Processo
ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL / SP
0012853-49.2014.4.03.6105
Relator(a)
Desembargador Federal VANESSA VIEIRA DE MELLO
Órgão Julgador
7ª Turma
Data do Julgamento
02/02/2022
Data da Publicação/Fonte
DJEN DATA: 09/02/2022
Ementa
E M E N T A
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - ALEGAÇÃO DE VÍCIO: INEXISTÊNCIA - CARÁTER
INFRINGENTE: IMPOSSIBILIDADE - REJEIÇÃO. PRÉ-QUESTIONAMENTO.
1. O Poder Judiciário, pela iniciativa das partes, está vinculado a decidir a lide, em regra, nos
termos do pedido. Mas a decisão fica sujeita a qualquer fundamento jurídico.
2. Na solução da causa, a adoção de fundamento jurídico diverso do exposto pela parte não é
omissão. É divergência de intelecção na solução da lide, circunstância desqualificadora da
interposição de embargos de declaração.
3. A Constituição Federal não fez opção estilística, na imposição do requisito da fundamentação
das decisões. Esta pode ser laudatória ou sucinta. Deve ser, tão-só, pertinente e suficiente.
4. Embargos rejeitados.
Acórdao
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região
7ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº0012853-49.2014.4.03.6105
RELATOR:Gab. 24 - JUÍZA CONVOCADA VANESSA MELLO
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, SANDRA CRISTINA DOS
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
SANTOS
Advogado do(a) APELANTE: PAULA ARACELI DOS SANTOS GORAIEB - SP202665-A
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, SANDRA CRISTINA DOS
SANTOS
Advogado do(a) APELADO: PAULA ARACELI DOS SANTOS GORAIEB - SP202665-A
OUTROS PARTICIPANTES:
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APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº0012853-49.2014.4.03.6105
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SANTOS
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OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
A Juíza Federal Convocada Vanessa Mello:
Trata-se de novos embargos de declaração interpostos contra v. Acórdão que negou
provimento à apelação do INSS e à apelação da parte autora.
As ementas (ID 122866247):
“PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. APELAÇÃO. FIDELIDADE AO TÍTULO
EXECUTIVO. CONTADORIA JUDICIAL. CORREÇÃO MONETÁRIA DOS ATRASADOS.
MANUAL DE CÁLCULOS DA JUSTIÇA FEDERAL. LEI 11.960/2009. TAXA REFERENCIAL.
INCONSTITUCIONALIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
1. Com efeito, a execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, na disciplina
estabelecida no Código de Processo Civil de 1973, ocorre mediante um processo autônomo e
distinto da ação de conhecimento.
2. O valor requerido pela parte exequente, assim como nas demais ações, impõe um limite a
ser apreciado e julgado. Pelo princípio da congruência da decisão ao pedido, o julgamento está
adstrito aos termos do pleito inicial, razão pela qual é defeso ao juiz proferir sentença, a favor
do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou
em objeto diverso do que lhe foi demandado (art. 460, caput, do CPC/73).
3. Não merece reparo a sentença recorrida, na medida em que o juiz, ao homologar a conta
embargada, ateve-se ao rigor da lei processual.
4. Os Manuais de Cálculos da JF são aprovados por Resoluções do Conselho da Justiça
Federal - CJF e sofrem periódicas atualizações, sendo substituídos por novos manuais, para
adequarem-se às modificações legislativas supervenientes, devendo, assim, ser observada a
versão mais atualizada do manual, vigente na fase de execução do julgado.
5. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº 870.947, tema de
repercussão geral nº 810, em 20.09.2017, Relator Ministro Luiz Fux, declarou a
inconstitucionalidade da TR - Taxa Referencial.
6. Não merecem acolhida as razões de recurso interposto pela autarquia previdenciária, por
força da declaração de inconstitucionalidade da TR como índice de correção monetária.
7. A verba honorária fixada em favor da parte embargada encontra-se dentro dos parâmetros
adotados por esta E. Turma, razão pela qual não comporta alteração.
8. Apelação do INSS não provida. Apelação da parte embargada não provida.”.
A parte autora, ora embargante (ID 156634102), aponta suposta omissão na análise do
recebimento dos embargos anteriores, reitera a nulidade por ausência de intimação para
julgamento da apelação.
Sem resposta.
É o relatório.
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OUTROS PARTICIPANTES:
V O T O
A Juíza Federal Convocada Vanessa Mello:
A Constituição Federal de 1988, na cláusula impositiva da fundamentação das decisões
judiciais (art. 93, inciso X), não fez opção estilística. Sucinta ou laudatória, a fundamentação
deve ser, apenas, exposta no vernáculo (STJ, AI nº 169.073-SP-AgRg - Rel. Min. JOSÉ
DELGADO).
Aliás, quanto aos Embargos de Declaração, a E. Corte Especial do C. Superior de Justiça
assentou que:
“(...) 6. Os Embargos não constituem via própria para fazer prevalecer tese jurídica diferente da
que foi acolhida no Acórdão quando, em sua essência e finalidade, não se dirigem à omissão
ou outro vício, mas à nova declaração de efeito infringente. Osargumentosde que não foram
dissecadas todas as variantes e possibilidades cogitadas pela defesa trazem como
consequência a certeza de que pretendem os Embargos a declaração inversa do fundamento
jurídico da decisão, o que impede à Corte renovar o julgamento para declarar o que constituiria
nova manifestação de mérito em sentido contrário.
7. O julgamento dos Embargos não pode implicar acréscimo de razões irrelevantes à formação
do convencimento manifestado no Acórdão. O Tribunal não fica obrigado aexaminartodas as
minúcias e possibilidades abstratas invocadas pela defesa, desde que decida sob fundamentos
suficientes para sustentar a manifestação jurisdicional.
8. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem entendido que o que a Constituição exige
é que ojuizou tribunal dê as razões do seu convencimento, não estando ele obrigado a
responder a todas as alegações dos réus, mas tão somente àquelas que julgar necessárias
parafundamentarsua decisão: STF, Primeira Turma, AI 242.237 - AgR/GO, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence; RE 181.039-AgR/SP, Rel. Ministra Ellen Gracie.
9. A manifestação da Corte Especial consubstancia julgamento de mérito no qual as questões
jurídicas foram enfrentadas, adotados os fundamentos e a legislação aplicável, sendo
rejeitados, em consequência, os demaisargumentostrazidos pelo recorrente. O voto está
devidamente embasado e não há contradição entre os fatos e o direito aplicado. A Corte não é
obrigada a dizer por que osargumentossuscitados são dispensáveis frente àqueles que
realmente fundamentaram sua decisão, pois a motivação implícita representa que a adoção de
uma tese incompatível com outra implica rejeição desta, de forma tácita, o que tem respaldo na
jurisprudência (STF, HC 76.420/SP, Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJ 14/8/98).
(...)
12. Consoante pacífico entendimento de doutrina e da jurisprudência, não precisa o Tribunal
reportar-se atodososargumentostrazidos pelas partes, pois, ao acolher um argumento bastante
para a sua conclusão, não terá de dizer se os outros, que objetivam o mesmo fim, são
procedentes ou não.
(...)
(STJ, Corte Especial, EDAPN nº 843, DJe: 23/04/2018, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, grifei).
O v. Acórdão, integrado pelo julgamento dos embargos de declaração anteriormente opostos,
destacou expressamente (ID 108235364, fls. 162):
“De acordo com o art. 1.022 do Código de Processo Civil de 2015, os embargos de declaração
possuem função processual específica, que consiste em integrar, esclarecer, complementar ou
retificar a decisão embargada.
No caso em apreço, o embargante não logrou demonstrar a existência de omissão ou de
qualquer das hipóteses elencadas naquele dispositivo legal, de modo que o recurso oposto não
se presta à finalidade almejada pela parte embargante.
Passo, todavia, a apreciar a nulidade suscitada, por ser matéria de ordem pública, passível de
reconhecimento em qualquer momento processual e grau de jurisdição.
Da análise dos autos digitais, verifica-se constar no documento ID 137394359, juntado em
21/07/2020, pela respectiva Secretaria Judicial, a intimação das partes acerca do julgamento
dos recursos de apelação interpostos nos presentes autos, inclusive para fins de sustentação
oral, mediante sessão do órgão colegiado (Sétima Turma deste E. Tribunal), em 17/08/2020,
nos seguintes termos:
"O processo nº 0012853-49.2014.4.03.6105 foi incluído na sessão abaixo indicada, a qual será
realizada em ambiente exclusivamente eletrônico, podendo, entretanto, nesta ou nas
subsequentes, serem julgados os processos adiados ou remanescentes.
Ficam as partes intimadas para que, no prazo de 5 (cinco dias), por meio do endereço de
correio eletrônico da unidade processante, demonstrem interesse em que o julgamento seja
realizado de forma presencial, para fins de sustentação oral ou por outro motivo relevante,
ficando o feito automaticamente adiado para a sessão presencial subsequente,
independentemente de nova intimação."
Portanto, é infundada a argüição de nulidade, razão pela qual deve ser rejeitada.
Ante o exposto, rejeito os embargos de declaração e, de ofício, rejeito a alegação de nulidade
processual, nos termos da fundamentação.”.
Trata-se de pedido de reanálise da questão. Ademais, não procede a argumentação de que os
embargos não tenho sido conhecidos.
Pelo contrário, os embargos foram conhecidos e rejeitados, nos termos daquele voto.
Ademais, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do tema 975, firmou a tese de que:
“Aplica-se o prazo decadencial de dez anos estabelecido no art. 103, caput, da Lei 8.213/1991
às hipóteses em que a questão controvertida não foi apreciada no ato administrativo de análise
de concessão de benefício previdenciário.”
Não há, portanto, qualquer vício no v. Acórdão. Pedido e fundamento jurídico são institutos
processuais distintos. O Poder Judiciário, pela iniciativa das partes, está vinculado a decidir a
lide, em regra, nos termos do pedido. Mas a decisão fica sujeita a qualquer fundamento jurídico.
No caso, os embargos não demonstram a invalidade jurídica da fundamentação adotada no v.
Acórdão. Pretendem, é certo, outra. Não se trata, então, da ocorrência de vício na decisão da
causa, mas de sua realização por fundamento jurídico diverso da intelecção da parte.
Na realidade, o que se pretende, através do presente recurso, é o reexame do mérito da
decisão da Turma, o que não é possível em sede de embargos de declaração. Confira-se:
“PROCESSO CIVIL - MANDADO DE SEGURANÇA - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - ART.
535, DO CPC - SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL DA EXTINTA SUDAM - PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR - PENA DE CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA -
NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA - PREQUESTIONAMENTO DE MATÉRIA
CONSTITUCIONAL - AUSÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO -
NÍTIDO CARÁTER INFRINGENTE - REJEIÇÃO.
1 - Tendo o acórdão embargado reconhecido a insuficiência de comprovação do direito líquido e
certo, salientando a necessidade de dilação probatória, revestem-se de caráter infringente os
embargos interpostos a pretexto de omissão e prequestionamento, uma vez que pretendem
reabrir os debates meritórios acerca do tema.
2 - Por prerrogativa do dispositivo processual aventado, os Embargos de Declaração
consubstanciam instrumento processual adequado para excluir do julgado qualquer
obscuridade ou contradição ou, ainda, suprir omissão, cujo pronunciamento sobre a matéria se
impunha ao Colegiado, integralizando-o, não se adequando, todavia, para promover o efeito
modificativo do mesmo. Inteligência do art. 535 e incisos, do Código de Processo Civil.
3 - Precedentes (EDREsp nºs 120.229/PE e 202.292/DF).
4 - Embargos conhecidos, porém, rejeitados”.
(STJ, 3ª seção, EDMS 8263/DF, DJ 09/06/2003, Rel. Min. JORGE SCARTEZZINI).
Por estes fundamentos, rejeito os embargos de declaração da parte autora.
É o voto.
E M E N T A
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - ALEGAÇÃO DE VÍCIO: INEXISTÊNCIA - CARÁTER
INFRINGENTE: IMPOSSIBILIDADE - REJEIÇÃO. PRÉ-QUESTIONAMENTO.
1. O Poder Judiciário, pela iniciativa das partes, está vinculado a decidir a lide, em regra, nos
termos do pedido. Mas a decisão fica sujeita a qualquer fundamento jurídico.
2. Na solução da causa, a adoção de fundamento jurídico diverso do exposto pela parte não é
omissão. É divergência de intelecção na solução da lide, circunstância desqualificadora da
interposição de embargos de declaração.
3. A Constituição Federal não fez opção estilística, na imposição do requisito da fundamentação
das decisões. Esta pode ser laudatória ou sucinta. Deve ser, tão-só, pertinente e suficiente.
4. Embargos rejeitados. ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Sétima Turma, por
unanimidade, decidiu rejeitar os embargos de declaração da parte autora, nos termos do
relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA
