Processo
ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL / SP
6209720-89.2019.4.03.9999
Relator(a)
Desembargador Federal MARIA LUCIA LENCASTRE URSAIA
Órgão Julgador
10ª Turma
Data do Julgamento
28/07/2021
Data da Publicação/Fonte
Intimação via sistema DATA: 30/07/2021
Ementa
E M E N T A
PROCESSO CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO. PRÉVIO REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO. INTERESSE DE AGIR. APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO. ANULAÇÃO DA SENTENÇA.
1. Havendo a comprovação da prévia postulação administrativa, fica afastada a extinção do
processo sem resolução do mérito, restando caracterizado o interesse de agir da parte autora.
2. Anulação da sentença e retorno dos autos ao juízoa quo.
3. Apelação da parte autora provida.
Acórdao
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região
10ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº6209720-89.2019.4.03.9999
RELATOR:Gab. 36 - DES. FED. LUCIA URSAIA
APELANTE: SANDRA ALVES CARDOSO BORGES
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
Advogado do(a) APELANTE: EMERSOM GONCALVES BUENO - SP190192-N
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região10ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº6209720-89.2019.4.03.9999
RELATOR:Gab. 36 - DES. FED. LUCIA URSAIA
APELANTE: SANDRA ALVES CARDOSO BORGES
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APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
A Senhora Desembargadora Federal LUCIA URSAIA (Relatora):Proposta ação de
conhecimento de natureza previdenciária, objetivando a concessão do benefício de
aposentadoria por tempo de contribuição, mediante reconhecimento de atividade rural, sem
registro em CPTS, sobreveio sentença que indeferiu a petição inicial e extinguiu o processo,
sem julgamento do mérito, com fundamento no art. 321, parágrafo único, c. c. art. 485, I, ambos
do Código de Processo Civil (Id 108467931).
Inconformada, a parte autora interpôs recurso de apelação, pugnando pela anulação da
sentença, por entender que a exigência de apresentação de requerimento administrativo
recente para propositura da demanda afronta a Súmula nº 9 do TRF da 3ª Região e o livre
acesso ao Judiciário. Pondera, ademais, ter sido juntado aos autos o requerimento
administrativo NB 42/180.929.019-5, cujo benefício foi denegado em 26/04/2017, com a
propositura da ação em 06/02/2019 (Id 108467934).
Sem contrarrazões, os autos foram remetidos a este Tribunal.
É o relatório.
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região10ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº6209720-89.2019.4.03.9999
RELATOR:Gab. 36 - DES. FED. LUCIA URSAIA
APELANTE: SANDRA ALVES CARDOSO BORGES
Advogado do(a) APELANTE: EMERSOM GONCALVES BUENO - SP190192-N
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
V O T O
A Senhora Desembargadora Federal LUCIA URSAIA (Relatora): Recebo o recurso de
apelação, haja vista que tempestivo, nos termos do artigo 1.010 do novo Código de Processo
Civil.
Objetiva a parte autora com a presente demanda a condenação do INSS ao pagamento do
benefício de aposentadoria por tempo de contribuição (NB 42/180.929.019-5), desde o
requerimento administrativo (26/04/2017), mediante reconhecimento do tempo de serviço rural,
sem registro em CTPS.
A r. sentençaindeferiu a petição inicial e extinguiu o feito, sem resolução do mérito, nos termos
do art. 321, parágrafo único, e art. 485, I, CPC/15, por não ter a parte autora atendido à
determinação do Juízo para “juntar aos autos cópia de novo processo administrativo com prazo
não superior a seis meses (...)” (Id 108467931).
A respeito do prévio requerimento administrativo, o Colendo Supremo Tribunal Federal, em
recente julgamento sobre a matéria (03/09/2014), nos autos do Recurso Extraordinário RE
631.240/MG, com repercussão geral reconhecida, adotou o entendimento segundo o qual a
exigência de prévio requerimento administrativo de benefício previdenciário, perante o INSS,
não fere a garantia de livre acesso ao Poder Judiciário, previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da
Constituição Federal de 1988, conforme ementa a seguir transcrita:
"RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. PRÉVIO REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO E INTERESSE EM AGIR.
1. A instituição de condições para o regular exercício do direito de ação é compatível com o art.
5º, XXXV, da Constituição. Para se caracterizar a presença de interesse em agir, é preciso
haver necessidade de ir a juízo.
2. A concessão de benefícios previdenciários depende de requerimento do interessado, não se
caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo INSS,
ou se excedido o prazo legal para sua análise. É bem de ver, no entanto, que a exigência de
prévio requerimento não se confunde com o exaurimento das vias administrativas.
3. A exigência de préviorequerimentoadministrativonão deve prevalecer quando o entendimento
da Administração for notória e reiteradamente contrário à postulação do segurado.
4.Na hipótese de pretensão de revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício
anteriormente concedido, considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a prestação
mais vantajosa possível, o pedido poderá ser formulado diretamente em juízo - salvo se
depender da análise de matéria de fato ainda não levada ao conhecimento da Administração -,
uma vez que, nesses casos, a conduta do INSS já configura o não acolhimento ao menos tácito
da pretensão. (grifo nosso)
5. Tendo em vista a prolongada oscilação jurisprudencial na matéria, inclusive no Supremo
Tribunal Federal, deve-se estabelecer uma fórmula de transição para lidar com as ações em
curso, nos termos a seguir expostos.
6. Quanto às ações ajuizadas até a conclusão do presente julgamento (03.09.2014), sem que
tenha havido préviorequerimentoadministrativonas hipóteses em que exigível, será observado o
seguinte: (i) caso a ação tenha sido ajuizada no âmbito de Juizado Itinerante, a ausência de
anterior pedido administrativo não deverá implicar a extinção do feito; (ii) caso o INSS já tenha
apresentado contestação de mérito, está caracterizado o interesse em agir pela resistência à
pretensão; (iii) as demais ações que não se enquadrem nos itens (i) e (ii) ficarão sobrestadas,
observando-se a sistemática a seguir.
7. Nas ações sobrestadas, o autor será intimado a dar entrada no pedido administrativo em 30
dias, sob pena de extinção do processo. Comprovada a postulação administrativa, o INSS será
intimado a se manifestar acerca do pedido em até 90 dias, prazo dentro do qual a Autarquia
deverá colher todas as provas eventualmente necessárias e proferir decisão. Se o pedido for
acolhido administrativamente ou não puder ter o seu mérito analisado devido a razões
imputáveis ao próprio requerente, extingue-se a ação. Do contrário, estará caracterizado o
interesse em agir e o feito deverá prosseguir.
8. Em todos os casos acima - itens (i), (ii) e (iii) -, tanto a análise administrativa quanto a judicial
deverão levar em conta a data do início da ação como data de entrada do requerimento, para
todos os efeitos legais.
9. Recurso extraordinário a que se dá parcial provimento, reformando-se o acórdão recorrido
para determinar a baixa dos autos ao juiz de primeiro grau, o qual deverá intimar a autora - que
alega ser trabalhadora rural informal - a dar entrada no pedido administrativo em 30 dias, sob
pena de extinção. Comprovada a postulação administrativa, o INSS será intimado para que, em
90 dias, colha as provas necessárias e profira decisão administrativa, considerando como data
de entrada do requerimento a data do início da ação, para todos os efeitos legais. O resultado
será comunicado ao juiz, que apreciará a subsistência ou não do interesse em agir." (RE
631.240 , Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/09/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-220 DIVULG 07-11-2014 PUBLIC 10-11-2014 - grifei)
No caso dos autos, não há falar em ausência de prévio requerimento administrativo. Aparte
autora pretende com a presente demanda a concessão do benefício de aposentadoria por
tempo de contribuição (NB 180.929.019-5), requerido em 26/04/2017, e indeferido por não ter
sido atingido o tempo mínimo de contribuição exigível (Id 108467919 e Id 108467920),
pretendendo a comprovação do exercício de labor rural.
Portanto, a parte autora tem interesse processual, não havendo necessidade de novamente
provocar a via administrativa, pois o INSS já se manifestou pela negativa do benefício requerido
em 26/04/2017. Ademais, o direito ao benefício desde a data do requerimento é questão que
demanda análise de prova e, portanto, afeta ao mérito. Observando-se, ainda, que no
julgamento do RE nº 631240, o E. STF não fixou prazo para a parte autora ingressar na via
judicial após o indeferimento ou cancelamento na via administrativa.
Tem-se, portanto, que a inexistência de pedido administrativo contemporâneo à interposição da
ação não configura defeito a ensejar emeda da petição inicial.
Assim, além de utilizar-se da ação adequadaé evidente a utilidade do pedido, consoante a
pacífica jurisprudência do STF, do STJ e precedentes desta Corte Regional.
Dessa forma, obstado o regular prosseguimento do feito, deve ser reconhecida a nulidade da
sentença recorrida, devendo os autos retornar à Vara de origem para o regular prosseguimento
do feito.
Anoto não ser caso de aplicação do disposto no artigo 1.013, §3º, do Código de Processo Civil,
por não estar a lide em condições de imediato julgamento.
Diante do exposto,DOU PROVIMENTO À APELAÇÃO DA PARTE AUTORA PARA ANULAR A
SENTENÇA, determinando o retorno dos autos à Vara de origem para prosseguir com a
instrução do feito, nos termos da fundamentação.
É o voto.
E M E N T A
PROCESSO CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO. PRÉVIO REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO. INTERESSE DE AGIR. APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO. ANULAÇÃO DA SENTENÇA.
1. Havendo a comprovação da prévia postulação administrativa, fica afastada a extinção do
processo sem resolução do mérito, restando caracterizado o interesse de agir da parte autora.
2. Anulação da sentença e retorno dos autos ao juízoa quo.
3. Apelação da parte autora provida. ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Décima Turma, por
unanimidade, decidiu dar provimento à apelação da parte autora para anular a sentença, nos
termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA
