Processo
ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL / SP
5073390-39.2018.4.03.9999
Relator(a)
Desembargador Federal GILBERTO RODRIGUES JORDAN
Órgão Julgador
9ª Turma
Data do Julgamento
19/03/2019
Data da Publicação/Fonte
Intimação via sistema DATA: 22/03/2019
Ementa
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. ÓBITO EM 2001, NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
8.213/91. QUALIDADE DE SEGURADO. APOSENTADORIA AUFERIDA AO TEMPO DO ÓBITO.
UNIÃO ESTÁVEL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADO POR TESTEMUNHAS.
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. TERMO INICIAL. CRITÉRIOS DE INCIDÊNCIA DOS JUROS DE
MORA E DA CORREÇÃO MONETÁRIA.
- O óbito de Orlando Rodrigues de Araújo, ocorrido em 31 de outubro de 2001, foi comprovado
pela respectiva Certidão.
- Restou superado o requisito da qualidade de segurado, uma vez que o falecido era titular de
aposentadoria por velhice - trabalhador rural (NB 941114287), desde 20/12/1988, cuja cessação
decorreu de seu falecimento.
- A autora carreou aos autos início de prova material da união estável, consubstanciado em
Certidão de Nascimento pertinente à filha havida da relação marital, nascida em 03/12/1987, que
era ainda menor ao tempo do falecimento do segurado; Certidão de Óbito na qual restou
assentado que o de cujus convivia maritalmente havia quatorze anos com a parte autora; Cópia
do mandado de averbação expedido nos autos de processo nº 241/2000, os quais tramitaram
perante a Vara Distrital de Panorama – SP, referente ao divórcio direto consensual requerido pelo
ex-cônjuge Ana Francisco Araújo em face de Orlando Rodrigues de Araújo.
- Por outro lado, depreende-se do extrato do Sistema Único de Benefícios – DATAPREV que, em
razão do falecimento de Orlando Rodrigues de Araújo, o INSS instituiu administrativamente em
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
favor de Ana Francisca de Araújo o benefício previdenciário de pensão por morte (NB
21/121.591.680-6), o qual estivera em vigor entre 31/10/2001 e 24/02/2012, tendo sido cessado
em razão do falecimento da titular.
- Não obstante, a união estável a união estável vivenciada ao tempo do falecimento foi
corroborada pelos depoimentos colhidos em mídia audiovisual, em audiência realizada em 08 de
fevereiro de 2018, na qual as testemunhas Maria Aparecida Freitas Nascimento e Lorival Nicolau
foram unânimes em afirmar terem conhecido a parte autora e o falecido segurado e que, por
residirem no mesmo município (Panorama – SP), puderam vivenciar que o convívio marital
perdurou por cerca de quatorze anos, o qual se prorrogou até a data do falecimento.
Ressaltaram, no entanto, que Orlando houvera sido casado com Ana Francisca de Araújo, de
quem se divorciou e, na sequência, passou a conviver com a parte autora. Esclareceram que o
casal teve uma filha em comum, que ainda era menor ao tempo do falecimento do genitor.
- Desnecessária a comprovação da dependência econômica, pois esta é presumida em relação
ao companheiro, segundo o art. 16, I, § 4º, da Lei de Benefícios.
- O termo inicial deve ser fixado na data do requerimento administrativo (31/01/2017), nos termos
do artigo 74, II da Lei nº 8.213/91.
- Conforme disposição inserta no art. 219 do Código de Processo Civil 1973 (atual art. 240 Código
de Processo Civil - Lei nº 13.105/2015), os juros de mora são devidos a partir da citação na
ordem de 6% (seis por cento) ao ano, até a entrada em vigor da Lei nº 10.406/02, após, à razão
de 1% ao mês, consonante com o art. 406 do Código Civil e, a partir da vigência da Lei nº
11.960/2009 (art. 1º-F da Lei 9.494/1997), calculados nos termos deste diploma legal.
- A correção monetária deve ser aplicada em conformidade com a Lei n. 6.899/81 e legislação
superveniente (conforme o Manual de Cálculos da Justiça Federal), observados os termos da
decisão final no julgamento do RE n. 870.947, Rel. Min. Luiz Fux.
- Os honorários advocatícios deverão ser fixados na liquidação do julgado, nos termos do inciso
II, do § 4º, c.c. §11, do artigo 85, do CPC/2015.
- Por se tratar de demanda aforada no Estado de São Paulo, o INSS é isento de custas e
despesas processuais, com respaldo na Lei Estadual nº 11.608/03.
- Apelação da parte autora a qual se dá provimento.
Acórdao
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5073390-39.2018.4.03.9999
RELATOR: Gab. 33 - DES. FED. GILBERTO JORDAN
APELANTE: LUZIA MONARE
Advogado do(a) APELANTE: CASSIA REGINA APARECIDA VILLA - SP179387-N
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
APELAÇÃO (198) Nº 5073390-39.2018.4.03.9999
RELATOR: Gab. 33 - DES. FED. GILBERTO JORDAN
APELANTE: LUZIA MONARE
Advogado do(a) APELANTE: CASSIA REGINA APARECIDA VILLA - SP179387-N
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
R E L A T Ó R I O
Trata-se de apelação interposta em ação ajuizada por LUZIA MONARE em face do INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, objetivando o benefício de pensão por morte, em
decorrência do falecimento de Orlando Rodrigues de Araújo, ocorrido em 31 de outubro de 2001.
A r. sentença recorrida julgou improcedente o pedido, ao reputar não comprovada a dependência
econômica da autora em relação ao falecido segurado (id 8398518 – p. 1/2).
Em suas razões recursais, pugna a parte autora pela reforma da sentença, com o decreto de
procedência do pleito, ao argumento de ter logrado comprovar a união estável vivenciada com o
segurado até a data de seu falecimento (id 8398539 – p. 1/5).
Contrarrazões (id 8398560 – p. 1).
Devidamente processado o recurso, subiram os autos a esta instância para decisão.
É o relatório.
APELAÇÃO (198) Nº 5073390-39.2018.4.03.9999
RELATOR: Gab. 33 - DES. FED. GILBERTO JORDAN
APELANTE: LUZIA MONARE
Advogado do(a) APELANTE: CASSIA REGINA APARECIDA VILLA - SP179387-N
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
V O T O
Tempestivo o recurso e respeitados os demais pressupostos de admissibilidade recursais, passo
ao exame da matéria objeto de devolução.
DA PENSÃO POR MORTE
O primeiro diploma legal brasileiro a prever um benefício contra as consequências da morte foi a
Constituição Federal de 1946, em seu art. 157, XVI. Após, sobreveio a Lei n.º 3.807, de 26 de
agosto de 1960 (Lei Orgânica da Previdência Social), que estabelecia como requisito para a
concessão da pensão o recolhimento de pelo menos 12 (doze) contribuições mensais e fixava o
valor a ser recebido em uma parcela familiar de 50% (cinquenta por cento) do valor da
aposentadoria que o segurado percebia ou daquela a que teria direito, e tantas parcelas iguais,
cada uma, a 10% (dez por cento) por segurados, até o máximo de 5 (cinco).
A Constituição Federal de 1967 e sua Emenda Constitucional n.º 1/69, também disciplinaram o
benefício de pensão por morte, sem alterar, no entanto, a sua essência.
A atual Carta Magna estabeleceu em seu art. 201, V, que:
"A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de
filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e
atenderá, nos termos da lei a:
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no § 2º."
A Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991 e seu Decreto Regulamentar n.º 3048, de 06 de maio de
1999, disciplinaram em seus arts. 74 a 79 e 105 a 115, respectivamente, o benefício de pensão
por morte, que é aquele concedido aos dependentes do segurado, em atividade ou aposentado,
em decorrência de seu falecimento ou da declaração judicial de sua morte presumida.
Depreende-se do conceito acima mencionado que para a concessão da pensão por morte é
necessário o preenchimento de dois requisitos: ostentar o falecido a qualidade de segurado da
Previdência Social, na data do óbito e possuir dependentes incluídos no rol do art. 16 da
supracitada lei.
A qualidade de segurado, segundo Wladimir Novaes Martinez, é a:
"denominação legal indicativa da condição jurídica de filiado, inscrito ou genericamente atendido
pela previdência social. Quer dizer o estado do assegurado, cujos riscos estão
previdenciariamente cobertos." (Curso de Direito Previdenciário. Tomo II - Previdência Social.
São Paulo: LTr, 1998, p. 594).
Mantém a qualidade de segurado aquele que, mesmo sem recolher as contribuições, conserve
todos os direitos perante a Previdência Social, durante um período variável, a que a doutrina
denominou "período de graça", conforme o tipo de segurado e a sua situação, nos termos do art.
15 da Lei de Benefícios, a saber:
"Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:
I - sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;
II - até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer
atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem
remuneração;
III - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de
segregação compulsória;
IV - até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;
V - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para
prestar serviço militar;
VI - até (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo."
É de se observar, ainda, que o § 1º do supracitado artigo prorroga por 24 (vinte e quatro) meses
tal período de graça aos que contribuíram por mais de 120 (cento e vinte) meses.
Em ambas as situações, restando comprovado o desemprego do segurado perante o órgão do
Ministério do Trabalho ou da Previdência Social, os períodos serão acrescidos de mais 12 (doze)
meses. A comprovação do desemprego pode se dar por qualquer forma, até mesmo oral, ou pela
percepção de seguro-desemprego.
Convém esclarecer que, conforme disposição inserta no § 4º do art. 15 da Lei nº 8.213/91, c.c. o
art. 14 do Decreto Regulamentar nº 3.048/99, com a nova redação dada pelo Decreto nº
4.032/01, a perda da qualidade de segurado ocorrerá no 16º dia do segundo mês seguinte ao
término do prazo fixado no art. 30, II, da Lei nº 8.212/91 para recolhimento da contribuição,
acarretando, consequentemente, a caducidade de todos os direitos previdenciários.
Conforme já referido, a condição de dependentes é verificada com amparo no rol estabelecido
pelo art. 16 da Lei de Benefícios, segundo o qual possuem dependência econômica presumida o
cônjuge, o(a) companheiro(a) e o filho menor de 21 (vinte e um) anos, não emancipado ou
inválido. Também ostentam a condição de dependente do segurado, desde que comprovada a
dependência econômica, os pais e o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21
(vinte e um) anos ou inválido.
De acordo com o § 2º do supramencionado artigo, o enteado e o menor tutelado são equiparados
aos filhos mediante declaração do segurado e desde que comprovem a dependência econômica.
DO CASO DOS AUTOS
O óbito de Orlando Rodrigues de Araújo, ocorrido em 31 de outubro de 2001, está comprovado
pela respectiva Certidão (id 8398398 – p. 1).
Também restou superado o requisito da qualidade de segurado. Consoante se infere das
informações constantes no extrato do CNIS, o de cujus era titular do benefício previdenciário de
aposentadoria por velhice – trabalhador rural (NB 941114287), desde 20/12/1988, cuja cessação
decorreu de seu falecimento (id 8398459 – p. 1).
A controvérsia cinge-se, sobretudo, à comprovação da união estável vivenciada ao tempo do
falecimento. A esse respeito, a postulante carreou aos autos início de prova material,
consubstanciado nos documentos que destaco:
- Certidão de Nascimento pertinente à filha havida da relação marital, nascida em 03/12/1987,
que era ainda menor ao tempo do falecimento do segurado (id 8398403);
- Na Certidão de Óbito restou assentado que o de cujus convivia maritalmente havia quatorze
anos com a parte autora, conquanto fosse casado com Ana Francisca Araújo (id 8398398 – p. 1);
- Cópia do mandado de averbação expedido nos autos de processo nº 241/2000, os quais
tramitaram perante a Vara Distrital de Panorama – SP, referente ao divórcio direto consensual
requerido por Ana Francisco Araújo em face de Orlando Rodrigues de Araújo (id 8398398 – p. 1).
Por outro lado, depreende-se do extrato do Sistema Único de Benefícios – DATAPREV (id
8398463 – P. 1) que, em razão do falecimento de Orlando Rodrigues de Araújo, o INSS instituiu
administrativamente em favor de Ana Francisca de Araújo o benefício previdenciário de pensão
por morte (NB 21/121.591.680-6), o qual estivera em vigor entre 31/10/2001 e 24/02/2012, tendo
sido cessado em razão do falecimento da titular.
Não obstante, a união estável vivenciada ao tempo do falecimento foi corroborada pelos
depoimentos colhidos em mídia audiovisual, em audiência realizada em 08 de fevereiro de 2018,
na qual as testemunhas Maria Aparecida Freitas Nascimento e Lorival Nicolau foram unânimes
em afirmar terem conhecido a parte autora e o falecido segurado e que, por residirem no mesmo
município (Panorama – SP), puderam vivenciar que o convívio marital perdurou por cerca de
quatorze anos, o qual se prorrogou até a data do falecimento. Ressaltaram, no entanto, que
Orlando houvera sido casado com Ana Francisca de Araújo, de quem se divorciou e, na
sequência, passou a conviver com a parte autora. Esclareceram que o casal teve uma filha em
comum, que ainda era menor ao tempo do falecimento do genitor.
Dentro deste quadro, desnecessária é a demonstração da dependência econômica, pois,
segundo o art. 16, I, § 4º, da Lei de Benefícios, a mesma é presumida em relação à companheira.
Em face de todo o explanado, a postulante faz jus ao benefício de pensão por morte.
CONSECTÁRIOS
TERMO INICIAL
O termo inicial do benefício de pensão por morte, segundo o art. 74 da Lei nº 8.213/91, com a
redação vigente ao tempo do falecimento, conferida pela Lei nº 9.528, de 10 de dezembro de
1997, será o da data do óbito, caso requerido até trinta dias após a sua ocorrência, ou na data em
que for pleiteado, se transcorrido este prazo.
Na hipótese dos autos, tendo sido requerido o benefício após o lapso temporal de trinta dias, o
dies a quo deve ser a data do requerimento administrativo (31/01/2017), pois foi o momento em
que a Autarquia Previdenciária tomou conhecimento da pretensão da parte autora e ofereceu
resistência.
JUROS DE MORA
Conforme disposição inserta no art. 219 do Código de Processo Civil 1973 (atual art. 240 Código
de Processo Civil - Lei nº 13.105/2015), os juros de mora são devidos a partir da citação na
ordem de 6% (seis por cento) ao ano, até a entrada em vigor da Lei nº 10.406/02, após, à razão
de 1% ao mês, consonante com o art. 406 do Código Civil e, a partir da vigência da Lei nº
11.960/2009 (art. 1º-F da Lei 9.494/1997), calculados nos termos deste diploma legal.
CORREÇÃO MONETÁRIA
A correção monetária deve ser aplicada em conformidade com a Lei n. 6.899/81 e legislação
superveniente (conforme o Manual de Cálculos da Justiça Federal), observados os termos da
decisão final no julgamento do RE n. 870.947, Rel. Min. Luiz Fux.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Com o advento do novo Código de Processo Civil, foram introduzidas profundas mudanças no
princípio da sucumbência, e em razão destas mudanças e sendo o caso de sentença ilíquida, a
fixação do percentual da verba honorária deverá ser definida somente na liquidação do julgado,
com observância ao disposto no inciso II, do § 4º c.c. § 11, ambos do artigo 85, do CPC/2015,
bem como o artigo 86, do mesmo diploma legal.
Os honorários advocatícios, a teor da Súmula 111 do E. STJ incidem sobre as parcelas vencidas
até a sentença de procedência; contudo, uma vez que a pretensão do segurado somente foi
deferida nesta sede recursal, a condenação da verba honorária incidirá sobre as parcelas
vencidas até a data da presente decisão ou acórdão, atendendo ao disposto no § 11 do artigo 85,
do CPC.
CUSTAS
Conquanto a Lei Federal nº 9.289/96 disponha no art. 4º, I, que as Autarquias são isentas do
pagamento de custas na Justiça Federal, seu art. 1º, §1º, delega à legislação estadual normatizar
sobre a respectiva cobrança nas causas ajuizadas perante a Justiça Estadual no exercício da
competência delegada. Note-se que, em se tratando das demandas aforadas no Estado de São
Paulo, tal isenção encontra respaldo na Lei Estadual nº 11.608/03 (art. 6º).
A isenção referidanão abrange as despesas processuais que houver efetuado, bem como,
aquelas devidas a título de reembolso à parte contrária, por força da sucumbência.
DISPOSITIVO
Ante o exposto, dou provimento à apelação da parte autora, para reformar a sentença recorrida e
julgar parcialmente procedente o pedido, deferindo-lhe o benefício de pensão por morte, a contar
da data do requerimento administrativo (31/01/2017), na forma da fundamentação. Honorários
advocatícios conforme o consignado.
É o voto.
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. ÓBITO EM 2001, NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
8.213/91. QUALIDADE DE SEGURADO. APOSENTADORIA AUFERIDA AO TEMPO DO ÓBITO.
UNIÃO ESTÁVEL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADO POR TESTEMUNHAS.
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. TERMO INICIAL. CRITÉRIOS DE INCIDÊNCIA DOS JUROS DE
MORA E DA CORREÇÃO MONETÁRIA.
- O óbito de Orlando Rodrigues de Araújo, ocorrido em 31 de outubro de 2001, foi comprovado
pela respectiva Certidão.
- Restou superado o requisito da qualidade de segurado, uma vez que o falecido era titular de
aposentadoria por velhice - trabalhador rural (NB 941114287), desde 20/12/1988, cuja cessação
decorreu de seu falecimento.
- A autora carreou aos autos início de prova material da união estável, consubstanciado em
Certidão de Nascimento pertinente à filha havida da relação marital, nascida em 03/12/1987, que
era ainda menor ao tempo do falecimento do segurado; Certidão de Óbito na qual restou
assentado que o de cujus convivia maritalmente havia quatorze anos com a parte autora; Cópia
do mandado de averbação expedido nos autos de processo nº 241/2000, os quais tramitaram
perante a Vara Distrital de Panorama – SP, referente ao divórcio direto consensual requerido pelo
ex-cônjuge Ana Francisco Araújo em face de Orlando Rodrigues de Araújo.
- Por outro lado, depreende-se do extrato do Sistema Único de Benefícios – DATAPREV que, em
razão do falecimento de Orlando Rodrigues de Araújo, o INSS instituiu administrativamente em
favor de Ana Francisca de Araújo o benefício previdenciário de pensão por morte (NB
21/121.591.680-6), o qual estivera em vigor entre 31/10/2001 e 24/02/2012, tendo sido cessado
em razão do falecimento da titular.
- Não obstante, a união estável a união estável vivenciada ao tempo do falecimento foi
corroborada pelos depoimentos colhidos em mídia audiovisual, em audiência realizada em 08 de
fevereiro de 2018, na qual as testemunhas Maria Aparecida Freitas Nascimento e Lorival Nicolau
foram unânimes em afirmar terem conhecido a parte autora e o falecido segurado e que, por
residirem no mesmo município (Panorama – SP), puderam vivenciar que o convívio marital
perdurou por cerca de quatorze anos, o qual se prorrogou até a data do falecimento.
Ressaltaram, no entanto, que Orlando houvera sido casado com Ana Francisca de Araújo, de
quem se divorciou e, na sequência, passou a conviver com a parte autora. Esclareceram que o
casal teve uma filha em comum, que ainda era menor ao tempo do falecimento do genitor.
- Desnecessária a comprovação da dependência econômica, pois esta é presumida em relação
ao companheiro, segundo o art. 16, I, § 4º, da Lei de Benefícios.
- O termo inicial deve ser fixado na data do requerimento administrativo (31/01/2017), nos termos
do artigo 74, II da Lei nº 8.213/91.
- Conforme disposição inserta no art. 219 do Código de Processo Civil 1973 (atual art. 240 Código
de Processo Civil - Lei nº 13.105/2015), os juros de mora são devidos a partir da citação na
ordem de 6% (seis por cento) ao ano, até a entrada em vigor da Lei nº 10.406/02, após, à razão
de 1% ao mês, consonante com o art. 406 do Código Civil e, a partir da vigência da Lei nº
11.960/2009 (art. 1º-F da Lei 9.494/1997), calculados nos termos deste diploma legal.
- A correção monetária deve ser aplicada em conformidade com a Lei n. 6.899/81 e legislação
superveniente (conforme o Manual de Cálculos da Justiça Federal), observados os termos da
decisão final no julgamento do RE n. 870.947, Rel. Min. Luiz Fux.
- Os honorários advocatícios deverão ser fixados na liquidação do julgado, nos termos do inciso
II, do § 4º, c.c. §11, do artigo 85, do CPC/2015.
- Por se tratar de demanda aforada no Estado de São Paulo, o INSS é isento de custas e
despesas processuais, com respaldo na Lei Estadual nº 11.608/03.
- Apelação da parte autora a qual se dá provimento.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Nona Turma, por
unanimidade, decidiu dar provimento à apelação da parte autora, nos termos do relatório e voto
que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA
