EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº 5000978-21.2012.4.04.7016/PR
RELATOR | : | ALTAIR ANTONIO GREGORIO |
EMBARGANTE | : | INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS |
EMBARGADO | : | ACÓRDÃO |
INTERESSADO | : | ARI WEIRICH |
ADVOGADO | : | TALIHTA PAZUCH |
: | EDUARDO OLEINIK |
EMENTA
PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. REEXAME POR DETERMINAÇÃO DO E. STJ. OMISSÃO. CONFIGURAÇÃO. REGULARIZAÇÃO. CONVERSÃO INVERTIDA. VEDAÇÃO. MANTIDA A CONCESSÃO ALTERNATIVA DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. IMPLEMENTAÇÃO DOS REQUISITOS. PERSISTÊNCIA.
1. Havendo determinação do e. STJ para o reexame de embargos de declaração opostos, a questão sobre a qual a questão sobre a qual o embargante alegou ter havido omissão deverá ser enfrentada. 2. Configurando-se a apontada omissão na decisão embargada, a respectiva regularização deverá ser procedida de imediato. 3. Resta consolidado no e. Superior Tribunal de Justiça a orientação no sentido de que é a lei do momento da implementação do requisitos para a percepção da aposentadoria que rege o direito da parte autora à conversão de tempo comum em especial e de especial em comum, independentemente do regime jurídico à época da prestação do serviço. 4. Ainda que afastado o tempo de serviço considerado especial por decorrência do procedimento de conversão invertida (fator 0,71), deverá ser mantida a concessão do benefício previdenciário alternativo (aposentadoria por tempo de contribuição) no caso de persistência da implementação dos inerentes requisitos legais.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, acolher em parte os embargos de declaração, com efeitos infringentes, a fim de dar parcial provimento à apelação do INSS e à remessa oficial, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Porto Alegre, 10 de outubro de 2017.
ALTAIR ANTONIO GREGORIO
Relator
| Documento eletrônico assinado por ALTAIR ANTONIO GREGORIO, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 9182830v9 e, se solicitado, do código CRC 626605BB. | |
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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº 5000978-21.2012.4.04.7016/PR
RELATOR | : | ALTAIR ANTONIO GREGORIO |
EMBARGANTE | : | INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS |
EMBARGADO | : | ACÓRDÃO |
INTERESSADO | : | ARI WEIRICH |
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: | EDUARDO OLEINIK |
RELATÓRIO
Trata-se do reexame de embargos de declaração opostos pelo INSS em face de acórdão ementado nos seguintes termos:
PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. COMPROVAÇÃO. CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO COMUM EM ESPECIAL. POSSIBILIDADE. APOSENTADORIA ESPECIAL. CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL EM COMUM. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO. REQUISITOS PREENCHIDOS. CONCESSÃO. 1. Até 28/04/1995 é admissível o reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou por sujeição a agentes nocivos, aceitando-se qualquer meio de prova (exceto para ruído); a partir de 29-04-1995 não mais é possível o enquadramento por categoria profissional, devendo existir comprovação da sujeição a agentes nocivos por qualquer meio de prova até 05-03-1997 e, a partir de então, por meio de formulário embasado em laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. 2. A conversão de tempo de serviço comum em especial somente pode ser efetivada relativamente ao trabalho desempenhado até 28/04/1995, dia anterior à entrada em vigor da Lei nº 9.032/95. 3. A Lei nº 9.711/98 e o Regulamento Geral da Previdência Social aprovado pelo Decreto nº 3.048/99 resguardam o direito adquirido de os segurados terem convertido o tempo de serviço especial em comum, ainda que posterior a 28-05-1998, observada, para fins de enquadramento, a legislação vigente à época da prestação do serviço. 4. Verificado pelo julgado que restam cumpridas as exigências do art. 57 da Lei nº 8.213/91 - tempo de serviço especial e carência nos termos do art. 142 do mesmo diploma -, deve ser concedido o benefício de aposentadoria especial. 5. Comprovado o exercício de atividades exercidas em condições especiais, as quais devem ser acrescidas ao tempo reconhecido pelo INSS, tem o segurado direito à concessão do benefício de aposentadoria por tempo de serviço/contribuição, nas condições que lhe sejam mais favoráveis, em respeito ao direito adquirido e às regras de transição, tudo nos termos dos artigos 5º, inciso XXXVI, da CF, 3º e 9º da EC 20/98 e 3º e 6º da Lei 9.876/99. 6. Sendo o autor detentor do direito à concessão, tanto da aposentadoria integral por tempo de contribuição, quanto da aposentadoria especial, poderá fazer a opção pelo benefício com o cálculo mais vantajoso. (TRF4, APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO Nº 5000978-21.2012.404.7016, 5ª TURMA, Des. Federal RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, POR UNANIMIDADE, JUNTADO AOS AUTOS EM 15/09/2014)
Em 08/10/2014, a Turma julgadora rejeitou os embargos de declaração opostos pelo ente previdenciário (evento 29), sob o argumento, na ocasião, de inocorrência de omissão, contradição ou obscuridade no acórdão embargado, bem como da inapropriada intenção da parte embargante para a rediscussão do mérito.
Inconformado, o INSS, em 27/10/2014, interpôs recurso especial (evento 34), defendendo a ocorrência de ofensa ao disposto no art. 535 do CPC (vigente à época), que ensejaria a nulidade do decisum recorrido. Tal recurso, no entanto, restou inadmitido (evento 45).
Não se conformando com a inadmissão do recurso excepcional, o ente previdenciário interpôs agravo (evento 50), sendo proferida decisão pelo e. STJ (evento 57) determinando o retorno dos autos a esta e. Corte para reexame da controvérsia suscitada nos aclaratórios inerentes à conversão inversa, tendo em conta que a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp n. 1.310.034/PR, proferido sob o rito do art. 543-C do CPC/1973, firmou o entendimento de que "A lei vigente por ocasião da aposentadoria é a aplicável ao direito à conversão entre tempos de serviço especial e comum, independentemente do regime jurídico à época da prestação do serviço".
Vieram os autos conclusos para novo exame dos embargos de declaração, nos termos da decisão proferida pelo e. STJ.
Na iminência do afastamento de tempo de serviço especial resultante da operação de conversão invertida, a parte autora pugna (evento 67) pela reafirmação da DER, juntando para tanto cópia do CNIS, contendo dados sobre a continuidade do labor após o requerimento administrativo.
Nos embargos de declaração constantes no evento 10 o INSS anota ocorrência de omissão no acórdão embargado no que tange à vedação à conversão de tempo de serviço comum em especial, sob o enfoque do advento da Lei nº 9.032/95.
É o relatório.
VOTO
Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: a) esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; b) suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; c) corrigir erro material (CPC/2015, art. 1.022, incisos I a III). Em hipóteses excepcionais, admite a jurisprudência emprestar-lhes efeitos infringentes.
Consoante anteriormente narrado, na hipótese, a parte embargante anota nos aclaratórios (evento 10) ocorrência de omissão no acórdão embargado no tocante ao tema concernente à impossibilidade de conversão de tempo comum em especial, na hipótese.
Na esteira da determinação do e. STJ, impende, portanto, tecer considerações atinentes ao enfrentamento da questão apresentada pela parte embargante.
Do reexame da apontada omissão relativa à conversão inversa
Em acórdão prolatado na sessão do dia 09/09/2014 (evento 20), a e. 5ª Turma, por unanimidade, consignou que o labor urbano comum exercido até 28/04/95 pode ser convertido em tempo de serviço especial, mantendo, por conseguinte a sentença recorrida no que concerne ao tema. No Juízo de origem (evento 77) haviam sido convertidos pelo fator 0,71 períodos de tempo comum (01/07/1976 a 01/02/1978, de 01/03/1979 a 21/01/1980, de 01/02/1980 a 29/04/1988 e de 01/06/1988 a 01/06/1993), que resultaram no acréscimo de 11 anos, e 02 meses de tempo especial aos cálculos do benefício de aposentadoria especial, com marco inicial na DER (27/09/2007).
Nos embargos de declaração opostos pelo INSS, no entanto, foi apontada a omissão quanto ao julgamento do tema sob o enfoque harmônico ao entendimento manifestado pelo e. STJ sobre a questão, considerando, sobretudo, as decisões em recursos repetitivos a respeito da matéria.
Assim, a fim de sanar a apontada omissão, tornam-se necessários os esclarecimentos a seguir registrados.
Quanto à possibilidade de conversão do tempo de serviço comum para especial, vinha esta Corte entendendo ser cabível tal procedimento em relação a todo o labor urbano comum desempenhado até 28/04/95, dia anterior à entrada em vigor da Lei nº 9.032, que alterou a redação do art. 57, §5º, da Lei 8.213/91.
Contudo, a matéria em questão, como visto, restou apreciada pelo STJ, no Recurso especial nº 1.310.034/PR, submetido ao regime do art. 543-C do CPC, cuja ementa estampa:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ERRO MATERIAL NA RESOLUÇÃO DO CASO CONCRETO. ACOLHIMENTO. RESOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA SOB O RITO DO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO STJ 8/2008 MANTIDA. PREVIDENCIÁRIO. TEMPO ESPECIAL E COMUM. POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO. LEI APLICÁVEL. CRITÉRIO. LEGISLAÇÃO VIGENTE QUANDO PREENCHIDOS OS REQUISITOS DA APOSENTADORIA.
1. A parte embargante aduz que o item "4" da ementa apresenta erro material, já que em 24.1.2002, data do requerimento administrativo de concessão da aposentadoria, não estaria vigente a redação original do art. 57, § 3º, da Lei 8.213/1991, e sim a redação dada ao citado dispositivo legal pela Lei 9.032/1995 (art. 57, § 5º).
Com isso e aplicando a tese fixada sob o rito do art. 543-C do CPC ao presente caso, assevera que não é possível a conversão de tempo comum em especial em favor do embargado.
Resolução da controvérsia submetida ao rito do art. 543-C do CPC
2. Não sendo objeto de irresignação a tese fixada sob o regime do art. 543-C do CPC no acórdão embargado, mas sim a sua aplicação sobre o caso concreto, permanece incólume a resolução da controvérsia sob o regime dos recursos repetitivos assentada no acórdão embargado:
2.1. Como pressupostos para a solução da matéria de fundo, destaca-se que o STJ sedimentou o entendimento de que, em regra; a) a configuração do tempo especial é de acordo com a lei vigente no momento do labor, e b) a lei em vigor quando preenchidas as exigências da aposentadoria é a que define o fator de conversão entre as espécies de tempo de serviço. Nesse sentido: REsp 1.151.363/MG, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, DJe 5.4.2011, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC.
2.2. A lei vigente por ocasião da aposentadoria é a aplicável ao direito à conversão entre tempos de serviço especial e comum, independentemente do regime jurídico à época da prestação do serviço. Na mesma linha: REsp 1.151.652/MG, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 9.11.2009; REsp 270.551/SP, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 18.03.2002; Resp 28.876/SP, Rel. Ministro Assis Toledo, Quinta Turma, DJ 11.09.1995; AgRg nos EDcl no Ag 1.354.799/PR, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 5.10.2011.
Exame dos presentes Embargos de Declaração - caso concreto
1. Com efeito, tem razão a autarquia previdenciária quanto ao erro de premissa do item "4" da ementa, pois em 2002, data da reunião dos requisitos da aposentadoria, não vigorava a redação original do art.
57, § 3º, da Lei 8.213/1991, mas sim o art. 57, § 5º, da Lei 8.213/1991 com a redação dada pela Lei 9.032/1995 (houve renumeração dos parágrafos).
2. Conforme decidido no acórdão embargado, esta Primeira Seção, sob o regime do art. 543-C do CPC, estabeleceu que é a lei do momento da aposentadoria que rege o direito à conversão de tempo comum em especial e de especial em comum, o que, com o erro material acima sanado, demanda a revisão da resolução do caso concreto.
7. A lei vigente no momento da aposentadoria, quanto ao direito à conversão do tempo de serviço de comum em especial, era o art. 57, § 5º, da Lei 8.213/1991, com a redação dada pela Lei 9.032/1995, que suprimiu a possibilidade de conversão de tempo comum em especial, mantendo apenas a hipótese de conversão de tempo especial em comum ("§ 5º O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício.").
9. No caso dos autos, a reunião dos requisitos para a aposentadoria foi em 2002, quando em vigor, portanto, o art. 57, § 5º, da Lei 8.213/1991, com a redação dada pela Lei 9.032/1995, que afastou a previsão de conversão de tempo comum em especial.
10. Não se deve confundir tal situação, todavia, com as premissas adotadas no item "2" da ementa do acórdão embargado (2.1 acima), como segue: 10.1. "a configuração do tempo especial é de acordo com a lei vigente no momento do labor": essa regra consiste na definição da lei que rege a configuração do tempo de serviço. Por exemplo, se o trabalho foi exercido de 1990 a 1995, a lei vigente no momento da prestação do serviço é que vai dizer se a atividade é especial ou comum.
10.2. "a lei em vigor quando preenchidas as exigências da aposentadoria é a que define o fator de conversão entre as espécies de tempo de serviço": para saber qual o fator de conversão do tempo de serviço de especial para comum, e vice-versa, a lei que rege o direito é a do momento da aposentadoria. Exemplo: se em 2003 o tempo de serviço para aposentadoria especial era de 25 anos e o tempo de serviço para aposentadoria por tempo de contribuição era de 35 anos (para homens), o fator de conversão do tempo de serviço especial em comum será de 1,4 (resultado da divisão 35/25), sendo irrelevante se, ao tempo da prestação do lapso laboral que se pretende converter, havia norma que estipulava outra proporção.
11. No presente recurso representativo da controvérsia, repita-se, o objeto da controvérsia é saber qual lei rege a possibilidade de converter tempo comum em especial, e o que ficou estipulado (item "3" da ementa) no acórdão embargado é que a lei vigente no momento da aposentadoria disciplina o direito vindicado.
12. No caso concreto, o objetivo era que a conversão do tempo de serviço fosse regida pela Lei vigente ao tempo da prestação (Lei 6.887/1980), o que foi afastado pelo postulado decidido sob o regime do art. 543-C do CPC de que "a lei vigente por ocasião da aposentadoria é a aplicável ao direito à conversão entre tempos de serviço especial e comum, independentemente do regime jurídico à época da prestação do serviço".
13. Ao embargado foi deferida administrativamente a aposentadoria por tempo de contribuição em 24.1.2002, pois preencheu o tempo de 35 anos de serviço, mas pretende converter o tempo comum que exerceu em especial, de forma a converter o citado benefício em aposentadoria especial.
14. A vantagem desse procedimento é que a aposentadoria especial não está submetida ao fator previdenciário (art. 29, I e II, da Lei 8.213/1991, com a redação da Lei 9.876/1999), o que de certa forma justifica a vedação legal de conversão do tempo comum em especial, pois, caso contrário, todos os aposentados por tempo de contribuição com 35 anos de tempo de serviço comum, por exemplo, poderiam pleitear a conversão desse tempo em especial (fator 1,4) de forma a também converter a aposentadoria comum em especial (25 anos) e, com isso, afastar o fator previdenciário.
15. Tal argumento de reforço, com intuito de apresentar visão sistêmica do regime geral de previdência social, denota justificativa atuarial para a vedação de conversão do tempo comum em especial fixada pela Lei 9.032/1995.
16. O sistema previdenciário vigente após a Lei 9.032/1995, portanto, somente admite aposentadoria especial para quem exerceu todo o tempo de serviço previsto no art. 57 da Lei 8.213/1991 (15, 20 ou 25 anos, conforme o caso) em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
17. Embargos de Declaração acolhidos, com efeito infringente, para prover o Recurso especial e julgar improcedente a presente ação, invertendo-se os ônus sucumbenciais, mantendo-se incólume a resolução da controvérsia sob o rito do art. 543-C do CPC.
(EDcl no REsp 1310034/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/11/2014, DJe 02/02/2015)
Como visto, restou estabelecido no recurso representativo de controvérsia que é a lei do momento da aposentadoria que rege o direito à conversão de tempo comum em especial e de especial em comum, independentemente do regime jurídico à época da prestação do serviço. A lei vigente à época do labor define, isto sim, a configuração da atividade como especial ou comum; não a possibilidade de conversão de um em outro.
Com a edição da Lei 9.032/95, somente passou a ser possibilitada a conversão de tempo especial em comum, sendo suprimida a hipótese de conversão de tempo comum em especial.
Não há falar em aplicação híbrida de regimes jurídicos ou de legislação subsequente mais benéfica, possibilidade esta rechaçada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 415.454/SC e do RE 416.827/SC (DJ 26/10/07). O entendimento assentado no repetitivo do STJ em comento reafirma os pressupostos estabelecidos pelo STF, pois considera o regime da lei vigente à época do jubilamento como o aplicável para a fixação dos critérios que envolvem a concessão da aposentadoria.
No caso concreto, verifica-se que a reunião dos requisitos para a aposentadoria ocorreu em 27/09/2007 (DER), quando já em vigor o art. 57, §5º, da Lei 8.213/91 (redação dada pela Lei 9.032/95), que afastou a previsão de conversão de tempo comum em especial e restringiu à hipótese exclusiva de conversão de tempo especial em comum. Por decorrência, deverá ser afastado do cômputo do benefício de aposentadoria o tempo especial resultante da mencionada operação de conversão inversa.
Do Tempo Especial
Observa-se que na sentença (evento 77 dos autos originários), por força do procedimento de conversão de tempo comum (períodos: 01/07/1976 a 01/02/1978, de 01/03/1979 a 21/01/1980, de 01/02/1980 a 29/04/1988 e de 01/06/1988 a 01/06/1993) para especial pelo fator 0,71, foram averbados judicialmente em prol da parte autora 11 anos e 02 meses de tempo especial até a DER (27/09/2007).
Nesse contexto, observa-se que merecem acolhimento os embargos de declaração (evento 25) quanto ao ponto para fins de provimento da apelação do INSS e da remessa oficial quanto ao ponto, devendo, por conseguinte, ser afastada da contagem temporal do benefício de aposentadoria especial o correspondente tempo de serviço considerado judicialmente como sendo de índole especial por decorrência da referida operação de conversão.
Assim, por conta de novo cálculo de tempo de serviço especial, com o afastamento do tempo especial decorrente da conversão inversa, e o cômputo de tempo especial reconhecido administrativamente (evento 22, autos originários - PROCADM7) e judicialmente (evento 20, VOTO2), observa-se que não se revela satisfeito, na hipótese, o requisito temporal para a manutenção da concessão da aposentadoria especial à parte autora. Denota-se que parte autora, possui, portanto, a seguinte composição de tempo de serviço especial:
No acórdão embargado (evento 20), por força da conversão invertida de períodos de labor comum havia sido concedido à parte autora o benefício de aposentadoria especial a partir da DER (27/09/2007). No entanto, segundo constatado, afastando-se o tempo de serviço considerado especial resultante da conversão inversa, constata-se que o autor não faz jus ao referido benefício previdenciário.
Oportuno esclarecer, que, embora a parte autora tenha juntado aos autos cópias do CNIS, aviando, na ocasião, a pretensão de reafirmação da DER (evento 67), tal procedimento não é possível na espécie, considerando que o tempo de serviço especial faltante para o atendimento do requisito temporal (25 anos de tempo especial) supera 10 anos e a última remuneração registrada no CNIS como sendo percebida pelo autor na empresa Sperafico Agroindustrial Ltda. é de dezembro de 2014. Ademais, não se vislumbram nos autos documentos comprobatórios da especialidade após a DER (PPP atualizado ou outros).
Nesse contexto, merecem acolhimento quanto à insurgência em relação à conversão invertida o apelo do INSS e o reexame necessário o. Todavia, o acórdão embargado deverá ser mantido no que concerne à concessão alternativa da aposentadoria por tempo de contribuição a partir da DER e no que se refere aos tópicos relacionados à concessão de tal benefício, sobre os quais não há reparos a serem promovidos no momento. Levando-se ainda em conta o parcial acolhimento dos aclaratórios, deve ser mantida fixação dos ônus sucumbenciais.
Por conseguinte, tendo em conta a alteração ora promovida, deve ser alterado o benefício concedido ao autor para a aposentadoria por tempo de contribuição (espécie 42), uma vez que ele, como visto, não implementou o mínimo de 25 anos de atividades especiais necessários à percepção da aposentadoria especial.
Outrossim, é de se salientar que os valores recebidos por decorrência da decisão embargada não deverão ser restituídos, porquanto decorrentes de prolação de decisão judicial. Necessário registrar que, ante a inexistência de má-fé da parte beneficiária, não se aplica, na hipótese, o disposto no artigo 115 da Lei 8.213/1991.
Conclusão
Em sede de reexame recursal, promovido por força de determinação do e. STJ (evento 57), restam parcialmente acolhidos os embargos de declaração, com efeitos infringentes, a fim de sanar a omissão apontada, no que concerne à conversão invertida, afastando-se o tempo especial computado no acórdão embargado resultante de tal procedimento. Considerando-se, assim, a insuficiência de tempo especial para a manutenção da percepção de aposentadoria especial a partir da DER, não cabendo, no caso, a reafirmação da DER, mantêm-se o acórdão embargado no tocante à concessão alternativa de aposentadoria por tempo de contribuição a partir do requerimento administrativo. Assim, são providas parcialmente a apelação do INSS (evento 82) e a remessa oficial relativamente ao tema reexaminado. Por conseguinte, fica mantido o acórdão quanto aos demais tópicos, na medida em que não abrangidos pela determinação contida na decisão do e. STJ (evento 57).
Dispositivo
Ante o exposto, voto no sentido de acolher em parte os embargos de declaração, com efeitos infringentes, a fim de dar parcial provimento à apelação do INSS e à remessa oficial.
ALTAIR ANTONIO GREGORIO
Relator
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EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 10/10/2017
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº 5000978-21.2012.4.04.7016/PR
ORIGEM: PR 50009782120124047016
INCIDENTE | : | EMBARGOS DE DECLARAÇÃO |
RELATOR | : | Juiz Federal ALTAIR ANTONIO GREGORIO |
PRESIDENTE | : | Altair Antonio Gregorio |
PROCURADOR | : | Dr. Eduardo Kurtz Lorenzoni |
EMBARGANTE | : | INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS |
EMBARGADO | : | ACÓRDÃO |
INTERESSADO | : | ARI WEIRICH |
ADVOGADO | : | TALIHTA PAZUCH |
: | EDUARDO OLEINIK |
Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 10/10/2017, na seqüência 467, disponibilizada no DE de 25/09/2017, da qual foi intimado(a) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a DEFENSORIA PÚBLICA e as demais PROCURADORIAS FEDERAIS.
Certifico que o(a) 5ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A TURMA, POR UNANIMIDADE, DECIDIU ACOLHER EM PARTE OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, COM EFEITOS INFRINGENTES, A FIM DE DAR PARCIAL PROVIMENTO À APELAÇÃO DO INSS E À REMESSA OFICIAL.
RELATOR ACÓRDÃO | : | Juiz Federal ALTAIR ANTONIO GREGORIO |
VOTANTE(S) | : | Juiz Federal ALTAIR ANTONIO GREGORIO |
: | Juíza Federal GISELE LEMKE | |
: | Juiz Federal ARTUR CÉSAR DE SOUZA |
Lídice Peña Thomaz
Secretária de Turma
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