Processo
ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL / SP
5004404-30.2021.4.03.6183
Relator(a)
Desembargador Federal TORU YAMAMOTO
Órgão Julgador
7ª Turma
Data do Julgamento
03/02/2022
Data da Publicação/Fonte
DJEN DATA: 10/02/2022
Ementa
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO/PROCESSUAL CIVIL. SOBRESTAMENTO DO FEITO. SUBMISSÃO DO
FEITO À REMESSA OFICIAL. PRELIMINARES REJEITADAS. APOSENTADORIA POR IDADE
URBANA. CTPS. CÔMPUTO COMO CARÊNCIA DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO
ESTEVE RECEBENDO AUXÍLIO-DOENÇA OU APOSENTADORIA POR INVALIDEZ (ENTRE
PERÍODOS DE ATIVIDADE/CONTRIBUTIVOS). TEMA 1125/STF. EXCLUSÃO DOS PERÍODOS
RECONHECIDOS EM PRIMEIRO GRAU. CARÊNCIA INSUFICIENTE. APELAÇÃO DO INSS
PROVIDA.
1. Observo, em sede preliminar, que a condenação é obviamente inferior a mil salários mínimos,
não estando sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório, nos termos do disposto no inciso I do
§ 3º do artigo 496 do novo Código de Processo Civil.
2. Também não se justifica o sobrestamento do feito requerido em razão de pendência de solução
da matéria por conta de embargos de declaração opostos pelo INSS com relação ao decidido
quanto ao Tema 1.125/STF, até porque o C. STJ entende pela desnecessidade da solução de
eventuais embargos opostos para dar imediata aplicabilidade à tese firmada em sede de recursos
repetitivos ou de repercussão geral.
3. Para a percepção de Aposentadoria por Idade, o segurado deve demonstrar o cumprimento da
idade mínima de 65 anos, se homem, e 60 anos, se mulher, e número mínimo de contribuições
para preenchimento do período de carência correspondente, conforme artigos 48 e 142 da Lei
8.213/91.
4. No tocante às insurgências levantadas em sede recursal pelo INSS, frise-se que as anotações
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
laborais regulares constantes de CTPS contemporânea e sem aparentes indícios de fraude
devem ser efetivamente computadas para fins de carência, pois mesmo que não constem
eventuais contribuições no CNIS colacionado aos autos, as anotações ali presentes gozam de
presunção de veracidade juris tantum. A exceção ocorre em situações onde existem fundados
indícios que contrariem e apontem a inexistência/inconsistência de quaisquer vínculos laborais ali
anotados.
5. No caso vertente, entendo que a anotação em CTPS, relativa ao vínculo de trabalho
supostamente prestado pela autora para Maria Josefa Andrade entre 01/03/2010 e 30/06/2015
(ID 193155123 – pág. 20), não refletida em CNIS, não permite, por si só, a comprovação do
interregno referido e seu computo para fins de carência, uma vez que a suposta empregadora
nem sequer assinou o início ou o término da relação empregatícia e o número do CPF indicado
não corresponde à formatação usual, de modo que seria necessária a apresentação de
documentação complementar para avaliar a possibilidade, ou não, de sua averbação. Ademais, o
CNIS da própria autora indica que a autora, a partir de 2013, já estaria prestando serviços para a
Secretaria de Educação de São Paulo, situação essa que poderia ser considerada contrária à
presunção de veracidade do que ali consta anotado (ID 193155123 – pág. 95).
6. No mais, esclareço que, coerente com as disposições do art. 29, § 5º, e art. 55, II, ambos da
Lei 8.213/1991, que os incisos III e IX do art. 60 do Decreto 3.048/1999 (aplicáveis ao caso em
razão do princípio tempus regit actum), asseguram, até que lei específica discipline a matéria, que
são contados como tempo de contribuição/carência o período em que o segurado esteve
recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez (entre períodos de atividade), bem
como o período em que o segurado percebeu benefício por incapacidade por acidente do trabalho
(intercalado ou não). Vale ressaltar que tem sido firme o entendimento no sentido de que as
expressões "tempo intercalado" ou "entre períodos de atividade" abrangem os lapsos temporais
de gozo de benefício, desde que o segurado tenha retornado ao trabalho (ou reiniciado a verter
contribuições previdenciárias válidas), ainda que por curto período, seguido de nova concessão
de benefício. Ademais, consigne-se a questão em debate foi recentemente decidida pelo C.
Supremo Tribunal Federal nos autos do Recurso Extraordinário nº 1.298.832/RS, julgado em
18/2/2021, na sistemática dos recursos repetitivos, no Tema 1125 da Repercussão Geral, nos
seguintes termos: “É constitucional o cômputo, para fins de carência, do período no qual o
segurado esteve em gozo do benefício de auxílio-doença, desde que intercalado com atividade
laborativa.”.
7. No entanto, no caso em destaque, vejo o período reconhecido pela r. sentença (12/12/2007 a
30/10/2008) também não está intercalado entre períodos contributivos (ID 193155123 – págs.
94/95), de modo que também não pode ser computado para fins de carência.
8. Desse modo, ao excluir os dois períodos acima delineados, é fácil constatar que a parte autora
não possuía a carência necessária à benesse vindicada na primeira DER, sendo imperativa a
reforma da r. sentença, com a improcedência do pedido inaugural.
9. Preliminares rejeitadas. Apelação do INSS provida.
Acórdao
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região
7ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº5004404-30.2021.4.03.6183
RELATOR:Gab. 23 - DES. FED. TORU YAMAMOTO
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
APELADO: MARIA ISABEL AUGUSTO BARBOSA
Advogado do(a) APELADO: AUGUSTO DONIZETE BRAGHINI TORRE - SP322968-A
OUTROS PARTICIPANTES:
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região7ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº5004404-30.2021.4.03.6183
RELATOR:Gab. 23 - DES. FED. TORU YAMAMOTO
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
APELADO: MARIA ISABEL AUGUSTO BARBOSA
Advogado do(a) APELADO: AUGUSTO DONIZETE BRAGHINI TORRE - SP322968-A
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
O Exmo. Desembargador Federal Toru Yamamoto (Relator):
Trata-se de apelação em ação de conhecimento proposta em face do INSS, na qual a parte
autora requereu a concessão de aposentadoria por idade urbana.
A r. sentença julgou procedente o pedido inicial, com fundamento no artigo 487, inciso I, do
Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), a fim de, reconhecendo o período comum de
01/03/2010 a 30/06/2015, conceder a aposentadoria por idade em seu favor, com pagamento
das parcelas pretéritas desde 14/12/2018, deixando de conceder a tutela antecipada, porquanto
a parte autora já seria beneficiária de aposentadoria por idade desde 04/12/2020.
Sentença não submetida ao reexame necessário.
Irresignado, o INSS interpôs apelação, requerendo, preliminarmente, o sobrestamento do feito
em razão de a Autarquia Previdenciária ter oposto embargos de declaração em face do
decidido no tocante ao Tema 1125/STF. Requer, ainda, a submissão do feito ao reexame
necessário. No mérito, sustenta, em apertada síntese, que não pode ser mantido o
reconhecimento efetuado pela r. sentença e que a parte autora não possui direito à benesse
concedida, motivando as razões de sua insurgência. Requer, nesses termos, a reforma da r.
sentença, com a improcedência do pedido inaugural. Na eventualidade, fez outros pedidos
subsidiários.
Sem contrarrazões, subiram os autos a este E. Tribunal.
É o relatório.
PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região7ª Turma
APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº5004404-30.2021.4.03.6183
RELATOR:Gab. 23 - DES. FED. TORU YAMAMOTO
APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
APELADO: MARIA ISABEL AUGUSTO BARBOSA
Advogado do(a) APELADO: AUGUSTO DONIZETE BRAGHINI TORRE - SP322968-A
OUTROS PARTICIPANTES:
V O T O
O Exmo. Desembargador Federal Toru Yamamoto (Relator):
Verifico, em juízo de admissibilidade, que o recurso ora analisado mostra-se formalmente
regular, motivado (artigo 1.010 CPC) e com partes legítimas, preenchendo os requisitos de
adequação (art. 1009 CPC) e tempestividade (art. 1.003 CPC). Assim, presente o interesse
recursal e inexistindo fato impeditivo ou extintivo, recebo-o e passo a apreciá-lo nos termos do
artigo 1.011 do Código de Processo Civil.
Observo, em sede preliminar, que a condenação é obviamente inferior a mil salários mínimos,
não estando sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório, nos termos do disposto no inciso I
do § 3º do artigo 496 do novo Código de Processo Civil.
Também não se justifica o sobrestamento do feito requerido em razão de pendência de solução
da matéria por conta de embargos de declaração opostos pelo INSS com relação ao decidido
quanto ao Tema 1.125/STF, até porque o C. STJ entende pela desnecessidade da solução de
eventuais embargos opostos para dar imediata aplicabilidade à tese firmada em sede de
recursos repetitivos ou de repercussão geral.
Confira-se:
“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO N. 3/STJ. SERVIDOR PÚBLICO. SUSPENSÃO DO PROCESSO EM
RAZÃO DA AUSÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO DO RE Nº 870.947/SE.
DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. PRETENSÃO DE SOBRESTAMENTO DO PROCESSO
ATÉ O JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS NO RE Nº
870.947/SE PARA MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO. AFASTADA A MODULAÇÃO
DOS EFEITOS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA SESSÃO REALIZADA EM
03/10/2019. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. A orientação do STJ é no sentido de ser desnecessário aguardar o trânsito em julgado para a
aplicação do paradigma firmado em sede de Recurso Repetitivo ou de Repercussão Geral.
Precedentes.
2. Ademais, importante destacar que o Supremo Tribunal Federal, na sessão realizada em
03/10/2019, rejeitou todos os embargos de declaração e afastou, por maioria, o pedido de
modulação dos efeitos da decisão proferida no RE nº 870.947/SE.
3. Agravo interno não provido.” (AgInt no AREsp 1346875/PE, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/10/2019, DJe 29/10/2019)
Rejeito, pois, ambas as preliminares.
Passo ao exame do mérito.
Para a percepção de Aposentadoria por Idade, o segurado deve demonstrar o cumprimento da
idade mínima de 65 anos, se homem, e 60 anos, se mulher, e número mínimo de contribuições
para preenchimento do período de carência correspondente, conforme artigos 48 e 142 da Lei
8.213/91.
Cumpre ressaltar que, com o advento da Lei nº 10.666, de 08 de maio de 2003, a perda da
qualidade de segurado se tornou irrelevante para a concessão da aposentadoria por idade,
desde que o segurado já conte com o tempo de contribuição correspondente ao exigido para
efeito de carência, na data de requerimento do benefício.
"Art. 3º: A perda da qualidade do segurado não será considerada para a concessão das
aposentadorias por tempo de contribuição e especial.
§1º Na hipótese de aposentadoria por idade, a perda da qualidade de segurado não será
considerada para a concessão desse benefício, desde que o segurado conte com, no mínimo, o
tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data do
requerimento do benefício.
§2º A concessão do benefício de aposentadoria por idade, nos termos do §1º, observará, para
os fins de cálculo do valor do benefício, o disposto no art. 3º, caput e §2°, da Lei nº 9.876, de 26
de novembro de 1999, ou, não havendo salários de contribuição recolhidos no período a partir
da competência julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991."
Muito embora o art. 3º, §1º, da Lei 10.666/2003 estabeleça que o segurado conte com, no
mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data do
requerimento do benefício, a Jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça entende
que a carência exigida deve levar em conta a data em que o segurado implementou as
condições necessárias à concessão do benefício e não a data do requerimento administrativo.
Nesse sentido, trago à colação o seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça:
"PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. ART. 142 DA LEI Nº
8.213/91. PERÍODO DE CARÊNCIA. PREENCHIMENTO. PERDA DA QUALIDADE DE
SEGURADO. ATENDIMENTO PRÉVIO DOS REQUISITOS. BENEFÍCIO DEVIDO.
1. Na forma da atual redação do art. 142 da Lei nº 8.213/91, alterado pela Lei nº 9.032/95, a
carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial obedecerá à tabela ali
prevista, mas levando-se em consideração o ano em que o segurado implementou as
condições necessárias à concessão do benefício e não a data do requerimento administrativo.
2. Aplica-se ao caso o art. 102, § 1º, da Lei nº 8.213/91, que dispõe que a perda da qualidade
de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sido
preenchidos todos os requisitos segundo a legislação então em vigor (arts. 52 e 53 da Lei nº
8.213/91).
3. Recurso especial provido."
(REsp. nº 490.585/PR, Relator o Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, DJU de 23/8/2005).
O artigo 24 da Lei nº 8.213/1991 dispõe que: "Período de carência é o número mínimo de
contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício,
consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências."
Por seu turno, o art. 25, inciso II, da referida Lei estabelece que:
"A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende dos
seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:
(...)
II - aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180
contribuições mensais."
Porém, para os segurados inscritos na Previdência Social Urbana até 24 de julho de 1991, o art.
142 da Lei nº 8.213/1991, trouxe uma regra de transição, consubstanciada em uma tabela
progressiva de carência, de acordo com o ano em que foram implementadas as condições para
a aposentadoria por idade.
Deve-se observar que para aferir a carência a ser cumprida deverá ser levada em consideração
a data em que foi implementado o requisito etário para a obtenção do benefício e não aquele
em que a pessoa ingressa com o requerimento de aposentadoria por idade junto ao Instituto
Nacional do Seguro Social.
Trata-se de observância do mandamento constitucional de que todos são iguais perante a lei
(art. 5º, caput, da Constituição Federal). Se, por exemplo, aquele que tivesse preenchido as
condições de idade e de carência, mas que fizesse o requerimento administrativo
posteriormente seria prejudicado com a postergação do seu pedido, já que estaria obrigado a
cumprir um período maior de carência do que aquele que o fizesse no mesmo momento em que
tivesse completado a idade mínima exigida, o que obviamente não se coaduna com o princípio
da isonomia, que requer que pessoas em situações iguais sejam tratadas da mesma maneira.
Por outro lado, no caso de cumprimento do requisito etário, mas não da carência, o aferimento
desta, relativamente à aposentadoria por idade, será realizado quando do atingimento da idade
esperada, ainda que, naquele momento a pessoa não tivesse completado a carência
necessária.
Nessa situação, o próprio adiamento da possibilidade de obtenção do benefício para o
momento em que fosse cumprida a carência exigida no artigo 142 da Lei de Benefícios
Previdenciários já estabeleceria diferença entre aquele que cumpriu a carência no momento em
que completara a idade mínima, não havendo que se falar em necessidade de qualquer prazo
adicional.
Corroborando este entendimento, cito a Súmula nº 02 da Turma Regional de Uniformização dos
Juizados Especiais Federais da 4ª Região, que assim dispôs: Para a concessão da
aposentadoria por idade, não é necessário que os requisitos da idade e da carência sejam
preenchidos simultaneamente.
No tocante às insurgências levantadas em sede recursal pelo INSS, frise-se que as anotações
laborais regulares constantes de CTPS contemporânea e sem aparentes indícios de fraude
devem ser efetivamente computadas para fins de carência, pois mesmo que não constem
eventuais contribuições no CNIS colacionado aos autos, as anotações ali presentes gozam de
presunção de veracidade juris tantum.
A exceção ocorre em situações onde existem fundados indícios que contrariem e apontem a
inexistência/inconsistência de quaisquer vínculos laborais ali anotados. No caso vertente,
entendo que a anotação em CTPS, relativa ao vínculo de trabalho supostamente prestado pela
autora para Maria Josefa Andrade entre 01/03/2010 e 30/06/2015 (ID 193155123 – pág. 20),
não refletida em CNIS, não permite, por si só, a comprovação do interregno referido e seu
computo para fins de carência, uma vez que a suposta empregadora nem sequer assinou o
início ou o término da relação empregatícia e o número do CPF indicado não corresponde à
formatação usual, de modo que seria necessária a apresentação de documentação
complementar para avaliar a possibilidade, ou não, de sua averbação. Ademais, o CNIS da
própria autora indica que a autora, a partir de 2013, já estaria prestando serviços para a
Secretaria de Educação de São Paulo, situação essa que poderia ser considerada contrária à
presunção de veracidade do que ali consta anotado (ID 193155123 – pág. 95).
No mais, esclareço que, coerente com as disposições do art. 29, § 5º, e art. 55, II, ambos da Lei
8.213/1991, que os incisos III e IX do art. 60 do Decreto 3.048/1999 (aplicáveis ao caso em
razão do princípio tempus regit actum), asseguram, até que lei específica discipline a matéria,
que são contados como tempo de contribuição/carência o período em que o segurado esteve
recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez (entre períodos de atividade), bem
como o período em que o segurado percebeu benefício por incapacidade por acidente do
trabalho (intercalado ou não). Vale ressaltar que tem sido firme o entendimento no sentido de
que as expressões "tempo intercalado" ou "entre períodos de atividade" abrangem os lapsos
temporais de gozo de benefício, desde que o segurado tenha retornado ao trabalho (ou
reiniciado a verter contribuições previdenciárias válidas), ainda que por curto período, seguido
de nova concessão de benefício.
Ademais, consigne-se a questão em debate foi recentemente decidida pelo C. Supremo
Tribunal Federal nos autos do Recurso Extraordinário nº 1.298.832/RS, julgado em 18/2/2021,
na sistemática dos recursos repetitivos, no Tema 1125 da Repercussão Geral, nos seguintes
termos: “É constitucional o cômputo, para fins de carência, do período no qual o segurado
esteve em gozo do benefício de auxílio-doença, desde que intercalado com atividade
laborativa.”.
No entanto, no caso em destaque, vejo o período reconhecido pela r. sentença (12/12/2007 a
30/10/2008) também não está intercalado entre períodos contributivos (ID 193155123 – págs.
94/95), de modo que também não pode ser computado para fins de carência.
Desse modo, ao excluir os dois períodos acima delineados, é fácil constatar que a parte autora
não possuía a carência necessária à benesse vindicada na primeira DER, sendo imperativa a
reforma da r. sentença, com a improcedência do pedido inaugural.
Condeno a parte autora ao pagamento de custas e despesas processuais, além de honorários
advocatícios fixados em R$ 1.000,00 (mil reais), observando que a exigibilidade de tais verbas
ficará adstrita ao disposto no artigo 12 da Lei nº 1.060/1950 (artigo 98, § 3º, do Código de
Processo Civil/2015), por ser ela beneficiária da justiça gratuita.
Ante o exposto, rejeito as preliminares e dou provimento ao recurso de apelação do INSS, nos
termos ora consignados.
É o voto.
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO/PROCESSUAL CIVIL. SOBRESTAMENTO DO FEITO. SUBMISSÃO DO
FEITO À REMESSA OFICIAL. PRELIMINARES REJEITADAS. APOSENTADORIA POR IDADE
URBANA. CTPS. CÔMPUTO COMO CARÊNCIA DO PERÍODO EM QUE O SEGURADO
ESTEVE RECEBENDO AUXÍLIO-DOENÇA OU APOSENTADORIA POR INVALIDEZ (ENTRE
PERÍODOS DE ATIVIDADE/CONTRIBUTIVOS). TEMA 1125/STF. EXCLUSÃO DOS
PERÍODOS RECONHECIDOS EM PRIMEIRO GRAU. CARÊNCIA INSUFICIENTE.
APELAÇÃO DO INSS PROVIDA.
1. Observo, em sede preliminar, que a condenação é obviamente inferior a mil salários
mínimos, não estando sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório, nos termos do disposto no
inciso I do § 3º do artigo 496 do novo Código de Processo Civil.
2. Também não se justifica o sobrestamento do feito requerido em razão de pendência de
solução da matéria por conta de embargos de declaração opostos pelo INSS com relação ao
decidido quanto ao Tema 1.125/STF, até porque o C. STJ entende pela desnecessidade da
solução de eventuais embargos opostos para dar imediata aplicabilidade à tese firmada em
sede de recursos repetitivos ou de repercussão geral.
3. Para a percepção de Aposentadoria por Idade, o segurado deve demonstrar o cumprimento
da idade mínima de 65 anos, se homem, e 60 anos, se mulher, e número mínimo de
contribuições para preenchimento do período de carência correspondente, conforme artigos 48
e 142 da Lei 8.213/91.
4. No tocante às insurgências levantadas em sede recursal pelo INSS, frise-se que as
anotações laborais regulares constantes de CTPS contemporânea e sem aparentes indícios de
fraude devem ser efetivamente computadas para fins de carência, pois mesmo que não
constem eventuais contribuições no CNIS colacionado aos autos, as anotações ali presentes
gozam de presunção de veracidade juris tantum. A exceção ocorre em situações onde existem
fundados indícios que contrariem e apontem a inexistência/inconsistência de quaisquer vínculos
laborais ali anotados.
5. No caso vertente, entendo que a anotação em CTPS, relativa ao vínculo de trabalho
supostamente prestado pela autora para Maria Josefa Andrade entre 01/03/2010 e 30/06/2015
(ID 193155123 – pág. 20), não refletida em CNIS, não permite, por si só, a comprovação do
interregno referido e seu computo para fins de carência, uma vez que a suposta empregadora
nem sequer assinou o início ou o término da relação empregatícia e o número do CPF indicado
não corresponde à formatação usual, de modo que seria necessária a apresentação de
documentação complementar para avaliar a possibilidade, ou não, de sua averbação. Ademais,
o CNIS da própria autora indica que a autora, a partir de 2013, já estaria prestando serviços
para a Secretaria de Educação de São Paulo, situação essa que poderia ser considerada
contrária à presunção de veracidade do que ali consta anotado (ID 193155123 – pág. 95).
6. No mais, esclareço que, coerente com as disposições do art. 29, § 5º, e art. 55, II, ambos da
Lei 8.213/1991, que os incisos III e IX do art. 60 do Decreto 3.048/1999 (aplicáveis ao caso em
razão do princípio tempus regit actum), asseguram, até que lei específica discipline a matéria,
que são contados como tempo de contribuição/carência o período em que o segurado esteve
recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez (entre períodos de atividade), bem
como o período em que o segurado percebeu benefício por incapacidade por acidente do
trabalho (intercalado ou não). Vale ressaltar que tem sido firme o entendimento no sentido de
que as expressões "tempo intercalado" ou "entre períodos de atividade" abrangem os lapsos
temporais de gozo de benefício, desde que o segurado tenha retornado ao trabalho (ou
reiniciado a verter contribuições previdenciárias válidas), ainda que por curto período, seguido
de nova concessão de benefício. Ademais, consigne-se a questão em debate foi recentemente
decidida pelo C. Supremo Tribunal Federal nos autos do Recurso Extraordinário nº
1.298.832/RS, julgado em 18/2/2021, na sistemática dos recursos repetitivos, no Tema 1125 da
Repercussão Geral, nos seguintes termos: “É constitucional o cômputo, para fins de carência,
do período no qual o segurado esteve em gozo do benefício de auxílio-doença, desde que
intercalado com atividade laborativa.”.
7. No entanto, no caso em destaque, vejo o período reconhecido pela r. sentença (12/12/2007 a
30/10/2008) também não está intercalado entre períodos contributivos (ID 193155123 – págs.
94/95), de modo que também não pode ser computado para fins de carência.
8. Desse modo, ao excluir os dois períodos acima delineados, é fácil constatar que a parte
autora não possuía a carência necessária à benesse vindicada na primeira DER, sendo
imperativa a reforma da r. sentença, com a improcedência do pedido inaugural.
9. Preliminares rejeitadas. Apelação do INSS provida.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Sétima Turma, por
unanimidade, decidiu rejeitar as preliminares e dar provimento ao recurso de apelação do INSS,
nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA
