D.E. Publicado em 31/10/2017 |
EMENTA
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Nona Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento ao agravo interno, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Juiz Federal Convocado
Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por: | |
Signatário (a): | RODRIGO ZACHARIAS:10173 |
Nº de Série do Certificado: | 11A21709124EAE41 |
Data e Hora: | 17/10/2017 17:51:24 |
APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº 0004575-29.2008.4.03.6183/SP
RELATÓRIO
O Exmo. Sr. Juiz Federal Convocado Rodrigo Zacharias: Trata-se de agravo legal interposto pela parte autora em face da decisão proferida por este relator que, nos termos do artigo 932 do CPC, deu parcial provimento à apelação autárquica e negou provimento a sua apelação, para reconhecer os seguintes lapsos de contribuinte individual: 1/3/1974 a 31/3/1974, 1/5/1974 a 31/5/1974, 1/9/1974 a 30/9/1974, 1/11/1974 a 31/12/1974, 1/1/1975 a 31/1/1975, 1/4/1975 a 31/7/1975, 1/4/1992 a 31/5/1992, 1/9/2004 a 26/5/2005; determinar ao INSS a revisão da RMI de sua aposentadoria por idade; ajustar consectários.
Requer o autor o reconhecimento da atividade exercida de 1/10/1970 a 28/2/1974 e 1/10/1992 a 30/10/1993, bem como a especialidade das atividades exercidas de 1/10/1970 a 30/6/1980 e 1/8/1980 a 30/5/1998, com a consequente revisão de seu benefício. Por fim, requer a fixação da verba honorária em 15% do valor da condenação.
É o relatório.
VOTO
O Exmo. Sr. Juiz Federal Convocado Rodrigo Zacharias: Conheço do recurso, porque presentes os requisitos de admissibilidade.
O cômputo do tempo de serviço do segurado contribuinte individual (autônomo) pressupõe a comprovação dos respectivos recolhimentos previdenciários, à luz dos artigos 12, V c.c. 21 e 30, II, todos da Lei n. 8.212/91.
Em regra, caso não haja registro no CNIS, somente é viável o cômputo da guia de recolhimento que estiver regularmente preenchida, com o nome do autor, a competência, valores e autenticação bancária visível.
No caso, enquadram-se nesses quesitos apenas aquelas referentes aos seguintes interregnos: 1/3/1974 a 31/3/1974, 1/5/1974 a 31/5/1974, 1/9/1974 a 30/9/1974, 1/11/1974 a 31/12/1974, 1/1/1975 a 31/1/1975, 1/4/1975 a 31/7/1975, 1/4/1992 a 31/5/1992.
Portanto, nesse ponto, a decisão merece ser mantida.
Assim, somente é viável a análise da apontada especialidade para esses períodos devidamente recolhidos.
Do enquadramento de período especial
Editado em 3 de setembro de 2003, o Decreto n. 4.827 alterou o artigo 70 do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999, o qual passou a ter a seguinte redação:
Por conseguinte, o tempo de trabalho sob condições especiais poderá ser convertido em comum, observada a legislação aplicada à época na qual o trabalho foi prestado. Além disso, os trabalhadores assim enquadrados poderão fazer a conversão dos anos trabalhados a "qualquer tempo", independentemente do preenchimento dos requisitos necessários à concessão da aposentadoria.
Ademais, em razão do novo regramento, encontram-se superadas a limitação temporal, prevista no artigo 28 da Lei n. 9.711/98, e qualquer alegação quanto à impossibilidade de enquadramento e conversão dos lapsos anteriores à vigência da Lei n. 6.887/80.
Nesse sentido, reporto-me à jurisprudência firmada pelo Colendo STJ:
Cumpre observar que antes da entrada em vigor do Decreto n. 2.172, de 5 de março de 1997, regulamentador da Lei n. 9.032/95, de 28 de abril de 1995, não se exigia (exceto em algumas hipóteses) a apresentação de laudo técnico para a comprovação do tempo de serviço especial, pois bastava o formulário preenchido pelo empregador (SB40 ou DSS8030) para atestar a existência das condições prejudiciais.
Nesse particular, ressalto que vinha adotando a posição de que o enquadramento pela categoria profissional no rol dos Decretos n. 53.831/64 e 83.080/79 também era possível até a entrada em vigor do referido Decreto n. 2.172/97. Entretanto, verifico que a jurisprudência majoritária, a qual passo a adotar, tanto nesta Corte quanto no e. STJ, assentou-se no sentido de que o enquadramento apenas pela categoria profissional é possível tão-somente até 28/4/1995 (Lei n. 9.032/95). Nesse sentido: STJ, AgInt no AREsp 894.266/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/10/2016, DJe 17/10/2016.
Contudo, tem-se que, para a demonstração do exercício de atividade especial cujo agente agressivo seja o ruído, sempre houve a necessidade da apresentação de laudo pericial, independentemente da época de prestação do serviço.
Nesse contexto, a exposição superior a 80 decibéis era considerada atividade insalubre até a edição do Decreto n. 2.172/97, que majorou o nível para 90 decibéis. Isso porque os Decretos n. 83.080/79 e n. 53.831/64 vigoraram concomitantemente até o advento do Decreto n. 2.172/97.
Com a edição do Decreto n. 4.882, de 18/11/2003, o limite mínimo de ruído para reconhecimento da atividade especial foi reduzido para 85 decibéis (art. 2º do Decreto n. 4.882/2003, que deu nova redação aos itens 2.0.1, 3.0.1 e 4.0.0 do Anexo IV do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n. 3.048/99).
Quanto a esse ponto, à míngua de expressa previsão legal, não há como conferir efeito retroativo à norma regulamentadora que reduziu o limite de exposição para 85 dB(A) a partir de novembro de 2003.
Sobre essa questão, o STJ, ao apreciar o Recurso Especial n. 1.398.260, sob o regime do art. 543-C do CPC, consolidou entendimento acerca da inviabilidade da aplicação retroativa do decreto que reduziu o limite de ruído no ambiente de trabalho (de 90 para 85 dB) para configuração do tempo de serviço especial (julgamento em 14/05/2014).
Com a edição da Medida Provisória n. 1.729/98 (convertida na Lei n. 9.732/98), foi inserida na legislação previdenciária a exigência de informação, no laudo técnico de condições ambientais do trabalho, quanto à utilização do Equipamento de Proteção Individual (EPI).
Desde então, com base na informação sobre a eficácia do EPI, a autarquia deixou de promover o enquadramento especial das atividades desenvolvidas posteriormente a 3/12/1998.
Sobre a questão, entretanto, o C. Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o ARE n. 664.335, em regime de repercussão geral, decidiu que: (i) se o EPI for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo ao enquadramento especial; (ii) havendo, no caso concreto, divergência ou dúvida sobre a real eficácia do EPI para descaracterizar completamente a nocividade, deve-se optar pelo reconhecimento da especialidade; (iii) na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites de tolerância, a utilização do EPI não afasta a nocividade do agente.
Quanto a esses aspectos, sublinhe-se o fato de que o campo "EPI Eficaz (S/N)" constante no Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) é preenchido pelo empregador considerando-se, tão somente, se houve ou não atenuação dos fatores de risco, consoante determinam as respectivas instruções de preenchimento previstas nas normas regulamentares. Vale dizer: essa informação não se refere à real eficácia do EPI para descaracterizar a nocividade do agente.
No caso, em relação aos intervalos 1/3/1974 a 31/3/1974, 1/5/1974 a 31/5/1974, 1/9/1974 a 30/9/1974, 1/11/1974 a 31/12/1974, 1/1/1975 a 31/1/1975, 1/4/1975 a 31/7/1975, 1/4/1992 a 31/5/1992, os documentos de fls. 110/282 demonstram o exercício da função de "motorista de caminhão - transporte de cargas", fato que possibilita o enquadramento por categoria profissional, nos termos dos códigos 2.4.4 do anexo do Decreto n. 53.831/64 e 2.4.2 do anexo do Decreto n. 83.080/79.
Nessa esteira:
Diante disso, somente os lapsos 1/3/1974 a 31/3/1974, 1/5/1974 a 31/5/1974, 1/9/1974 a 30/9/1974, 1/11/1974 a 31/12/1974, 1/1/1975 a 31/1/1975, 1/4/1975 a 31/7/1975, 1/4/1992 a 31/5/1992 devem ser enquadrados como de atividade especial. Reconsidero, portanto, a decisão monocrática nesse ponto.
Do pedido de revisão
A autarquia deverá proceder à revisão da RMI do benefício em contenda (aposentadoria por idade), somando-se os interregnos aqui reconhecidos aos incontroversos. Prejudicado o pedido subsidiário de concessão de aposentadoria por tempo de contribuição.
Dos honorários advocatícios
Diante disso, mantenho a sucumbência recíproca, nos moldes em que fixada pela decisão recorrida.
Isso posto, dou parcial provimento ao agravo, para reconsiderar em parte a decisão monocrática e dar parcial provimento à apelação do INSS e à apelação do autor, reconhecendo, em acréscimo, nos termos da fundamentação, os períodos de atividade especial 1/3/1974 a 31/3/1974, 1/5/1974 a 31/5/1974, 1/9/1974 a 30/9/1974, 1/11/1974 a 31/12/1974, 1/1/1975 a 31/1/1975, 1/4/1975 a 31/7/1975, 1/4/1992 a 31/5/1992 e determinando ao INSS a revisão do benefício daí decorrente. No mais, fica mantida a decisão agravada.
É o voto.
Rodrigo Zacharias
Juiz Federal Convocado
Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por: | |
Signatário (a): | RODRIGO ZACHARIAS:10173 |
Nº de Série do Certificado: | 11A21709124EAE41 |
Data e Hora: | 17/10/2017 17:51:21 |