APELAÇÃO CÍVEL Nº 5000730-95.2011.4.04.7111/RS
RELATOR | : | MARCELO DE NARDI |
APELANTE | : | INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS |
APELADO | : | ANTONIO DILSON THEIS |
ADVOGADO | : | ANA AMÉLIA DATTEIN RABUSKE |
EMENTA
BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. DEFERIMENTO ADMINISTRATIVO REVOGADO. BOA-FÉ. IMPOSSIBILIDADE DE REPETIÇÃO DOS VALORES PAGOS.
O benefício deferido pelo INSS gera no benefíciário a percepção de que é legítimo receber os pagamentos correspondentes. A revogação do benefício pela Administração Previdenciária não lhe outorga o direito de repetir os pagamentos que adiantou ao beneficiário, salvo se comprovar fraude ou má-fé na percepção irregular de benefício. Precedente da Terceira Seção deste Tribunal Regional Federal da Quarta Região.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 5a. Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação e à remessa oficial, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Porto Alegre, 22 de setembro de 2015.
Marcelo De Nardi
Relator
| Documento eletrônico assinado por Marcelo De Nardi, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 7725612v8 e, se solicitado, do código CRC D55B79AC. | |
| Informações adicionais da assinatura: | |
| Signatário (a): | MARCELO DE NARDI:2125 |
| Nº de Série do Certificado: | 591FF774F295FA27 |
| Data e Hora: | 28/09/2015 14:56:42 |
APELAÇÃO CÍVEL Nº 5000730-95.2011.4.04.7111/RS
RELATOR | : | MARCELO DE NARDI |
APELANTE | : | INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS |
APELADO | : | ANTONIO DILSON THEIS |
ADVOGADO | : | ANA AMÉLIA DATTEIN RABUSKE |
RELATÓRIO
ANTÔNIO ADILSON THEIS ajuizou ação ordinária contra o INSS em 24maio2011, objetivando a declaração de nulidade da cobrança que a Autarquia vem empreendendo, a título de devolução de aposentadoria por invalidez reputada irregularmente concedida.
O requerente recebeu aposentadoria por invalidez de 17jan.2003 a 28fev.2011. Após, o INSS, por ter recebido denúncia anônima, realizou nova perícia, sendo constatado que a incapacidade seria parcial não e não total, razão pela qual a Autarquia cancelou o benefício de aposentadoria por invalidez e implantou em favor do autor auxílio-acidente, o que gerou um complemento negativo que vinha sendo descontado no pagamento do benefício.
Foi deferida liminar determinando a imediata cessação dos descontos (Evento 3).
A sentença confirmou a liminar e julgou procedente o pedido, determinando ao INSS: a) o cancelamento dos descontos efetuados no atual benefício do autor; b) a desconstituição do débito administrativo apurado; c) a restituição dos valores já descontados até a decisão antecipatória, com correção monetária desde quando devidos, pelo IGP-DI de maio de 1996 a março de 2006, INPC de abril de 2006 a junho de 2009 e TR a partir de julho de 2009, além de juros de mora incidentes desde a citação, à razão de um por cento ao mês até junho de 2009 e juros aplicados à caderneta de poupança, uma única vez, a partir de julho de 2009; d) a pagar honorários de advogado fixados em dez por cento do valor da causa atualizado pelo IPCA-E. O julgado foi submetido ao reexame necessário.
O INSS apelou, discorrendo acerca da possibilidade de devolução dos valores irregularmente pagos.
Com contrarrazões, veio o recurso a este Tribunal.
VOTO
O pedido inicial do autor versa apenas sobre a legalidade dos descontos efetuados e a devolução dos valores recebidos, não sendo questionados os fatos que levaram ao cancelamento da aposentadoria por invalidez e sua conversão em auxílio-acidente.
A sentença assim analisou o cerne da controvérsia:
[...]
Cumpre esclarecer que, no caso, não houve qualquer alegação/demonstração, pela Autarquia Previdenciária, de que teria havido má-fé na percepção do benefício previdenciário de aposentadoria por invalidez pelo autor.
O que restou demonstrado da análise do processo administrativo juntado aos autos é que houve erro administrativo na concessão do benefício. O laudo pericial efetuado pelo perito do INSS, por ocasião da concessão em 2003, já apontava que o autor fazia jus ao benefício 'B.36 - auxílio-acidente' (evento 20 - PROCADM1, fl. 07). No entanto, o INSS, por equívoco, concedeu ao Autor o benefício de Aposentadoria por Invalidez (B.32).
Observo que não houve, por parte do autor, nenhuma conduta capaz de induzir o INSS em erro, assim não há falar-se em má-fé.
Pelo contrário, o equívoco na concessão do benefício é admitido pela Autarquia como se observa (evento 20 - PROCADM1, fl. 29):
'(...) 2 - Recebemos denúncia conforme fls. 10 a 11;
3 - Verificamos o processo concessório e constatamos, conforme fls. 07, que, por um lapso, foi concedida Aposentadoria por Invalidez (B32), quando a sugestão médica era de Auxílio Acidente ( B36)'.(g.n)
'Espelho de Cessação do Benefício em 16/02/2011
Descrição: Cessado na DIB por erro de concessão deveria ser b36 e foi b32 calculado valor do debito ate 31012011' (g.n)
Sendo assim, tenho que deve ser acolhido integralmente o pleito do autor para que o INSS se abstenha de descontar os valores por ele percebidos á título de aposentadoria por invalidez no período de 17.01.2003 a 28.02.2011, do seu atual benefício de auxílio-acidente.
[...]
Portanto, não havendo comprovação de má-fé ou fraude na percepção irregular do benefício, não cabe acolher a pretensão formulada pelo INSS em seu apelo. Esta Corte já decidiu por não ordenar devolução de valores recebidos em razão da mencionada boa-fé e do caráter alimentar da prestação, conforme orientação consolidada na Terceira Seção:
PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS INFRINGENTES. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PENSÃO POR MORTE. ART. 75 DA LEI 8.213/91. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. REVOGAÇÃO. BOA-FÉ. IMPOSSIBILIDADE DE DEVOLUÇÃO DOS VALORES.
1. Revogada a antecipação da tutela em virtude da improcedência do pedido, impõe-se, de regra, a restituição do que o beneficiado já houver percebido, a fim de que seja evitado o enriquecimento sem causa.
2. Contudo, tratando-se de benefício previdenciário, deve-se ter em conta o inegável caráter alimentar dos valores percebidos, bem como a boa-fé da parte, sendo inviável a devolução das referidas verbas.
3. Declarada a irrepetibilidade dos valores recebidos pelos substituídos, por força de antecipação de tutela nas respectivas ações individuais - em que buscavam a majoração do coeficiente de cálculo de seu benefício, com base no art. 75 da Lei n.º 8.213/91 -, posteriormente julgadas improcedentes. Isso porque o disposto no art. 115, inciso II, c/c seu § 1º, da LBPS, incide somente nas hipóteses em que o pagamento errôneo do benefício decorreu de decisão administrativa e/ou erro da administração.
(TRF4, Terceira Seção Embargos Infringentes n.º 2007.71.00.010290-7, rel. Ricardo Teixeira do Valle Pereira, 15mar.2013)
Ressalvo entendimento pessoal divergente.
Pelo exposto, voto no sentido de negar provimento à apelação e à remessa oficial.
Marcelo De Nardi
Relator
| Documento eletrônico assinado por Marcelo De Nardi, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 7725603v3 e, se solicitado, do código CRC DBFC727C. | |
| Informações adicionais da assinatura: | |
| Signatário (a): | MARCELO DE NARDI:2125 |
| Nº de Série do Certificado: | 591FF774F295FA27 |
| Data e Hora: | 28/09/2015 14:56:24 |
EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 22/09/2015
APELAÇÃO CÍVEL Nº 5000730-95.2011.4.04.7111/RS
ORIGEM: RS 50007309520114047111
RELATOR | : | Juiz Federal MARCELO DE NARDI |
PRESIDENTE | : | Paulo Afonso Brum Vaz |
PROCURADOR | : | Dr. Sérgio Cruz Arenhart |
APELANTE | : | INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS |
APELADO | : | ANTONIO DILSON THEIS |
ADVOGADO | : | ANA AMÉLIA DATTEIN RABUSKE |
Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 22/09/2015, na seqüência 222, disponibilizada no DE de 08/09/2015, da qual foi intimado(a) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a DEFENSORIA PÚBLICA e as demais PROCURADORIAS FEDERAIS.
Certifico que o(a) 5ª TURMA, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A TURMA, POR UNANIMIDADE, DECIDIU NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO E À REMESSA OFICIAL.
RELATOR ACÓRDÃO | : | Juiz Federal MARCELO DE NARDI |
VOTANTE(S) | : | Juiz Federal MARCELO DE NARDI |
: | Des. Federal PAULO AFONSO BRUM VAZ | |
: | Des. Federal ROGERIO FAVRETO |
Lídice Peña Thomaz
Secretária de Turma
| Documento eletrônico assinado por Lídice Peña Thomaz, Secretária de Turma, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 7855201v1 e, se solicitado, do código CRC B0DD504A. | |
| Informações adicionais da assinatura: | |
| Signatário (a): | Lídice Peña Thomaz |
| Data e Hora: | 23/09/2015 14:58 |
