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DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CIVIL E TRIBUTÁRIO. IRPF. VALORES INTERNALIZADOS A PARTIR DE CONTA TITULARIZADA PELO CONTRIBUINTE NO EXTERIOR. PROVENTOS BENEFICIÁR...

Data da publicação: 06/08/2020, 09:55:33

E M E N T A DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CIVIL E TRIBUTÁRIO. IRPF. VALORES INTERNALIZADOS A PARTIR DE CONTA TITULARIZADA PELO CONTRIBUINTE NO EXTERIOR. PROVENTOS BENEFICIÁRIOS. DISPONIBILIDADE JURÍDICA. IMPLEMENTAÇÃO DE REQUISITO ETÁRIO. RESIDÊNCIA EM TERRITÓRIO NACIONAL QUANDO DO FATO GERADOR. RECURSO PROVIDO. 1. O acervo documental carreado ao feito revela que os valores transferidos pelo autor ao território nacional, em janeiro de 2016, são originários de proventos beneficiários auferidos no exterior. 2. Em que pese tenha ocorrido em 2012 a transferência de valor relativo ao benefício previdenciário à "conta de direitos adquiridos" a favor do autor, apenas houve disponibilidade jurídica (e, assim, fato gerador de imposto de renda) do montante em 01/05/2015, marco em que, segundo a lei suíça, foi atendido o requisito etário aplicável e, consequentemente, o numerário foi disponibilizado para livre transferência pelo beneficiário. Até este momento, da perspectiva da legislação brasileira, havia apenas direito adquirido com exercício condicionado a termo (artigo 131 do Código Civil). 3. Dado que à época em que ocorrido o fato gerador o autor já residia no Brasil, é hígida a incidência de imposto de renda sobre valores auferidos (artigo 43 do CTN combinado com os artigos 1º da Lei 4.506/1964, 4º da Lei 8.383/1991 e 55, VII, do RIR/1999, então vigente). 4. Não altera a conclusão o fato de haver ocorrido tributação no país de origem, já que, à época, não havia tratado bilateral entre Brasil e Suíça a obstar bitributação – atualmente há acordo, firmado em maio de 2018, porém ainda não internalizado por decreto legislativo. De outro lado, é irrelevante para incidência da norma tributária (bem como para a arguição de confisco ou violação da capacidade contributiva) o fato de que o dinheiro transferido já foi empregado em imóvel, na medida em que é descabido assumir que a dissipação ou utilização da renda percebida possa obstar a tributação respectiva. 5. Revertida a sucumbência originária, com fixação de verba honorária a incluir a atuação em grau recursal, em observância ao comando e critérios do artigo 85, §§ 2º a 6º e 11, do Código de Processo Civil. 6. Apelação e remessa oficial providas. (TRF 3ª Região, 3ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL - 5001436-79.2017.4.03.6114, Rel. Desembargador Federal LUIS CARLOS HIROKI MUTA, julgado em 24/07/2020, e - DJF3 Judicial 1 DATA: 29/07/2020)



Processo
ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL / SP

5001436-79.2017.4.03.6114

Relator(a)

Desembargador Federal LUIS CARLOS HIROKI MUTA

Órgão Julgador
3ª Turma

Data do Julgamento
24/07/2020

Data da Publicação/Fonte
e - DJF3 Judicial 1 DATA: 29/07/2020

Ementa


E M E N T A

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CIVIL ETRIBUTÁRIO. IRPF. VALORES INTERNALIZADOS A
PARTIR DE CONTA TITULARIZADA PELO CONTRIBUINTE NO EXTERIOR. PROVENTOS
BENEFICIÁRIOS.DISPONIBILIDADE JURÍDICA. IMPLEMENTAÇÃO DE REQUISITO ETÁRIO.
RESIDÊNCIA EM TERRITÓRIO NACIONAL QUANDO DO FATO GERADOR. RECURSO
PROVIDO.
1.O acervo documental carreado ao feito revela que os valores transferidos pelo autor ao território
nacional, em janeiro de 2016, são originários de proventos beneficiários auferidos no exterior.
2.Em que pese tenha ocorrido em 2012 a transferência de valorrelativoao benefício previdenciário
à"conta de direitos adquiridos" afavor do autor, apenas houve disponibilidade jurídica (e, assim,
fato gerador de imposto de renda)domontanteem 01/05/2015, marco em que, segundo a lei suíça,
foi atendido o requisito etário aplicável e, consequentemente, o numerário foi disponibilizado para
livre transferência pelo beneficiário. Até este momento, da perspectiva da legislação brasileira,
havia apenas direito adquirido com exercício condicionado atermo (artigo 131 do Código Civil).
3. Dado queà época em que ocorrido o fato geradoro autorjá residia no Brasil, é hígida a
incidência de imposto de renda sobre valores auferidos (artigo 43 do CTN combinado com
osartigos 1º da Lei 4.506/1964, 4º da Lei 8.383/1991 e 55, VII, do RIR/1999, então vigente).
4. Não altera a conclusão ofato de haver ocorrido tributação no país de origem, já que, à época,
não havia tratado bilateral entre Brasil e Suíça a obstar bitributação – atualmente há acordo,
firmado em maio de 2018, porém ainda não internalizado por decreto legislativo. De outro lado, é
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos

irrelevante para incidência da norma tributária (bem como para a arguição de confisco ou violação
da capacidade contributiva) o fato de que o dinheiro transferido já foi empregado em imóvel, na
medida em que é descabido assumir que a dissipação ou utilização da renda percebida possa
obstar a tributação respectiva.
5.Revertida a sucumbência originária,com fixação de verba honorária a incluir a atuação em grau
recursal, em observância ao comando e critérios doartigo 85, §§ 2º a 6º e 11, do Código de
Processo Civil.
6. Apelação e remessa oficial providas.

Acórdao



APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº5001436-79.2017.4.03.6114
RELATOR:Gab. 08 - DES. FED. CARLOS MUTA
APELANTE: UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL, DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL
DO BRASIL DE ADMINISTRACAO TRIBUTARIA DE SAO PAULO (SP)


APELADO: THOMAS HEINRICH WOLFER

Advogados do(a) APELADO: LUCAS ALTHEMAN DE CARVALHO - SP383974, KAIKE CAIO DE
SOUZA GARCIA - SP340098

OUTROS PARTICIPANTES:






APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº5001436-79.2017.4.03.6114
RELATOR:Gab. 08 - DES. FED. CARLOS MUTA
APELANTE: UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL, DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL
DO BRASIL DE ADMINISTRACAO TRIBUTARIA DE SAO PAULO (SP)
APELADO: THOMAS HEINRICH WOLFER
Advogados do(a) APELADO: LUCAS ALTHEMAN DE CARVALHO - SP383974, KAIKE CAIO DE
SOUZA GARCIA - SP340098
OUTROS PARTICIPANTES:





R E L A T Ó R I O

Trata-se de apelação fazendária eremessa oficial,tida por submetida,à sentença de procedência

em ação anulatória. O feito foi ajuizadoobjetivando, em síntese, tornar insubsistente a cobrança
de imposto de renda sobre valores transferidos pelo autor de conta própria na Suíça para
instituição bancária nacional realizada em 2016. Foram fixados honorários em 10% do valor
atualizado da causa.
Segundo o narrado na exordial (ID. 2159970), os montantes consubstanciam proventos de
aposentadoria que jáestavam disponíveis ao autor, no exterior, em 2011, muito antes de sua
internalização em território nacional, ocorrida em meados de 2016, para aquisição de imóvel, pelo
que seria incabível a tributação a título de acréscimo patrimonial.
Sustentou o autor, essencialmente, que: (1) o valor internalizado corresponde a Fr 230.000,00 (o
que, à época, totalizou, em conversão, R$ 847.090,00); (2) por equívoco, dada a complexidade
da legislação tributária, informou tal valor como renda naDIRPF 2017/2016, o que “gerou um
absurdo saldo de imposto a pagar no valor de R$ 231.592,37”; (3) o numerário foi amealhado ao
longo da vida profissional na Suíça, não caracterizando acréscimo patrimonial recente; (4) houve
tributação a título de imposto de renda na Suíça (Fr 19.857,00), o que, cumulado à anterioridade
da aquisição dos valores, não justifica nova tributação no país; (5) dado que a quantia já estava
disponível em 2011 (ano em que não era residente no país), o fato gerador ocorreu anos antes da
transferência; (6) a internalização “teve como objetivo único a aquisição de uma propriedade
imóvel que, mais tarde, constituiu-se sua atual residência, caso assim não o fosse teria mantido
tais valores em sua conta suíça”, de modo que aexigência fiscal viola o princípio da proibição do
confisco, já que será obrigado a desfazer-se do bem para adimplir o débito; e(7) percebendo
renda mensal em muito inferior à cobrança, a conduta fiscal importa, também, malferimento ao
princípio da capacidade contributiva.
Ofertada contestação (ID. 2161282) e inexistindo interesse das partes em dilação probatória
ulterior, o julgamento foi convertido em diligência para que o autor informasse e comprovasse os
períodos de residência no país, a natureza dos vistos obtidos em cada ocasião, bem como a data
de aquisição da disponibilidade dos proventos de aposentadoria (ID. 2161288).
Houvemanifestação, porém sem juntada de documentos (ID. 2161289), sobrevindosentença(ID.
2161290).
Em razões recursais (ID. 2161295), arguiu o órgão fazendário, em síntese, que: (1) conforme
colhe-se do banco de dados da Receita Federal do Brasil, desde 2003 o autor apresenta,
espontaneamente, declarações de ajuste anual de IRPF, com exceção dos anos-calendário de
2010 e 2011; (2) diferentemente do que concluiu a sentença, os documentos
juntadosdemonstram quea concessão da aposentadoria ocorreu em 2012, e não 2011; (3) tanto
no momento da concessão do benefício, em 2012, como quando da transferência a território
nacional, em 2016, o autor residia no país, com vínculo empregatício, conforme declarações
apresentadas em 2013 e 2017; (4) dado que inexiste tratado a respeito de dupla tributação entre
Brasil e Suíça, não há aproveitamento de imposto pago no exterior, no caso em apreço; e(5) a
rigor, os valores foram auferidos apenas em 2016, de modo que em 2012 houve apenas
transferência do plano de aposentadoria do autor para outra instituição financeira, tanto que a
tributação em território suíço ocorreu em 22/01/2016.
Com contrarrazões (ID. 2161299), subiram os autos.
É o relatório.




APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº5001436-79.2017.4.03.6114
RELATOR:Gab. 08 - DES. FED. CARLOS MUTA

APELANTE: UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL, DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL
DO BRASIL DE ADMINISTRACAO TRIBUTARIA DE SAO PAULO (SP)
APELADO: THOMAS HEINRICH WOLFER
Advogados do(a) APELADO: LUCAS ALTHEMAN DE CARVALHO - SP383974, KAIKE CAIO DE
SOUZA GARCIA - SP340098
OUTROS PARTICIPANTES:





V O T O


Senhores Desembargadores, colhe-se dos fundamentos da sentença que a convicção do Juízo
de origem foi firmada a partir do entendimento de que a disponibilidade dos montantes
transferidos ao país em 2016 ocorreu em momento anterior, quandoo autor ainda não residia em
território nacional. Neste sentido:

“Neste ponto, oportuno registrar que consta dos autos Demonstrativo de Previdência devidamente
traduzido, no qual apurou-se os valores recebidos até 2011 e respectivos juros, bem como o
saldo total verificado.
Por conseguinte, decorrência lógica que o desligamento da previdência privada ocorreu para que
o autor reingressasse em definitivo no Brasil, já que passaria a laborar neste país, com visto
permanente.
Destarte, recebidos os valores em abril de 2011, ocasião na qual o autor não residia no país, mas
na Suíça, tais valores não estão sujeitos à incidência do imposto de renda.
A transferência dos recursos da Suíça para o Brasil foi realizada somente em 2016, ou seja, em
data posterior à aquisição da sua disponibilidade. Ocorreu mera remessa de valores,
anteriormente integrados ao patrimônio do autor.”

O entendimento comporta reforma, todavia.
De primeiro, tem-se que não há prova documental nos autos de que o autor não residia no país
em 2011. Isto porque, intimado a comprovar períodos de residência no país, o contribuinte
limitou-se à declaração, desprovida de documentos, de que se manteve na Suíça entre 2008 e
2012. Em sentido contrário, o órgão fazendário anexou à contestaçãoextrato de sistema interno
da Receita Federal em que consta a entrega de declarações de ajuste, anualmente, entre2004 a
2010 e 2013 a2017 (data mais atual ao momento do protocolo do documento neste feito).
Em segundo lugar, porque, conforme acervo probatório dos autos, a disponibilidadede
valorestransferidos não ocorreu em 2011, e tampouco em 2012 ou 2016, como afirma o órgão
fazendário, mas em maio de 2015.
O documento a partir do qual o Juízo a quo entendeu ter ocorrido disponibilidade dos valores em
2011 é o demonstrativo de previdência (ID2159975, f. 03/04),com tradução para o vernáculo
(ID2159976, f. 01/03). Contudo, a análise acurada da transcrição revela que se tratade
informativo para o ano de 2012 (o próprio título do documento é “DEMONSTRAÇÃO DE
PREVIDÊNCIA DE 2012”): há, apenas, no corpo do texto, informação do saldo acumulado do
beneficiário ao começo de 2011, seguido do valor equivalente para o começo de 2012. Nada do
teor do informativo permite inferir que havia disponibilidade do numerário em 2011.

Indo adiante, a segunda folha do documento traduzido revela que o demonstrativo foi emitido
porque o autor estava se desligando do vínculo de trabalho naquele país, em 31/08/2012
(“PRESTAÇÃO DE CONTAS PARA DESLIGAMENTO PARA 31/12/2012”), tanto que o valor
efetivamente acumulado àquele momento (Fr 255.091,00) era maior do que o indicado para 2011
(Fr 223.023,00, resultado da soma do acumulado pelo beneficiário, Fr 205.602,00 e o
empregador, Fr 17.421,00).
Por sua vez, conforme a terceira folha do documento em referência, o desligamento do vínculo de
trabalhogera, segundo a legislação local, necessidade de transferência dos proventos
acumulados para instituição bancária vinculada ao próximo empregador, e no intervalo (ou se não
sobrevém relação de trabalhoposterior no país), o numerárioficamantidoem “conta de direitos
adquiridos”:


"Instruções de pagamento
A Lei de mobilidade (FZG) prescreve, na passagem para uma nova instituição previdenciária, que
o benefício de desligamento deve ser transferido para esta. A transferência para uma conta de
direitos adquiridos em um banco ou em uma apólice de direitos adquiridos em uma seguradora
deve, por conseguinte, reservar os casos nos quais nenhuma relação nova de trabalho é
contraída. As instruções de pagamento devem ser conferidas até a data de desligamento ou
dentro de 30 dias após a entrega da prestação de contas do desligamento. Caso a notificação
tarde, então o benefício de desligamento da instituição receptora será transferido. A instituição
receptora irá faturar os custos, os quais surjam por meio da criação e dissolução da conta de
direitos adquiridos onde outras atividades, no pagamento do benefício de desligamento."

Sucede que não houve, também aqui, disponibilidade de valores. Com efeito, o documento em
língua alemã acostado aos autos (ID2159975, f. 07), sem tradução para o vernáculo nos autos,
indica que o autor apenas completou a idade de aposentadoria em abril de 2015:

"Sehr geehrter Herr Wolfer
Im April 2015 erreichen Sie das ordentliche AHV-Pensionierungsalter.
Wir treuen uns, Ihnen mitteilen zu können, dass Sie ab 1. des darautfolgenden Monats, d.h. ab
dem 01. Mai 2015, über Ihr Guthaben verfügen können."

Em tradução livre:

"Caro Sr. Wolfer,
Em abril de 2015 o senhor atingirá a idade regular de aposentadoria do AHV.
Nos fielmente informamos que vossa senhoria poderá ter acesso ao vosso crédito a partir do
primeiro dia do mês seguinte, ou seja, a partir de 1º de maio de 2015."

A sigla “AHV” mencionada refere-se ao seguro por idade e sobrevivência da lei suíça (Alters- und
Hinterlassenenversicherung), em funcionamento similar à previdência nacional. Neste tocante,
nos termos da legislação suíça que rege o tema (Lei Federal Sobre o Seguro por Idade e
Sobrevivência - https://www.amtsdruckschriften.bar.admin.ch/viewOrigDoc.do?id=10053179),
conforme a décima revisão, de outubro de 1994, os homens têm direito a benefício, por idade,a
partir do primeiro dia do mês seguinte ao que completarem 65 anos (artigo 21). Considerando a
prova nos autos de que o autor nasceu em 25/04/1950 (entre outros:ID. 2159974, f. 03 e ID.
2161283), o direito àfruição iniciou-se, nos exatos termos do documento não traduzido, em

01/05/2015.
Esta data, portanto, marca, na formado artigo 43 do CTN, a disponibilidade jurídica do numerário,
que, a partir de então, tornou-se de imediato exigível, sem qualquer intermediação por outra
operação ou negócio jurídico.
Nesta orientação, o seguinte precedente da Corte Suprema (grifos nossos):

RE 633.922 AgR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe 28/08/2014: AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CRUZADOS BLOQUEADOS E DEFINIÇÃO
DE RENDA PARA FINS DE IMPOSIÇÃO TRIBUTÁRIA. INTERPRETAÇÃO DE MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA A PRECEITO CONSTITUCIONAL. AGRAVO
REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. I - É inadmissível o recurso extraordinário
quando sua análise implica rever a interpretação de normas infraconstitucionais que
fundamentam a decisão a quo. A afronta à Constituição, se ocorrente, seria indireta. II - Cruzados
bloqueados e incidência de imposto de renda. O Plenário do Supremo Tribunal Federal destacou
que a Constituição Federal atribui competência à União para instituir imposto sobre a renda e
proventos de qualquer natureza (CF, art. 153, III), sem qualquer adjetivação ao vocábulo "renda",
razão por que coube ao legislador ordinário complementar, no art. 43 do CTN, a sua definição
como "o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos" e estabelecer como fato
gerador "a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica da renda ou dos proventos de
qualquer natureza" (RE 201.465/MG, Rel. Min. Nélson Jobim). III - A respeito do alcance da
expressão "aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda", a Corte anotou que "a
disponibilidade adquirida" pode, nos termos da definição, ser "econômica" ou "jurídica" (CTN, art.
43, caput), esclarecendo que disponibilidade econômica "é a sua efetiva percepção em dinheiro
ou outros valores" e que disponibilidade jurídica corresponde ao que "os economistas chamam de
'realização' da renda: é o caso em que, embora o rendimento ainda não esteja 'economicamente
disponível' (isto é, efetivamente percebido), o beneficiário já tenha título hábil para percebê-lo"
(RE 172.058/SC, Rel. Min. Marco Aurélio). IV - No caso em exame, esse foi o entendimento
externado no acórdão recorrido, à luz do disposto no art. 43 do Código Tributário Nacional. V -
Agravo regimental a que se nega provimento."

Até então, da perspectiva pátria, havia direito adquirido ao recebimento de valores, cujo exercício,
não obstante, estava obstado pela implementação de termo (o atingimento da idade mínima),pelo
que o autor, em verdade, não possuía, ainda, faculdade de livre disposição, conforme dispõe o
artigo 131 do Código Civil (“O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito”).
De outro lado, o que ocorreu em 22/01/2016, com a transferência dos valores da conta de direito
adquirido para conta própria do autor (ID. 2159975, f. 08, e 2159976, f. 08/09) foi a disponibilidade
econômica do numerário (internalizado em 26/01/2016, conforme ID.2159975, f. 09, e ID.
2159976, f. 10/11), que ingressou materialmente sob o controle do apelado. Apenas neste
momento houve retenção na fonte pelo Fisco suíço, em linha com a regra geral da Lei Federal
Sobre Impostos Diretos da Confederação Helvética, correntementeconhecida comoSuíça
(https://www.admin.ch/opc/it/classified-compilation/19900329/index.html), que prevê, quanto ao
imposto de renda de pessoas naturais, que a obrigação tributária surge apenas ao momento em
que o acréscimo patrimonial é efetivamente auferido, em regime de caixa (artigo 8º).
Conclui-se, portanto, que, para a regência tributária brasileira, o fato gerador da renda ocorreu em
01/05/2015, momento em que o autor possuía residência no país, segundo o declarado pelo
próprio contribuinte (ID. 2161289) e conforme registro de declaração de ajuste entregue em 2016,
ano-calendário de 2015 (ID. 2161283).
Logo, o crédito tributário em cobro é hígido, nos termos do artigo 43 do CTN, combinado com

osartigos 1º da Lei 4.506/1964, 4º da Lei 8.383/1991 e 55, VII, do RIR/1999, então vigente:

"Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza
tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica:
(...)"

"Art. 1º As pessoas físicas, domiciliadas ou residentes no Brasil que tiverem renda líquida anual
superior a vinte e quatro vezes o salário-mínimo fiscal, apurada de acôrdo com a lei, são
contribuintes do impôsto de renda, sem distinção de nacionalidade, sexo, idade, estado ou
profissão."

"Art. 4° A renda e os proventos de qualquer natureza, inclusive os rendimentos e ganhos de
capital, percebidos por pessoas físicas residentes ou domiciliadas no Brasil, serão tributados pelo
imposto de renda na forma da legislação vigente, com as modificações introduzidas por esta lei."

"Art. 55. São também tributáveis (Lei nº 4.506, de 1964, art. 26, Lei nº 7.713, de 1988, art. 3º, §
4º, e Lei nº 9.430, de 1996, arts. 24, § 2º, inciso IV, e 70, § 3º, inciso I):
(...)
VII - os rendimentos recebidos no exterior, transferidos ou não para o Brasil, decorrentes de
atividade desenvolvida ou de capital situado no exterior;"

Não altera a conclusão alcançadao fato de haver ocorrido tributação no país de origem, já que, à
época, não havia tratado bilateral entre Brasil e Suíça a obstar bitributação – atualmente há
acordo, firmado em maio de 2018, porém ainda não internalizado por Decreto Legislativo (o PDL
650/2019 ainda pende de aprovação no Senado Federal).
De outro lado, é irrelevante para incidência da norma tributária (bem como para a arguição de
confisco ou violação da capacidade contributiva) o fato de que o dinheiro transferido já foi
empregado em imóvel, na medida em que é descabido assumir que a dissipação ou utilização da
renda auferida possa obstar a tributação respectiva.
Finalmente, mesmo a afirmação de que o valor foi empregado para aquisição da atual residência
do apelado não condiz com a prova dos autos.
Neste sentido, nota-se que a qualificação do autor na peça exordial informa domicílio em imóvel
sito àRua Bento Gonçalves, nº 4, Bairro dos Casa, São Bernardo do Campo (mesmo endereço
declinado na procuraçãoad judicia, ID.2159972), bem este que, segundo a declaração de ajuste
de imposto de renda apresentada em 2017, em reprografia carreada aos autos pelo próprio
contribuinte, foi adquirido em 2007 (ID. 2159974, f. 07). Diversamente, a DIRPF revela que o
numerário foi empregado, em verdade, para adquirir imóvel no bairro de Botafogo, no Rio de
Janeiro, em 03/06/2016.
Sendo necessária a integral reforma da sentença, em decorrência do esposado, tem-se a
reversão da sucumbência, pelo que comporta novo arbitramento a verba honorária – fixada, na
origem, em 10% do valor atualizado da causa, a favor daapelante. Neste tocante, considerado o
trabalho adicional em grau recursal e os critérios do artigo 85, §§ 2º a 6º e 11, CPC,
especialmente grau de zelo do profissional, lugar da prestação do serviço, natureza e importância
da causa e tempo exigido de atuação nesta fase do processo, os honorários advocatícios devem
ser fixados no montante global de 12% do valor da causa, em favor da ora apelante.
Ante ao exposto, dou provimento ao apelo e à remessa oficial, nos termos acima.
É como voto.
E M E N T A


DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CIVIL ETRIBUTÁRIO. IRPF. VALORES INTERNALIZADOS A
PARTIR DE CONTA TITULARIZADA PELO CONTRIBUINTE NO EXTERIOR. PROVENTOS
BENEFICIÁRIOS.DISPONIBILIDADE JURÍDICA. IMPLEMENTAÇÃO DE REQUISITO ETÁRIO.
RESIDÊNCIA EM TERRITÓRIO NACIONAL QUANDO DO FATO GERADOR. RECURSO
PROVIDO.
1.O acervo documental carreado ao feito revela que os valores transferidos pelo autor ao território
nacional, em janeiro de 2016, são originários de proventos beneficiários auferidos no exterior.
2.Em que pese tenha ocorrido em 2012 a transferência de valorrelativoao benefício previdenciário
à"conta de direitos adquiridos" afavor do autor, apenas houve disponibilidade jurídica (e, assim,
fato gerador de imposto de renda)domontanteem 01/05/2015, marco em que, segundo a lei suíça,
foi atendido o requisito etário aplicável e, consequentemente, o numerário foi disponibilizado para
livre transferência pelo beneficiário. Até este momento, da perspectiva da legislação brasileira,
havia apenas direito adquirido com exercício condicionado atermo (artigo 131 do Código Civil).
3. Dado queà época em que ocorrido o fato geradoro autorjá residia no Brasil, é hígida a
incidência de imposto de renda sobre valores auferidos (artigo 43 do CTN combinado com
osartigos 1º da Lei 4.506/1964, 4º da Lei 8.383/1991 e 55, VII, do RIR/1999, então vigente).
4. Não altera a conclusão ofato de haver ocorrido tributação no país de origem, já que, à época,
não havia tratado bilateral entre Brasil e Suíça a obstar bitributação – atualmente há acordo,
firmado em maio de 2018, porém ainda não internalizado por decreto legislativo. De outro lado, é
irrelevante para incidência da norma tributária (bem como para a arguição de confisco ou violação
da capacidade contributiva) o fato de que o dinheiro transferido já foi empregado em imóvel, na
medida em que é descabido assumir que a dissipação ou utilização da renda percebida possa
obstar a tributação respectiva.
5.Revertida a sucumbência originária,com fixação de verba honorária a incluir a atuação em grau
recursal, em observância ao comando e critérios doartigo 85, §§ 2º a 6º e 11, do Código de
Processo Civil.
6. Apelação e remessa oficial providas. ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Terceira Turma, por
unanimidade, deu provimento ao apelo e à remessa oficial, nos termos do relatório e voto que
ficam fazendo parte integrante do presente julgado.


Resumo Estruturado

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