamento
10/06/2019

Data da Publicação/Fonte
e - DJF3 Judicial 1 DATA: 13/06/2019

Ementa


E M E N T A

ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVISTO NO ART. 203, INC. V, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. PESSOA IDOSA. MISERABILIDADE NÃO COMPROVADA. ASSISTÊNCIA ESTATAL
SUBSIDIÁRIA À ASSISTÊNCIA FAMILIAR.
I- O benefício previsto no art. 203, inc. V, da CF é devido à pessoa portadora de deficiência ou
considerada idosa e, em ambas as hipóteses, que não possua meios de prover a própria
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
II- In casu, despicienda qualquer discussão quanto ao atendimento do requisito etário porquanto
os documentos acostados aos autos comprovam inequivocamente a idade avançada da parte
autora (66 anos) à época do ajuizamento da ação (em 13/10/16).
III- A alegada miserabilidade não ficou comprovada. Quadra ressaltar que, no presente caso, foi
levado em consideração todo o conjunto probatório apresentado nos autos, não se restringindo
ao critério da renda mensal per capita. O estudo social revela que a autora, viúva e do lar, reside
com o filho Ronaldo Francisco de 35 anos e desempregado, e a irmã da requerente Vera
Mariano, de 56 anos, aluna da APAE e pensionista, em casa própria, construída em terreno de
herdeiros, há vinte e seis anos. Apresenta problemas de saúde, com uso de medicamentos.
Informou à assistente social que possui cinco filhos, sendo quatro casados. A renda mensal é
proveniente da pensão recebida pela irmã no valor de um salário mínimo, dos trabalhos eventuais
informais realizados pelo filho Ronaldo, bem como da ajuda dos demais filhos. Os gastos mensais
totalizam R$ 740,00, sendo R$ 200,00 em energia elétrica, R$ 80,00 em água/esgoto, R$ 30,00
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos

em telefone, R$ 30,00 em plano funeral, e R$ 400,00 em medicamentos. A alimentação não foi
incluída porque depende dos trabalhos do filho.
IV- Conforme informações constantes da cópia da certidão de óbito do cônjuge Davi Francisco,
ocorrido em 13/4/16, a fls. 136 (doc. 38861139 – pág. 28), "Deixa os filhos: Rosimeire, com 46
anos, Rogerio, com 42 anos, Roseli, com 41 anos, Ronaldo (declarante), com 33 anos, Rodrigo,
com 27 anos e Michele, com 19 anos de idade." Como bem asseverou o I. Representante do
Parquet Federal, a fls. 8 (doc. 48327442 – pág. 4), "O dever de sustento da família não pode ser
substituído pela intervenção Estatal, pois o próprio artigo 203, V, da Constituição Federal
estabelece que o benefício é devido quando o sustento não puder ser provido pela família. Ainda,
dispõe o artigo 229, da Constituição Federal que "Os pais têm o dever de assistir, criar e educar
os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade." (grifos nossos)."
V- Embora os filhos não residam com o casal, tal fato não os exime da obrigação prevista em lei
de sustentar os genitores, devendo a assistência prestada pelos filhos preceder à assistência
estatal. Cumpre registrar, por oportuno, que a jurisprudência desta E. Corte é pacífica no sentido
de que a ajuda financeira prestada pelos filhos à requerente deve ser levada em consideração
para a análise da miserabilidade (TRF - 3ª Região, AC nº 2001.61.83.002360-9, 8ª Turma, Rel.
Des. Fed. Marianina Galante, j. em 15/12/08, v.u., DJU de 27/01/09).
VI- Há que se observar que a assistência social a ser prestada pelo Poder Público possui caráter
subsidiário, restrita às situações de total impossibilidade de manutenção própria ou por meio da
família, não sendo possível ser utilizado o benefício assistencial como complementação de renda.
VII- Não preenchido o requisito necessário para a concessão do benefício previsto no art. 203 da
Constituição Federal, consoante dispõe a Lei n.º 8.742/93, impõe-se o indeferimento do pedido.
VIII- Apelação da parte autora improvida.


Acórdao



APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5337420-65.2019.4.03.9999
RELATOR: Gab. 26 - DES. FED. NEWTON DE LUCCA
APELANTE: TEREZA MARIANO FRANCISCO

Advogado do(a) APELANTE: EMERSON BARJUD ROMERO - SP194384-N

APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS







APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5337420-65.2019.4.03.9999
RELATOR: Gab. 26 - DES. FED. NEWTON DE LUCCA
APELANTE: TEREZA MARIANO FRANCISCO

Advogado do(a) APELANTE: EMERSON BARJUD ROMERO - SP194384-N
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

OUTROS PARTICIPANTES:



R E L A T Ó R I O

O SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL NEWTON DE LUCCA (RELATOR): Trata-se de
ação ajuizada em face do INSS - Instituto Nacional do Seguro Social, visando à concessão do
benefício previsto no art. 203, inc. V, da Constituição Federal de 1988, sob o fundamento de ser
pessoa idosa (66 anos à época do ajuizamento da ação) e não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família. Pleiteia que o termo inicial seja fixado na data do
requerimento administrativo, em 27/4/16.
Foram deferidos à parte autora os benefícios da assistência judiciária gratuita.
O Juízo a quo julgou improcedente o pedido, sob o fundamento da ausência de comprovação do
requisito da hipossuficiência. Condenou a parte autora ao pagamento de custas, despesas
processuais, e honorários advocatícios, fixados estes em 10% do valor atualizado da causa "na
época do efetivo desembolso na forma do artigo 85, § 2º, do sobredito diploma legal, com a
ressalva do artigo 98 § 3º do Código de Processo Civil, porque beneficiária da gratuidade
judiciária" (fls. 30 – doc. 38861233 – pág. 2).
Inconformada, apelou a parte autora, alegando em síntese:
- que a requerente não possui nenhum tipo de renda, é portadora de problemas de saúde, não
sendo o benefício assistencial um complemento de renda, pois necessita de alimentos para a
sobrevivência;
- residir com filho que realiza alguns "bicos", não conseguindo emprego registrado e
- ser a renda do núcleo familiar de 1/3 do salário mínimo (um salário mínimo recebido pela irmã).
- Requer a reforma da R. sentença, para ser julgado procedente o pedido, nos moldes da
exordial.
Sem contrarrazões, subiram os autos a esta E. Corte.
Parecer do Ministério Público Federal a fls. 5/9 (doc. 48327442 – págs. 1/5), opinando pelo não
provimento do recurso.
É o breve relatório.







APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5337420-65.2019.4.03.9999
RELATOR: Gab. 26 - DES. FED. NEWTON DE LUCCA
APELANTE: TEREZA MARIANO FRANCISCO
Advogado do(a) APELANTE: EMERSON BARJUD ROMERO - SP194384-N
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

OUTROS PARTICIPANTES:




V O T O


O SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL NEWTON DE LUCCA (RELATOR): Dispõe o art.
203, inc. V, da Constituição Federal, in verbis:

"Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente da
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I -a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II -o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III -a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV -a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua
integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao
idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por
sua família, conforme dispuser a lei." (grifos meus)

Para regulamentar o dispositivo constitucional retro transcrito, foi editada a Lei nº 8.742 de
7/12/1993.
Cumpre ressaltar, ainda, que em 8/12/95 sobreveio o Decreto nº 1.744 regulamentando a Lei da
Assistência Social supramencionada.
Da leitura dos dispositivos legais, depreende-se que o benefício previsto no art. 203, inc. V, da CF
é devido à pessoa portadora de deficiência ou considerada idosa e, em ambas as hipóteses, que
não possua meios de prover a própria subsistência ou de tê-la provida por sua família.
Com relação ao requisito etário, observo que a idade de 70 (setenta) anos prevista no caput do
art. 20, da Lei nº 8.742/93, foi reduzida para 67 (sessenta e sete), conforme a Lei nº 9.720/98 e,
posteriormente, para 65 (sessenta e cinco), nos termos do art. 34 da Lei nº 10.741/2003.
No tocante ao segundo requisito, qual seja, a comprovação de a parte autora não possuir meios
de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família, o Plenário do C. Supremo
Tribunal Federal, em sessão de 27/8/1998, havia julgado improcedente o pedido formulado na
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.232-1/DF, considerando constitucional o § 3º, do art. 20,
da Lei nº 8.742/93.
No entanto, o referido Plenário, em sessão de 18/4/2013, apreciando o Recurso Extraordinário nº
567.985/MT, declarou a inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do mencionado
§ 3º, do art. 20, da Lei nº 8.742/93, nos termos do voto do E. Ministro Gilmar Mendes, in verbis:

"Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da
Constituição.
A Lei de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da
Constituição da República, estabeleceu os critérios para que o benefício mensal de um salário
mínimo seja concedido aos portadores de deficiência e aos idosos que comprovem não possuir
meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo
Tribunal Federal na ADI 1.232.
Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que 'considera-se incapaz de prover a manutenção da

pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4
(um quarto) do salário mínimo'.
O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua constitucionalidade contestada, ao
fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade social fossem
consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente.
Ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal
declarou a constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de
inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993.
A decisão do Supremo Tribunal Federal, entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à
aplicação em concreto do critério da renda familiar per capita estabelecido pela LOAS.
Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de se contornar o critério objetivo e
único estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado de miserabilidade social das famílias
com entes idosos ou deficientes.
Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios mais elásticos para a concessão
de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou o Bolsa Família; a Lei
10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei 10.219/01, que
criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro
a Municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas.
O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores
posicionamentos acerca da intransponibilidade dos critérios objetivos.
Verificou-se a ocorrência do processo de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças
fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos
patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros benefícios assistenciais
por parte do Estado brasileiro).
4. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993.
5. Recurso extraordinário a que se nega provimento."
(STF, Recurso Extraordinário nº 567.985/MT, Plenário, Relator para acórdão Ministro Gilmar
Mendes, j. em 18/4/13)

Asseverou o E. Ministro Gilmar Mendes, em seu voto, que "o critério de ¼ do salário mínimo
utilizado pela LOAS está completamente defasado e mostra-se atualmente inadequado para aferir
a miserabilidade das famílias que, de acordo com o art. 203, V, da Constituição, possuem o
direito ao benefício assistencial."
Quadra mencionar, adicionalmente, que o C. Superior Tribunal de Justiça também analisou a
questão da miserabilidade por ocasião do julgamento proferido no Recurso Especial Repetitivo
Representativo de Controvérsia nº 1.112.557-MG (2009/0040999-9), in verbis:

"RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. ART. 105, III, ALÍNEA C DA CF. DIREITO
PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. POSSIBILIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DA
CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE DO BENEFICIÁRIO POR OUTROS MEIOS DE PROVA,
QUANDO A RENDA PER CAPITA DO NÚCLEO FAMILIAR FOR SUPERIOR A 1/4 DO SALÁRIO
MÍNIMO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. A CF/88 prevê em seu art. 203, caput e inciso V a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal, independente de contribuição à Seguridade Social, à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida

por sua família, conforme dispuser a lei.
2. Regulamentando o comando constitucional, a Lei 8.742/93, alterada pela Lei 9.720/98, dispõe
que será devida a concessão de benefício assistencial aos idosos e às pessoas portadoras de
deficiência que não possuam meios de prover à própria manutenção, ou cuja família possua
renda mensal per capita inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo.
3. O egrégio Supremo Tribunal Federal, já declarou, por maioria de votos, a constitucionalidade
dessa limitação legal relativa ao requisito econômico, no julgamento da ADI 1.232/DF (Rel. para o
acórdão Min. NELSON JOBIM, DJU 1.6.2001).
4. Entretanto, diante do compromisso constitucional com a dignidade da pessoa humana,
especialmente no que se refere à garantia das condições básicas de subsistência física, esse
dispositivo deve ser interpretado de modo a amparar irrestritamente ao cidadão social e
economicamente vulnerável.
5. A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou
seja, presume-se absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior
a 1/4 do salário mínimo.
6. Além disso, em âmbito judicial vige o princípio do livre convencimento motivado do Juiz (art.
131 do CPC) e não o sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual essa delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do beneficiado. De fato, não se pode admitir a vinculação do Magistrado a
determinado elemento probatório, sob pena de cercear o seu direito de julgar.
7. Recurso Especial provido."
(STJ, REsp. nº 1.112.557/MG, 3ª Seção, Relator Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 28/10/09,
v.u., DJ 20/11/09)

Dessa forma, pacificou-se o entendimento no sentido de que a comprovação de a parte autora
possuir (ou não) meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família deve
ser analisada pelo magistrado, em cada caso, de acordo com as provas apresentadas nos autos.
Outrossim, nos termos do art. 34, do Estatuto do Idoso, deve-se descontar outro benefício no
valor de um salário mínimo já concedido a qualquer membro da família, para fins de cálculo da
renda familiar per capita a que se refere a LOAS.
Embora a lei refira-se a outro benefício assistencial, nada impede que se interprete a lei
atribuindo-se à expressão também o sentido de benefício previdenciário, de forma a dar-se
tratamento igual a casos semelhantes. A avaliação da hipossuficiência tem caráter puramente
econômico, pouco importando o nomen juris do benefício recebido: basta que seja no valor de um
salário mínimo. É o que se poderia chamar de simetria ontológica e axiológica em favor de um ser
humano que se ache em estado de penúria equivalente à miserabilidade de outrem.
Nesse sentido, aliás, já decidiu essa E. Terceira Seção conforme ementa abaixo transcrita, in
verbis:

"EMBARGOS INFRINGENTES. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. INVÁLIDA. CUMPRIMENTO DOS
REQUISITOS LEGAIS. PREVALÊNCIA DO VOTO VENCEDOR.
I - A extensão dos embargos é adstrita aos limites da divergência que, no caso dos autos, recai
unicamente sobre a verificação da hipossuficiência econômica da parte autora.
II - É de se manter a concessão do benefício assistencial à autora, hoje com 61 anos, total e
definitivamente incapaz para o trabalho, que vive com uma filha e o marido, já idoso, o qual
percebe aposentadoria no valor de um salário mínimo.

III - As testemunhas ouvidas afirmam enfaticamente que a autora reside em casa muito simples e
faz uso diário de medicamentos.
IV - O rigor na aplicação da exigência quanto à renda mínima, tornaria inócua a instituição desse
benefício de caráter social, tal o grau de penúria em que se deveriam encontrar os beneficiários,
além do que, faz-se necessário descontar o benefício de valor mínimo, a que teria direito a parte
autora, para o cálculo da renda mensal per capita.
V - O conceito de unidade familiar foi esclarecido com a nova redação do § 1º do artigo 21 da Lei
nº 9.720/98, que remete ao art. 16 da Lei nº 8.213/91.
VI - Há no conjunto probatório, elementos que induzem à convicção de que a autora está entre o
rol dos beneficiários descritos na legislação.
VII - Embargos infringentes não providos."
(EAC nº 2002.03.099.026301-6, Rel. Des. Federal Marianina Galante, j. em 22/9/04, DJU de
05/10/04, grifos meus)

Passo à análise do caso concreto.
In casu, despicienda qualquer discussão quanto ao atendimento do requisito etário porquanto os
documentos acostados aos autos comprovam inequivocamente a idade avançada da parte autora
(66 anos) à época do ajuizamento da ação (em 13/10/16).
Com relação à miserabilidade, observo que o estudo social (elaborado em 4/4/18, data em que o
salário mínimo era de R$ 954,00) demonstra que a autora, viúva e do lar, reside com o filho
Ronaldo Francisco de 35 anos e desempregado, e a irmã da requerente Vera Mariano, de 56
anos, aluna da APAE e pensionista, em casa própria, construída em terreno de herdeiros, há
vinte e seis anos. Apresenta problemas de saúde, com uso de medicamentos. Informou à
assistente social que possui cinco filhos, sendo quatro casados. A renda mensal é proveniente da
pensão recebida pela irmã no valor de um salário mínimo, dos trabalhos eventuais informais
realizados pelo filho Ronaldo, bem como da ajuda dos demais filhos. Os gastos mensais totalizam
R$ 740,00, sendo R$ 200,00 em energia elétrica, R$ 80,00 em água/esgoto, R$ 30,00 em
telefone, R$ 30,00 em plano funeral, e R$ 400,00 em medicamentos. A alimentação não foi
incluída porque depende dos trabalhos do filho.
Conforme informações constantes da cópia da certidão de óbito do cônjuge Davi Francisco,
ocorrido em 13/4/16, a fls. 136 (doc. 38861139 – pág. 28), "Deixa os filhos: Rosimeire, com 46
anos, Rogerio, com 42 anos, Roseli, com 41 anos, Ronaldo (declarante), com 33 anos, Rodrigo,
com 27 anos e Michele, com 19 anos de idade."
Como bem asseverou o I. Representante do Parquet Federal, a fls. 8 (doc. 48327442 – pág. 4),
"O dever de sustento da família não pode ser substituído pela intervenção Estatal, pois o próprio
artigo 203, V, da Constituição Federal estabelece que o benefício é devido quando o sustento não
puder ser provido pela família. Ainda, dispõe o artigo 229, da Constituição Federal que "Os pais
têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de
ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade." (grifos nossos)."
Embora os filhos não residam com o casal, tal fato não os exime da obrigação prevista em lei de
sustentar os genitores, devendo a assistência prestada pelos filhos preceder à assistência estatal.
Cumpre registrar, por oportuno, que a jurisprudência desta E. Corte é pacífica no sentido de que a
ajuda financeira prestada pelos filhos à requerente deve ser levada em consideração para a
análise da miserabilidade (TRF - 3ª Região, AC nº 2001.61.83.002360-9, 8ª Turma, Rel. Des.
Fed. Marianina Galante, j. em 15/12/08, v.u., DJU de 27/01/09).
Dessa forma, não ficou comprovada a alegada hipossuficiência da demandante. Quadra ressaltar
que, no presente caso, foi levado em consideração todo o conjunto probatório apresentado nos
autos, não se restringindo ao critério da renda mensal per capita.

Por derradeiro, há que se ratificar que a assistência social a ser prestada pelo Poder Público
possui caráter subsidiário, restrita às situações de total impossibilidade de manutenção própria ou
por meio da família, não sendo possível ser utilizado o benefício assistencial como
complementação de renda.
Ante o exposto, nego provimento à apelação da parte autora.
É o meu voto.



E M E N T A

ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO PREVISTO NO ART. 203, INC. V, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. PESSOA IDOSA. MISERABILIDADE NÃO COMPROVADA. ASSISTÊNCIA ESTATAL
SUBSIDIÁRIA À ASSISTÊNCIA FAMILIAR.
I- O benefício previsto no art. 203, inc. V, da CF é devido à pessoa portadora de deficiência ou
considerada idosa e, em ambas as hipóteses, que não possua meios de prover a própria
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
II- In casu, despicienda qualquer discussão quanto ao atendimento do requisito etário porquanto
os documentos acostados aos autos comprovam inequivocamente a idade avançada da parte
autora (66 anos) à época do ajuizamento da ação (em 13/10/16).
III- A alegada miserabilidade não ficou comprovada. Quadra ressaltar que, no presente caso, foi
levado em consideração todo o conjunto probatório apresentado nos autos, não se restringindo
ao critério da renda mensal per capita. O estudo social revela que a autora, viúva e do lar, reside
com o filho Ronaldo Francisco de 35 anos e desempregado, e a irmã da requerente Vera
Mariano, de 56 anos, aluna da APAE e pensionista, em casa própria, construída em terreno de
herdeiros, há vinte e seis anos. Apresenta problemas de saúde, com uso de medicamentos.
Informou à assistente social que possui cinco filhos, sendo quatro casados. A renda mensal é
proveniente da pensão recebida pela irmã no valor de um salário mínimo, dos trabalhos eventuais
informais realizados pelo filho Ronaldo, bem como da ajuda dos demais filhos. Os gastos mensais
totalizam R$ 740,00, sendo R$ 200,00 em energia elétrica, R$ 80,00 em água/esgoto, R$ 30,00
em telefone, R$ 30,00 em plano funeral, e R$ 400,00 em medicamentos. A alimentação não foi
incluída porque depende dos trabalhos do filho.
IV- Conforme informações constantes da cópia da certidão de óbito do cônjuge Davi Francisco,
ocorrido em 13/4/16, a fls. 136 (doc. 38861139 – pág. 28), "Deixa os filhos: Rosimeire, com 46
anos, Rogerio, com 42 anos, Roseli, com 41 anos, Ronaldo (declarante), com 33 anos, Rodrigo,
com 27 anos e Michele, com 19 anos de idade." Como bem asseverou o I. Representante do
Parquet Federal, a fls. 8 (doc. 48327442 – pág. 4), "O dever de sustento da família não pode ser
substituído pela intervenção Estatal, pois o próprio artigo 203, V, da Constituição Federal
estabelece que o benefício é devido quando o sustento não puder ser provido pela família. Ainda,
dispõe o artigo 229, da Constituição Federal que "Os pais têm o dever de assistir, criar e educar
os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade." (grifos nossos)."
V- Embora os filhos não residam com o casal, tal fato não os exime da obrigação prevista em lei
de sustentar os genitores, devendo a assistência prestada pelos filhos preceder à assistência
estatal. Cumpre registrar, por oportuno, que a jurisprudência desta E. Corte é pacífica no sentido
de que a ajuda financeira prestada pelos filhos à requerente deve ser levada em consideração
para a análise da miserabilidade (TRF - 3ª Região, AC nº 2001.61.83.002360-9, 8ª Turma, Rel.
Des. Fed. Marianina Galante, j. em 15/12/08, v.u., DJU de 27/01/09).

VI- Há que se observar que a assistência social a ser prestada pelo Poder Público possui caráter
subsidiário, restrita às situações de total impossibilidade de manutenção própria ou por meio da
família, não sendo possível ser utilizado o benefício assistencial como complementação de renda.
VII- Não preenchido o requisito necessário para a concessão do benefício previsto no art. 203 da
Constituição Federal, consoante dispõe a Lei n.º 8.742/93, impõe-se o indeferimento do pedido.
VIII- Apelação da parte autora improvida.

ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Oitava Turma, por
unanimidade, decidiu negar provimento à apelação da parte autora, nos termos do relatório e voto
que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.


Resumo Estruturado

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