
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0002796-98.2016.4.03.6105
RELATOR: Gab. 25 - DES. FED. CARLOS DELGADO
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
APELADO: CLEUSA APARECIDA BARBOSA
Advogado do(a) APELADO: PRISCILA QUEIROZ MACHADO - SP291156
OUTROS PARTICIPANTES:
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0002796-98.2016.4.03.6105
RELATOR: Gab. 25 - DES. FED. CARLOS DELGADO
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
APELADO: CLEUSA APARECIDA BARBOSA
Advogado do(a) APELADO: PRISCILA QUEIROZ MACHADO - SP291156
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
"I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido;
II - os pais;
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido."(*grifei)
O §3º do art. 16 da Lei de Benefícios dispõe que: "Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição Federal".
Por sua vez, o Decreto nº 3.048/99, no seu art. 16, § 6º, com a redação vigente à época do óbito, considera união estável "aquela configurada na convivência pública, contínua e duradoura entre o homem e a mulher, estabelecida com intenção de constituição de família, observado o § 1º do art. 1.723 do Código Civil, instituído pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002".
Já a Lei nº 9.278/96, que regulamenta o art. 226, § 3º da Constituição Federal, dispõe que: "É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família". Saliente-se que referido conceito consta da atual redação do §6º do art. 16 do RPS e no art. 1.723 do CC.
Do caso concreto
.
O evento morte do Sr. Ailton Pinto da Silva, ocorrido em 06/03/2012, restou comprovado com a certidão de óbito.
O requisito relativo à qualidade de segurado do
de cujus
restou incontroverso, considerando que o último contrato de trabalho por ele firmado, iniciado em 03/08/2009, findou-se em 06/03/2012, consoante a CTPS anexada aos autos.
A celeuma diz respeito à alegada união estável entre a autora e o
de cujus
.
Segundo a narrativa delineada na petição inicial, a autora conviveu maritalmente com o falecido por mais de trinta anos até a data do óbito.
Para a comprovação do alegado, foram coligidos aos autos, dentre outros, os seguintes documentos:
a) cópia de ação de consignação de pagamento proposta pela empregadora do falecido em face da autora, por esta ser sua convivente, objetivando o depósito judicial dos valores relativos às verbas rescisórias, os quais foram posteriormente levantados pela demandante (Processo n. 0000388-42.2015.15.0032);
b) inúmeras fotos do casal em eventos sociais e familiares.
Registro que constitui início razoável de prova material os documentos acima apontados, devidamente corroborados por idônea e segura prova coletada em audiência realizada em 23/02/2017, na qual foram ouvidas a autora e duas testemunhas.
Em seu depoimento pessoal, a autora afirmou que não se casou com o falecido, pois ele já tinha contraído núpcias com outra mulher, mas era separado de fato de sua ex-cônjuge. A demandante e o falecido tiveram dois filhos em comum e adotaram uma terceira criança chamada Elaine. Todos eles possuem mais de trinta anos atualmente. Disse que o falecido não se preocupou em registrá-los, pois já tinha esposa. Conheceu o instituidor em 1977, em Campinas. Não se recorda de quando ficou grávida do primeiro filho com o
de cujus
. Os filhos não se preocuparam com o registro, já que a família vivia bem. Morou com o falecido nos bairros Ieda, Jardim Capivari e na Vila Palácio. Também houve uma época em que trabalhou em Barretos. Disse que chegou a trabalhar fazendo faxina. Ode cujus
, por sua vez, era motorista. Ele morreu de câncer. O casal nunca se separou. Ele sustentava a casa com seu salário. Pagava tudo. Após o óbito, disse ter ficado em uma situação difícil, então teve que vender o apartamento da família e trocá-lo por uma casa mais humilde no Santo Antonio. Afirmou nunca ter tido conta em banco. Não se relaciona com ninguém atualmente. Disse ter perdido a vista de um dos olhos há vinte e um anos.
A primeira testemunha, a Sr.ª Maristela Quintana, declarou conhecer a autora há mais de quinze anos, pois o seu marido, o instituidor, trabalhava na empresa do pai da depoente. Segundo o seu relato, a demandante e o instituidor conviviam maritalmente. O falecido teve três filhos com a demandante. Disse que a empresa promoveu uma reclamação, pois não sabia para quem pagar as verbas rescisórias. A juíza determinou que a autora ficasse com os valores. A demandante ia buscar cesta básica na empresa. O
de cujus
, por sua vez, era motorista. Sabe que a ex-cônjuge do instituidor já faleceu. Ode cujus
trabalhou na empregadora por quinze anos e, durante todo esse tempo, ele estava com a autora.
A segunda testemunha, a Sr.ª Heny Raquel Nascimento, declarou conhecer a autora há mais de vinte e nove anos, pois moravam no mesmo bairro. O falecido e a autora moravam juntos. O casal teve três filhos - Ailton e Mara e adotaram a Elaine. O falecido morreu enquanto morava no Jardim Ieda, em 2012. A autora era do lar, enquanto o instituidor sustentava a casa. Sabe que ele foi casado com uma mulher já falecida e que teve um filho com ela. Atualmente, afirmou que a autora é ajudada por vizinhos, já que não possui renda. Disse que a autora e o falecido estavam juntos na época do passamento e que o casal nunca se separou.
Os relatos são convincentes no sentido de que a Sra. Cleuza e o Sr. Ailton conviviam como marido e mulher, em união pública e duradoura, com o intuito de formarem família, até a época do óbito, sendo a autora presente até os últimos dias de vida do falecido na condição de companheira, não havendo nos autos quaisquer outros elementos que indiquem a inexistência da união estável.
Portanto, é possível concluir, pela dilação probatória e demais documentos juntados, mormente pela prova oral, com fundamento nas máximas de experiência, conforme disciplina o artigo 375, do Código de Processo Civil, que a autora era companheira do falecido no momento do óbito.
Diante disso, havendo nos autos elementos de convicção que comprovam a união estável e duradoura entre o demandante e o
de cujus
, a dependência econômica é presumida, nos termos do art. 16, § 4º, da Lei nº 8.213/91, e só cederia mediante a produção de robusta prova em contrário, o que não se observa no caso.
Em decorrência, preenchidos os requisitos, o deferimento do benefício de pensão por morte é medida que se impõe.
A correção monetária dos valores em atraso deverá ser calculada de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal até a promulgação da Lei nº 11.960/09, a partir de quando será apurada, conforme julgamento proferido pelo C. STF, sob a sistemática da repercussão geral (Tema nº 810 e RE nº 870.947/SE), pelos índices de variação do IPCA-E, tendo em vista os efeitos
ex tunc
do mencionado pronunciamento.
Os juros de mora, incidentes até a expedição do ofício requisitório, devem ser fixados de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, por refletir as determinações legais e a jurisprudência dominante.
Ante o exposto,
nego provimento
ao recurso de apelação interposto pelo INSS e,de ofício,
esclareço
que a correção monetária dos valores em atraso deverá ser calculada de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal até a promulgação da Lei nº 11.960/09, a partir de quando será apurada pelos índices de variação do IPCA-E, e que os juros de mora, incidentes até a expedição do ofício requisitório, serão fixados de acordo com o mesmo Manual.
É como voto.
E M E N T A
PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. UNIÃO ESTÁVEL. INDÍCIOS MATERIAIS CORROBORADOS POR PROVA ORAL. REQUISITOS PREENCHIDOS. APELAÇÃO DO INSS DESPROVIDA. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA RETIFICADOS DE OFÍCIO.
1 - A pensão por morte é regida pela legislação vigente à época do óbito do segurado, por força do princípio
tempus regit actum
, encontrando-se regulamentada nos arts. 74 a 79 da Lei nº 8.213/91. Trata-se de benefício previdenciário devido aos dependentes do segurado falecido, aposentado ou não.2 - O benefício independe de carência, sendo percuciente para sua concessão: a) a ocorrência do evento morte; b) a comprovação da condição de dependente do postulante; e c) a manutenção da qualidade de segurado quando do óbito, salvo na hipótese de o
de cujus
ter preenchido em vida os requisitos necessários ao deferimento de qualquer uma das aposentadorias previstas no Regime Geral de Previdência Social - RGPS.3 - A Lei de Benefícios, no art.16, com a redação dada pela Lei nº 9.032/95, vigente à época dos óbitos, prevê taxativamente as pessoas que podem ser consideradas dependentes.
4 - Já a Lei nº 9.278/96, que regulamenta o art. 226, § 3º da Constituição Federal, dispõe que: "É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família". Saliente-se que referido conceito consta da atual redação do §6º do art. 16 do RPS e no art. 1.723 do CC.
5 - O evento morte do Sr. Ailton Pinto da Silva, ocorrido em 06/03/2012, restou comprovado com a certidão de óbito. O requisito relativo à qualidade de segurado do
de cujus
restou incontroverso, considerando que o último contrato de trabalho por ele firmado, iniciado em 03/08/2009, findou-se em 06/03/2012, consoante a CTPS anexada aos autos.6 - A celeuma diz respeito à alegada união estável entre a autora e o
de cujus
.7 - Segundo a narrativa delineada na petição inicial, a autora conviveu maritalmente com o falecido por mais de trinta anos até a data do óbito. Para a comprovação do alegado, foram coligidos aos autos, dentre outros, os seguintes documentos: a) cópia de ação de consignação de pagamento proposta pela empregadora do falecido em face da autora, por esta ser sua convivente, objetivando o depósito judicial dos valores relativos às verbas rescisórias, os quais foram posteriormente levantados pela demandante (Processo n. 0000388-42.2015.15.0032); b) inúmeras fotos do casal em eventos sociais e familiares.
8 - Constitui início razoável de prova material os documentos acima apontados, devidamente corroborados por idônea e segura prova coletada em audiência realizada em 23/02/2017, na qual foram ouvidas a autora e duas testemunhas.
9 - Os relatos são convincentes no sentido de que a Sra. Cleuza e o Sr. Ailton conviviam como marido e mulher, em união pública e duradoura, com o intuito de formarem família, até a época do óbito, sendo a autora presente até os últimos dias de vida do falecido na condição de companheira, não havendo nos autos quaisquer outros elementos que indiquem a inexistência da união estável.
10 - Portanto, é possível concluir, pela dilação probatória e demais documentos juntados, mormente pela prova oral, com fundamento nas máximas de experiência, conforme disciplina o artigo 375, do Código de Processo Civil, que a autora era companheira do falecido no momento do óbito.
11 - Diante disso, havendo nos autos elementos de convicção que comprovam a união estável e duradoura entre o demandante e o
de cujus
, a dependência econômica é presumida, nos termos do art. 16, § 4º, da Lei nº 8.213/91, e só cederia mediante a produção de robusta prova em contrário, o que não se observa no caso.12 - Em decorrência, preenchidos os requisitos, o deferimento do benefício de pensão por morte é medida que se impõe.
13 - Correção monetária dos valores em atraso calculada de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal até a promulgação da Lei nº 11.960/09, a partir de quando será apurada, conforme julgamento proferido pelo C. STF, sob a sistemática da repercussão geral (Tema nº 810 e RE nº 870.947/SE), pelos índices de variação do IPCA-E, tendo em vista os efeitos ex tunc do mencionado pronunciamento.
14 - Juros de mora, incidentes até a expedição do ofício requisitório, fixados de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, por refletir as determinações legais e a jurisprudência dominante.
15 - Apelação do INSS desprovida. Correção monetária e juros de mora retificados de ofício.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Sétima Turma, por unanimidade, decidiu negar provimento ao recurso de apelação interposto pelo INSS e, de ofício, esclarecer que a correção monetária dos valores em atraso deverá ser calculada de acordo com o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal até a promulgação da Lei nº 11.960/09, a partir de quando será apurada pelos índices de variação do IPCA-E, e que os juros de mora, incidentes até a expedição do ofício requisitório, serão fixados de acordo com o mesmo Manual, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
