Processo
ApelRemNec - APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA / SP
5027723-30.2018.4.03.9999
Relator(a)
Desembargador Federal CARLOS EDUARDO DELGADO
Órgão Julgador
7ª Turma
Data do Julgamento
20/10/2021
Data da Publicação/Fonte
DJEN DATA: 26/10/2021
Ementa
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. CÔMPUTO COMO CARÊNCIA DO PERÍODO EM QUE A SEGURADA
ESTEVE RECEBENDO AUXÍLIO-DOENÇA (ENTRE PERÍODOS DE ATIVIDADE).
POSSIBILIDADE. ART. 60, INCISOS III E IX, DO DECRETO 3.048/1999. RECURSO DO INSS
DESPROVIDO.
1 - Ante a ausência de apelação da parte autora, a controvérsia, no caso em análise, cinge-se ao
cômputo, para fins de carência, de períodos em que a autora esteve em auxílio-doença.
2 - Em consonância com as disposições do art. 29, § 5º, e art. 55, inc. II, ambos da Lei
8.213/1991, conclui-se que os incisos III e IX do art. 60 do Decreto 3.048/1999 asseguram, até
que lei específica discipline a matéria, a possibilidade de utilização para cômputo de tempo de
contribuição/carência do período em que o segurado esteve recebendo auxílio-doença ou
aposentadoria por invalidez (entre períodos de atividade), bem como o período em que o
segurado esteve recebendo benefício por incapacidade por acidente do trabalho (intercalado ou
não). Precedentes.
3 - As expressões "tempo intercalado" ou "entre períodos de atividade" abrangem os lapsos
temporais de gozo de benefício, desde que o segurado tenha retornado ao trabalho (ou reiniciado
a verter contribuições previdenciárias), ainda que por curto período, seguido de nova concessão
de benefício.
4 - E é essa a hipótese dos autos, pois a parte autora usufruiu de auxílio-doença, nos períodos de
15/05/2002 a 29/03/2005, de 04/08/2005 a 04/12/2005 e de 29/06/2010 a 23/06/2014,
considerando que a autora efetuou recolhimentos como contribuinte individual, dentre outros, nos
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
períodos de 1º/12/2000 a 30/04/2002, de 1º/09/2003 a 30/09/2003, de 1º/05/2005 a 30/06/2005,
de 1º/11/2005 s 30/11/2005, de 1º/01/2006 a 28/02/2007 e de 1º/10/2015 a 31/12/2015, conforme
extrato do CNIS.
5 – Apelação do INSS desprovida.
Acórdao
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região
7ª Turma
APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº5027723-30.2018.4.03.9999
RELATOR:Gab. 25 - DES. FED. CARLOS DELGADO
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
LITISCONSORTE: ANA LUZIA DOS SANTOS OLIVEIRA
Advogado do(a) LITISCONSORTE: MARCELO BASSI - SP204334-N
OUTROS PARTICIPANTES:
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região7ª Turma
APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº5027723-30.2018.4.03.9999
RELATOR:Gab. 25 - DES. FED. CARLOS DELGADO
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
LITISCONSORTE: ANA LUZIA DOS SANTOS OLIVEIRA
Advogado do(a) LITISCONSORTE: MARCELO BASSI - SP204334-N
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
O EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS DELGADO
(RELATOR):
Trata-se de apelação interposta pelo INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, em
ação ajuizada por ANA LUZIA DOS SANTOS OLIVEIRA, objetivando a concessão do benefício
de aposentadoria por idade urbana.
A r. sentença (ID 4410457) julgou parcialmente procedente o pedido, condenando o INSS a
reconhecer e computar os períodos de 15/05/2002 a 29/03/2005; de 04/08/2005 a 04/12/2005 e
de 29/06/2010 a 23/06/2014, em que a autora esteve em gozo de benefício por incapacidade
como carência. Fixada a sucumbência recíproca.
Em razões recursais (ID 4410460), o INSS pugna pela reforma da sentença, ao argumento de
que o período em gozo de benefício por incapacidade não pode ser utilizado para efeito de
carência.
A parte autora apresentou contrarrazões (ID 4410463).
Devidamente processado o recurso, foram os autos remetidos a este Tribunal Regional Federal.
A parte autora peticionou, sustentando que os requisitos para a concessão do benefício foram
preenchidos no curso da ação (ID 151662153).
É o relatório.
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região7ª Turma
APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº5027723-30.2018.4.03.9999
RELATOR:Gab. 25 - DES. FED. CARLOS DELGADO
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
LITISCONSORTE: ANA LUZIA DOS SANTOS OLIVEIRA
Advogado do(a) LITISCONSORTE: MARCELO BASSI - SP204334-N
OUTROS PARTICIPANTES:
V O T O
O EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS DELGADO
(RELATOR):
Inicialmente, proceda à correção da autuação para retirar a menção à remessa necessária,
dado que não houve determinação nesse sentido.
Ante a ausência de apelação da parte autora, a controvérsia, no caso em análise, cinge-se ao
cômputo, para fins de carência, de períodos em que a autora esteve em auxílio-doença.
Em consonância com as disposições do art. 29, § 5º, e art. 55, inc. II, ambos da Lei 8.213/1991,
conclui-se que os incisos III e IX do art. 60 do Decreto 3.048/1999 asseguram, até que lei
específica discipline a matéria, a possibilidade de utilização para cômputo de tempo de
contribuição/carência do período em que o segurado esteve recebendo auxílio-doença ou
aposentadoria por invalidez (entre períodos de atividade), bem como o período em que o
segurado esteve recebendo benefício por incapacidade por acidente do trabalho (intercalado ou
não).
Para tanto, ressalto que as expressões "tempo intercalado" ou "entre períodos de atividade"
abrangem os lapsos temporais de gozo de benefício, desde que o segurado tenha retornado ao
trabalho (ou reiniciado a verter contribuições previdenciárias), ainda que por curto período,
seguido de nova concessão de benefício.
E é essa a hipótese dos autos, pois a parte autora usufruiu de auxílio-doença, nos períodos de
15/05/2002 a 29/03/2005, de 04/08/2005 a 04/12/2005 e de 29/06/2010 a 23/06/2014,
considerando que a autora efetuou recolhimentos como contribuinte individual, dentre outros,
nos períodos de 1º/12/2000 a 30/04/2002, de 1º/09/2003 a 30/09/2003, de 1º/05/2005 a
30/06/2005, de 1º/11/2005 s 30/11/2005, de 1º/01/2006 a 28/02/2007 e de 1º/10/2015 a
31/12/2015, conforme extrato do CNIS de ID 4410447, p. 15-16.
Nesse sentido, destaco julgado do C. STJ:
"PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CONVERSÃO DA APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ EM APOSENTADORIA POR IDADE. REQUISITO ETÁRIO PREENCHIDO NA
VIGÊNCIA DA LEI 8.213/1991. DESCABIMENTO. CÔMPUTO DO TEMPO PARA FINS DE
CARÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO EM PERÍODO INTERCALADO.
IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. A Lei 8.213/1991 não contemplou a conversão de aposentadoria por invalidez em
aposentadoria por idade.
2. É possível a consideração dos períodos em que o segurado esteve em gozo de auxílio-
doença ou de aposentadoria por invalidez como carência para a concessão de aposentadoria
por idade, se intercalados com períodos contributivos.
3. Na hipótese dos autos, como não houve retorno do segurado ao exercício de atividade
remunerada, não é possível a utilização do tempo respectivo.
4. Recurso especial não provido."
(STJ, REsp 1422081/SC, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe
02/05/2014) (grifos nossos)
Nesse sentido é o entendimento desta E. Sétima Turma, como se verifica do julgado a seguir:
"PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE URBANA. CÔMPUTO COMO
CARÊNCIA DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO ESTEVE RECEBENDO AUXÍLIO-
DOENÇA OU APOSENTADORIA POR INVALIDEZ (ENTRE PERÍODOS DE ATIVIDADE).
POSSIBILIDADE. VERBA HONORÁRIA REDUZIDA. APELAÇÃO DO INSS PARCIALMENTE
PROVIDA.
1. Para a percepção de Aposentadoria por Idade, o segurado deve demonstrar o cumprimento
da idade mínima de 65 anos, se homem, e 60 anos, se mulher, e número mínimo de
contribuições para preenchimento do período de carência correspondente, conforme artigos 48
e 142 da Lei 8.213/91.
2. Coerente com as disposições do art. 29, § 5º, e art. 55, II, ambos da Lei 8.213/1991, os
incisos III e IX do art. 60 do Decreto 3.048/1999, asseguram, até que lei específica discipline a
matéria, que são contados como tempo de contribuição/carência o período em que o segurado
esteve recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez (entre períodos de atividade),
bem como o período em que o segurado esteve recebendo benefício por incapacidade por
acidente do trabalho (intercalado ou não). Vale ressaltar que tem sido firme o entendimento no
sentido de que as expressões "tempo intercalado" ou "entre períodos de atividade" abrangem
os lapsos temporais de gozo de benefício, desde que o segurado tenha retornado ao trabalho
(ou reiniciado a verter contribuições previdenciárias), ainda que por curto período, seguido de
nova concessão de benefício. E é essa a hipótese dos autos, pois a parte autora usufruiu
apenas um benefício por incapacidade durante toda sua vida laboral, voltando a verter
contribuições previdenciárias logo após sua cessação.
(...)
5. Apelação do INSS parcialmente provida."
(TRF3, AC nº 0001913-75.2017.4.03.9999/SP, Rel. Desembargador Federal Toru Yamamoto,
DJe 14/07/2017).
Dito isso, de rigor a manutenção da sentença.
Ante o exposto, nego provimento à apelação do INSS, nos termos da fundamentação.
É como voto.
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. CÔMPUTO COMO CARÊNCIA DO PERÍODO EM QUE A SEGURADA
ESTEVE RECEBENDO AUXÍLIO-DOENÇA (ENTRE PERÍODOS DE ATIVIDADE).
POSSIBILIDADE. ART. 60, INCISOS III E IX, DO DECRETO 3.048/1999. RECURSO DO INSS
DESPROVIDO.
1 - Ante a ausência de apelação da parte autora, a controvérsia, no caso em análise, cinge-se
ao cômputo, para fins de carência, de períodos em que a autora esteve em auxílio-doença.
2 - Em consonância com as disposições do art. 29, § 5º, e art. 55, inc. II, ambos da Lei
8.213/1991, conclui-se que os incisos III e IX do art. 60 do Decreto 3.048/1999 asseguram, até
que lei específica discipline a matéria, a possibilidade de utilização para cômputo de tempo de
contribuição/carência do período em que o segurado esteve recebendo auxílio-doença ou
aposentadoria por invalidez (entre períodos de atividade), bem como o período em que o
segurado esteve recebendo benefício por incapacidade por acidente do trabalho (intercalado ou
não). Precedentes.
3 - As expressões "tempo intercalado" ou "entre períodos de atividade" abrangem os lapsos
temporais de gozo de benefício, desde que o segurado tenha retornado ao trabalho (ou
reiniciado a verter contribuições previdenciárias), ainda que por curto período, seguido de nova
concessão de benefício.
4 - E é essa a hipótese dos autos, pois a parte autora usufruiu de auxílio-doença, nos períodos
de 15/05/2002 a 29/03/2005, de 04/08/2005 a 04/12/2005 e de 29/06/2010 a 23/06/2014,
considerando que a autora efetuou recolhimentos como contribuinte individual, dentre outros,
nos períodos de 1º/12/2000 a 30/04/2002, de 1º/09/2003 a 30/09/2003, de 1º/05/2005 a
30/06/2005, de 1º/11/2005 s 30/11/2005, de 1º/01/2006 a 28/02/2007 e de 1º/10/2015 a
31/12/2015, conforme extrato do CNIS.
5 – Apelação do INSS desprovida. ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Sétima Turma, por
unanimidade, decidiu negar provimento à apelação do INSS, nos termos do relatório e voto que
ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA
