Processo
ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL / SP
5001413-68.2020.4.03.6134
Relator(a)
Desembargador Federal JOAO BATISTA GONCALVES
Órgão Julgador
9ª Turma
Data do Julgamento
19/08/2021
Data da Publicação/Fonte
DJEN DATA: 25/08/2021
Ementa
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. SEPARAÇÃO JUDICIAL. DEPENDÊNCIA
ECONÔMICA NÃO COMPROVADA. APELO IMPROVIDO.
- Em decorrência do cânone tempus regit actum, resultam aplicáveis ao caso os ditames da Lei n.
8.213/1991 e modificações subsequentes até então havidas, reclamando-se, à outorga do
benefício de pensão por morte, a concomitância de dois pressupostos, tais sejam, ostentação
pelo falecido de condição de segurado à época do passamento e a dependência econômica,
figurando dispensada a comprovação de carência (art. 26, inciso I, da Lei n° 8.213/91).
- Dos pressupostos legalmente previstos para o implante da benesse vindicada, não há
controvérsia acerca do óbito e da qualidade de segurado do falecido, cingindo-se a discussão à
comprovação da dependência econômica da requerente, ex-esposa do de cujus.
- O conjunto probatório não evidencia que houvesse tal dependência.
- Apelação autoral improvida.
Acórdao
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região
9ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº5001413-68.2020.4.03.6134
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
RELATOR:Gab. 30 - DES. FED. BATISTA GONÇALVES
APELANTE: DURCE LEA LOPES THEZOLIN
Advogado do(a) APELANTE: CINTIA CRISTINA FURLAN - SP310130-A
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região9ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº5001413-68.2020.4.03.6134
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APELANTE: DURCE LEA LOPES THEZOLIN
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APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
O Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal Batista Gonçalves:
Cuida-se de apelação da parte autora, interposta em face de sentença, que julgou
improcedente o pedido de pensão por morte, nos termos do art. 487, I, do Código de Processo
Civil. Condenou a parte autora ao pagamento de despesas processuais e honorários
advocatícios de sucumbência, fixados no percentual mínimo, nos termos do art. 85, §§ 3º, 5º e
11, do CPC, observada a suspensão prevista na lei adjetiva (§§ 2º e 3º do art. 98), por ser a
parte beneficiária da justiça gratuita.
Aduz a parte autora, em síntese, que o seu pedido deve ser julgado procedente, uma vez que
mesmo separada do de cujus, o mesmo lhe prestava assistência, conforme prova documental e
testemunhal acostada aos autos, demonstrando, assim, sua dependência econômica.
Decorrido, in albis, o prazo para as contrarrazões de recurso, subiram os autos a esta Corte.
É o relatório.
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região9ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº5001413-68.2020.4.03.6134
RELATOR:Gab. 30 - DES. FED. BATISTA GONÇALVES
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APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
V O T O
O Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal Batista Gonçalves:
Discute-se o direito da parte autora à concessão de benefício de pensão por morte.
Em decorrência do cânone tempus regit actum, tendo o falecimento do apontado instituidor,
Aparecido Thezolin, ocorrido em 21.03.2018, conforme certidão de óbito, resultam aplicáveis ao
caso os ditames da Lei nº 8.213/1991 e modificações subsequentes até então havidas,
reclamando-se, para a outorga da benesse pretendida, a concomitância de dois pressupostos,
tais sejam, ostentação pelo falecido de condição de segurado à época do passamento e a
dependência econômica que, no caso, goza de presunção relativa.
Confira-se, a propósito, a previsão legislativa sobre o tema, Lei n. 8.213 disciplinadora do
benefício em destaque:
ART. 16.
São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do
segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição,
menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou
deficiência grave; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
§ 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união
estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição
Federal.
§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais
deve ser comprovada
ART. 74.
A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer,
aposentado ou não, a contar da data: (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997)
I - do óbito, quando requerida até noventa dias depois deste; (Redação dada pela Lei nº 13.183,
de 2015)
II - do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior; (Incluído pela
Lei nº 9.528, de 1997)
ART. 77.
A pensão por morte , havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos em parte
iguais. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)
§ 2o O direito à percepção de cada cota individual cessará: (Redação dada pela Lei nº 13.135,
de 2015)
(....)
V - para cônjuge ou companheiro: (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
a) se inválido ou com deficiência, pela cessação da invalidez ou pelo afastamento da
deficiência, respeitados os períodos mínimos decorrentes da aplicação das alíneas "b" e "c";
(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
b) em 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o segurado tenha vertido 18 (dezoito)
contribuições mensais ou se o casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em menos
de 2 (dois) anos antes do óbito do segurado; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
c) transcorridos os seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a idade do beneficiário na
data de óbito do segurado, se o óbito ocorrer depois de vertidas 18 (dezoito) contribuições
mensais e pelo menos 2 (dois) anos após o início do casamento ou da união estável: (Incluído
pela Lei nº 13.135, de 2015)
1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de
2015)
2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de idade; (Incluído pela Lei nº
13.135, de 2015)
3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos de idade; (Incluído pela Lei nº
13.135, de 2015)
4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135,
de 2015)
5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e três) anos de idade; (Incluído pela
Lei nº 13.135, de 2015)
6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade. (Incluído pela Lei nº 13.135, de
2015)
Dos pressupostos legalmente previstos para o implante da benesse vindicada, não há
controvérsia acerca do óbito e da qualidade de segurado do falecido (recebia aposentadoria
especial - NB 46/0680537490).
Na qualidade de esposa, a dependência econômica seria presumida, nos termos do art. 16,
inciso I, § 4º, da Lei de Benefícios.
Note-se, porém, que o fato de a parte-requerente ter rompido a convivência com o de cujus,
vivendo separados ao tempo do seu óbito, exclui a presunção legal de dependência, embora a
necessidade de auxílio possa ser comprovada pelos meios admitidos pela legislação de
regência. Realmente, o rompimento da relação conjugal, de fato ou de direito, não é obstáculo à
percepção da pensão por morte, desde que mantida a dependência econômica, pois a
legislação previdenciária não pode desabrigar a ex-esposa ou ex-companheira, se essa tem
direito a alimentos, motivo pelo qual o importante é estabelecer o nexo de dependência entre a
parte-requerente e o de cujus. Nesse sentido, a Terceira Seção do STJ, na Súmula nº 336,
pacificou a questão com relação a concessão do benefício a viúva que tenha renunciado os
alimentos: A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão
previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente.
Nesse sentido, trago à colação os seguintes julgados desta e. Corte:
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. SEPARAÇÃO JUDICIAL. ALEGAÇÃO DE UNIÃO
ESTÁVEL POSTERIOR. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. FALECIDO COABITAVA COM
OUTRA COMPANHEIRA. SUCUMBÊNCIA RECURSAL. APELAÇÃO IMPROVIDA. - Em
atenção ao princípio tempus regit actum, aplica-se, no tocante à concessão de benefícios
previdenciários, a lei vigente à época do fato que o originou, na forma da súmula nº 340 do
Superior Tribunal de Justiça. - Para a obtenção da pensão por morte, portanto, são necessários
os seguintes requisitos: condição de dependente e qualidade de segurado do falecido. - A
autora separou-se judicialmente do de cujus, depois de viverem casados por décadas, e não
comprovou eventual reatamento do relacionamento, a despeito do bom relacionamento e da
pensão alimentícia paga pelo falecido ao filho menor. Alegação de união estável posterior não
comprovada. - É mantida a condenação da parte autora a pagar custas processuais e
honorários de advogado, arbitrados em 15% sobre o valor corrigido da causa, já majorados em
razão da fase recursal, conforme critérios do art. 85, §§ 1º e 11, do Novo CPC. Porém, fica
suspensa a exigibilidade, na forma do art. 98, § 3º, do referido código, por ser beneficiária da
justiça gratuita. - Apelação não provida.
(ApCiv 5524917-28.2019.4.03.9999, Juiz Federal Convocado RODRIGO ZACHARIAS, TRF3 -
9ª Turma, e - DJF3 Judicial 1 DATA: 12/08/2019.) – grifo nosso.
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. NÃO PREENCHIDOS OS REQUISITOS PARA A
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. - Pedido de pensão pela morte do ex-marido. - O falecido
recebia aposentadoria por invalidez por ocasião da morte. Não se cogita que não ostentasse a
qualidade de segurado. - A requerente comprova ter se casado com o falecido em 02.02.1974 e
dele se separado judicialmente em 07.08.2003. - Apesar de a inicial falar em convivência marital
do casal por ocasião da morte, ocorrida pouco após a conversão da separação em divórcio, a
própria autora negou, em audiência, que fosse companheira do falecido, esclarecendo que
deixou de ter contato com ele após a mudança do de cujus para Jundiaí. Cumpre, então,
analisar a alegada dependência econômica da requerente em relação ao de cujus. - Inexiste
início de prova de material de qualquer ajuda financeira prestada pelo ex-marido à autora. Além
disso, não há comprovação de que a requerente, em algum momento, tenha pleiteado o
pagamento de pensão alimentícia pelo ex-marido, nem início de prova material de que ele a
auxiliasse financeiramente de maneira habitual e consistente. - A autora afirmou, em audiência,
que sempre recebeu ajuda do falecido, que era entregue em mantimentos ou dinheiro, por
intermédio de um amigo da família. E apresentou em audiência uma única testemunha, que
afirmou ser o intermediário do suposto auxílio. A prova testemunhal, nesse caso, revela-se
frágil, sem menção a valores específicos e sem mínimo respaldo documental. - Ainda que se
admita a comprovação da necessidade superveniente de alimentos, não houve demonstração
de qualquer ajuda financeira prestada pelo de cujus à autora após a dissolução da união. - Não
comprovado o preenchimento dos requisitos legais para concessão de pensão por morte, o
direito que persegue a requerente não merece ser reconhecido. - Apelo da Autarquia provido.
Cassada a tutela antecipada.
(ApCiv 5006399-83.2018.4.03.6183, Desembargador Federal TANIA REGINA MARANGONI,
TRF3 - 8ª Turma, e - DJF3 Judicial 1 DATA: 12/06/2019.) – grifo nosso.
Conforme se abstrai dos documentos constantes dos autos, a requerente casou-se com o de
cujus em 11.04.1975, separando-se judicialmente em 24.11.2009. Confiram-se autos do
processo nº 533.01.2009.012480-2, que tramitou na 2ª Vara Cível do Foro de Santa Bárbara
D’Oeste – SP, transitado em 24.11.2009 (ID 160822243). Constou do termo de separação que
o falecido pagaria uma pensão alimentícia diretamente a requerente no percentual de 40% do
valor do benefício que recebia perante o INSS.
Em audiência realizada em 11.02.21, a requerente, em seu depoimento pessoal, declarou que o
de cujus a ajudava com o pagamento de um valor que correspondia a 40% do benefício que o
falecido recebia, sendo que ultimamente era em torno de R$ 1.000,00. Afirmou que como ele
dava o dinheiro em mãos e ela o utilizava para pagar as despesas, não tem nenhum
comprovante desse pagamento.
Por sua vez, a filha do casal, na condição de informante, também informou que o pai ajudava a
mãe mensalmente, dando em mãos uma porcentagem do benefício que recebia, sendo que
essa ajuda perdurou até a data do óbito.
Contudo, as testemunhas não corroboraram com tais depoimentos.
A primeira testemunha, afirmou que conversava com a requerente, em média, a cada dois
meses, quando a parte autora ia cortar o cabelo com ela. Declarou que o falecido ajudava a
requerente com remédios, quando ela precisava, mas que não era uma ajuda financeira
mensal.
Por outro lado, a segunda testemunha, vizinha da requerente, afirmou que apenas uma vez, em
2015, teve uma conversa com a requerente, onde ela informou que o marido pagava a pensão
e que essa ajuda era importante para a complementação do orçamento, não sabendo informar
se esse recebimento foi até a data do óbito do segurado.
Verifica-se que não há comprovação do recebimento da pensão alimentícia, por parte da
autora, até a data do óbito do segurado, uma vez que a prova documental é de 2009 e a prova
testemunhal não corroborou com tal afirmação. Desse modo, inaplicável o disposto no art. 76, §
2º, da Lei nº 8.213/91.
Desse modo, em valoração às provas produzidas no presente feito, reputo inexistirem
elementos suficientes ao reconhecimento da dependência econômica entre a autora e o
segurado ao tempo do óbito deste.
Desse modo, de rigor a manutenção do decisum ora recorrido.
Ante o exposto, NEGOPROVIMENTOAO APELO AUTORAL, nos termos da fundamentação
supra.
É como voto.
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. SEPARAÇÃO JUDICIAL. DEPENDÊNCIA
ECONÔMICA NÃO COMPROVADA. APELO IMPROVIDO.
- Em decorrência do cânone tempus regit actum, resultam aplicáveis ao caso os ditames da Lei
n. 8.213/1991 e modificações subsequentes até então havidas, reclamando-se, à outorga do
benefício de pensão por morte, a concomitância de dois pressupostos, tais sejam, ostentação
pelo falecido de condição de segurado à época do passamento e a dependência econômica,
figurando dispensada a comprovação de carência (art. 26, inciso I, da Lei n° 8.213/91).
- Dos pressupostos legalmente previstos para o implante da benesse vindicada, não há
controvérsia acerca do óbito e da qualidade de segurado do falecido, cingindo-se a discussão à
comprovação da dependência econômica da requerente, ex-esposa do de cujus.
- O conjunto probatório não evidencia que houvesse tal dependência.
- Apelação autoral improvida. ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Nona Turma, por
unanimidade, decidiu negar provimento ao apelo autoral, nos termos do relatório e voto que
ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA
