Processo
RecInoCiv - RECURSO INOMINADO CÍVEL / SP
0000283-48.2021.4.03.6311
Relator(a)
Juiz Federal HERBERT CORNELIO PIETER DE BRUYN JUNIOR
Órgão Julgador
6ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo
Data do Julgamento
16/12/2021
Data da Publicação/Fonte
Intimação via sistema DATA: 18/01/2022
Ementa
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. AUXÍLIO-
ACIDENTE. LAUDO PERICIAL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE INCAPACIDADE PARA O
TRABALHO. VINCULAÇÃO DO JUIZ (ARTS. 131 E 436, do CPC). AUSÊNCIA DE ELEMENTOS
QUE O CONTRARIEM. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
Acórdao
PODER JUDICIÁRIOTurmas Recursais dos Juizados Especiais Federais Seção Judiciária de
São Paulo
6ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo
RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº0000283-48.2021.4.03.6311
RELATOR:17º Juiz Federal da 6ª TR SP
RECORRENTE: ESTELA DALVA DOS SANTOS SACRAMENTO
Advogados do(a) RECORRENTE: WENDELL HELIODORO DOS SANTOS - SP225922-N,
ADEILDO HELIODORO DOS SANTOS - SP184259-A
RECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
OUTROS PARTICIPANTES:
PODER JUDICIÁRIOTurmas Recursais dos Juizados Especiais Federais Seção Judiciária de
São Paulo6ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo
RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº0000283-48.2021.4.03.6311
RELATOR:17º Juiz Federal da 6ª TR SP
RECORRENTE: ESTELA DALVA DOS SANTOS SACRAMENTO
Advogados do(a) RECORRENTE: WENDELL HELIODORO DOS SANTOS - SP225922-N,
ADEILDO HELIODORO DOS SANTOS - SP184259-A
RECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
Trata-se de ação de concessão/restabelecimento de benefício por incapacidade sob o
fundamento de moléstia incapacitante para o trabalho.
A parte autora interpõe recurso em face da r. sentença que julgou improcedente o pedido.
Postula, em síntese, reforma dessa decisão, sob o argumento de estarem presentes os
requisitos legais para a concessão do benefício.
É o relatório.
FUNDAMENTO E DECIDO.
PODER JUDICIÁRIOTurmas Recursais dos Juizados Especiais Federais Seção Judiciária de
São Paulo6ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo
RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº0000283-48.2021.4.03.6311
RELATOR:17º Juiz Federal da 6ª TR SP
RECORRENTE: ESTELA DALVA DOS SANTOS SACRAMENTO
Advogados do(a) RECORRENTE: WENDELL HELIODORO DOS SANTOS - SP225922-N,
ADEILDO HELIODORO DOS SANTOS - SP184259-A
RECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
V O T O
No mérito, discute-se o atendimento aos requisitos de benefício por incapacidade.
Nos termos dos artigos 42 e 49 da Lei n. 8.213/91, são requisitos para a concessão dos
benefícios de aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença:
a) a condição de segurado da parte requerente na data do início da incapacidade, o que há de
se verificar nos termos dos artigos 11, 13 e 15 da Lei n. 8.213/91;
b) a comprovação da incapacidade permanente ou temporária para o trabalho; e,
c) o cumprimento de carência correspondente a 12 (doze) contribuições mensais, ressalvada a
hipótese do art. 24, parágrafo único, da Lei n. 8.213/91, de reingresso ao sistema, quando, para
contagem das contribuições anteriores, são requeridas apenas mais quatro contribuições (1/3
das exigidas), e de a incapacidade decorrer de acidente de qualquer natureza e causa, doença
profissional ou de trabalho ou de algumas das doenças e afecções especificadas em listas
elaboradas, a cada três anos, pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Previdência Social
de que o segurado seja acometido após sua filiação ao Regime Geral de Previdência Social
(art. 26, II, da Lei n. 8.213/91), ou, na falta destas, aquelas designadas no art. 151 da referida
Lei.
No caso, a controvérsia restringe-se à existência ou não da incapacidade laborativa.
A esse respeito, é preciso ressaltar não bastar a existência da doença para haver direito ao
benefício por incapacidade. É preciso, ainda, que além dessa ocorrência não ser preexistente
ao ingresso no sistema, haja incapacidade para a atividade laborativa.
Nesse passo, conceder-se-á auxílio-doença quando o segurado ficar incapacitado total e
temporariamente para o exercício de suas atividades profissionais habituais, assim entendidas
aquelas para as quais o interessado está qualificado, sem necessidade de qualquer habilitação
adicional.
Será devida a aposentadoria por invalidez, por sua vez, se o segurado estiver total e
definitivamente incapacitado para exercer qualquer atividade laborativa e for insusceptível de
reabilitação para o exercício de outra atividade que lhe garanta a subsistência. Neste caso, o
benefício lhe será pago enquanto permanecer nesta condição.
Tanto o auxílio-doença quanto a aposentadoria por invalidez pressupõem a existência de
incapacidade laborativa; a distinção reside apenas no potencial de reversibilidade da situação,
mais improvável no último caso.
Nas duas situações, todavia, a análise da incapacidade para o trabalho deve ser feita com
razoabilidade, observando-se aspectos circunstanciais como a idade e a qualificação pessoal e
profissional do segurado; só assim ter-se-á definida, no caso concreto, a suposta incapacidade.
Um terceiro benefício é previsto no artigo 18, I, h e § 1º bem como no artigo 86 da Lei 8.213/91.
Trata-se do auxílio-acidente, concedido apenas aos segurados empregados, avulsos e
especiais, como indenização, após consolidação de lesões decorrentes de acidente de qualquer
natureza, caso constatadas sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho
que anteriormente exercia. Para fazer jus a este benefício, igualmente é necessária a qualidade
de segurado, não existindo, no entanto, qualquer carência a ser cumprida (art. 26, I da Lei
8.213/91). O parágrafo 2º do art. 86 da Lei de Benefícios prescreve que “será devido a partir do
dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença,independentemente de qualquer remuneração
ou rendimento auferido pelo acidentado vedada suaacumulação com qualquer aposentadoria” .
Por sua vez, o parágrafo 3º do mesmo dispositivo dispõe que o “recebimento de salário ou
concessão de outro benefício, exceto de aposentadoria (...), não prejudicará a continuidade do
recebimento do auxílio-acidente”.
No caso em apreço, o laudo pericial assim concluiu:
VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS OU CONCLUSÕES:
A autora tem 40 anos de idade e exerce a atividade de ajudante geral.
Está afastada de suas atividades desde outubro de 2017 para tratamento de alterações
degenerativas/inflamatórias acometendo os ombros, principalmente o direito.
Já foi submetida a cirurgia, primeiramente no ombro direito e depois no esquerdo.
É ainda portadora de alterações degenerativas acometendo mãos e coluna lombar,
diagnosticadas como decorrentes de artrite reumatoide.
Apresentou laudos e exames que descrevem:
RNM de Ombro Esquerdo 08/02/2021: presença de os acromiale com alterações degenerativas
de sincondrose, tendão da cabeça do bíceps braquial tópico com tendinopatia da porção intra-
articular e alterações degenerativas do processo bicipto labral. Edema em topografia da brusa
subacromial/subdeltoidea, pequeno derrame articular gleno-umeral. Ventres musculares com
espessura e sinais preservados.
RNM de Ombro Direito 08/02/2021: artropatia acrômio-clavicular discreta com sinovite e edema
subcondral em ambos os ossos. Presença de os acromiale (acrômio tipo 1). Pós-operatório de
reinserção de tendão supra espinhal e fibras anteriores do supra espinhal de aspecto normal,
sem novas roturas. Tendinopatia do subescapular com discreta diminuição da espessura que
indica roturas focais de baixo grau. Tendinopatia da porção intra-articular do bíceps braquial.
Edema discreto em topografia da bursa subacromial/subdeltoidea, sem derrame articular.
RNM de da Coluna Lombar 08/02/2021: abaulamento difuso do disco L4/L5, comprimindo o
saco dural e as raízes neurais foraminais, desvio escoliótico para a esquerda.
Artrose incipiente em mãos.
Ao exame físico apresentou-se em bom estado geral, com a cognição, a coordenação motora e
a memória preservadas.
Mobilidade e motricidade adequadas à idade e nível de condicionamento físico.
Parâmetros hemodinâmicos dentro do aceitável para a faixa etária.
Não há, no exame físico alterações que justifiquem a alegada incapacidade para o trabalho,
autora é portadora de tendinopatia crônica acometendo os ombros, sem sinais de agudização
ou agravamento.
É ainda portadora de alterações degenerativas acometendo a coluna lombar, com sinal de
compressão radicular e atrite reumatoide sem evidência de atividade inflamatória atual e já em
uso de imunobiológicos.
Estágios leves a moderados e com compressão neurológica respondem bem, tanto do ponto de
vista da dor, quanto à limitação de movimentos, ao tratamento medicamentoso com
analgésicos, anti-inflamatórios e trabalho de reabilitação motora (fisioterapia e hidroterapia),
além de correção de déficits posturais associados quando estes existirem.
Quando o tratamento conservador não apresenta resultados satisfatórios pode-se optar pelo
bloqueio foraminal guiado por tomografia computadorizada (hérnias discais com localização
foraminal ou extra-foraminal).
O tratamento cirúrgico propriamente dito está reservado para os casos que não evoluem de
forma resolutiva na vigência de tratamento conservador, nos casos de dor arrastada por mais
de seis semanas sem melhora importante e como tratamento de urgência nos casos de dor
forte e progressiva com sinais importantes de tensão radicular e perda progressiva da força
muscular.
Vale lembrar que a autora é jovem, tem boa escolaridade e foi submetida a 3 cursos de
reabilitação profissional, em áreas variadas e que permitem o desempenho de atividades que
não exijam hipersolicitação mecânica dos segmentos acometidos.
Por todo o acima exposto concluo que a autora está apta para o exercício de atividades
diversas e em que se sinta capacitada.
Essa conclusão poderá ser alterada na dependência do surgimento de novas provas ou
informações.
Data do início da doença: a autora está em tratamento ortopédico desde 2003 para a patologia
do ombro direito. Os sintomas relacionados ao ombro esquerdo iniciaram em 2019. Em
fevereiro de 2020 foi diagnosticada com artrite reumatoide.
(...)
1. 3. O periciando é portador de doença ou lesão?
3.1. A doença ou lesão decorre de doença profissional ou acidente de trabalho?
3.2. O periciando comprova estar realizando tratamento?
R.: Sim, é portadora de TENDINOPATIA CRÔNICA DOS OMBROS, ARTRITE REUMATOIDE,
FIBROMIALGIA E ESPONDILODISCOPATIA DA COLUNA LOMBAR. Vide conclusão.
R.: Não.
R.: Sim.
1. Em caso afirmativo, esta doença ou lesão o incapacita para seu trabalho ou sua atividade
habitual? Discorra sobre a lesão incapacitante tais como origem, forma de manifestação,
limitações e possibilidades terapêuticas. Esclarecer se há relação da patologia com o trabalho
declarado, bem como a origem da enfermidade. Informar se foi apresentado algum exame
complementar, descrevendo-o.
R.: Não há incapacidade. Vide conclusão e descrição da doença.
Constata-se, pois, que o perito foi taxativo ao afirmar que os males em questão não
comprometem a capacidade laboral da parte autora.
Assim, verificada a inexistência de incapacidade total para o trabalho, de forma temporária ou
definitiva, não faz jus a parte autora ao benefício ora pleiteado.
Nesse ponto, não há motivo para afastar as conclusões do perito. Não há nada a infirmá-las, de
igual modo como não se verificam obscuridades no laudo.
De sua parte, tampouco há contradição entre as informações constantes do laudo de modo a
ensejar dúvidas quanto a este; por isso, descabe alegação de nulidade a respeito. Somente
sendo possível inferir a aludida incapacidade mediante prova técnica, não deve o juiz afastar-se
da conclusão do laudo, salvo se existirem elementos que o contrariem ou aconselhem sua
consideração dentro de contexto mais amplo, o que não é o caso.
Saliente-se, por fim, que não se trata de caso de aplicação da Súmula 47 da TNU (Uma vez
reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve analisar as condições pessoais
e sociais do segurado para a concessão de aposentadoria por invalidez). Isso porque o laudo
não constatou nenhuma incapacidade ou limitação, nem mesmo parcial. Portanto, ao caso se
aplica a Súmula 77 da TNU, “O julgador não é obrigado a analisar as condições pessoais e
sociais quando não reconhecer a incapacidade do requerente para a sua atividade habitual”.
Desse modo, merece ser mantida a r. sentença que indeferiu o benefício.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso da parte autora e julgo improcedente o
pedido de benefício por incapacidade.
Condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por
cento) do valor atribuído à causa, nos termos do artigo 55 da lei 9.099/95.
Não são aplicáveis subsidiariamente, no caso, os artigos 85 e §§ da Lei 13.105/2015, em face
da disposição específica, contida na supracitada Lei 9.099/95.
Nas hipóteses em que foi concedido benefício de assistência judiciária gratuita, ou em que tal
pedido ainda não foi apreciado e deve ser deferido, o pagamento dos valores mencionados
ficará suspenso nos termos do artigo 98, § 3º, do Código de Processo Civil (Lei 13.105/15).
Esclareço ainda, nada impedir à parte autora, em sede administrativa, o pleito de novo benefício
por incapacidade se constatadas novas doenças ou o agravamento do atual quadro de saúde a
implicar em incapacidade laboral.
É como voto.
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. AUXÍLIO-
ACIDENTE. LAUDO PERICIAL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE INCAPACIDADE PARA
O TRABALHO. VINCULAÇÃO DO JUIZ (ARTS. 131 E 436, do CPC). AUSÊNCIA DE
ELEMENTOS QUE O CONTRARIEM. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Sexta Turma Recursal
dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária de São Paulo DECIDIU, por unanimidade,
NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA
