Processo
RecInoCiv - RECURSO INOMINADO CÍVEL / SP
0007081-18.2014.4.03.6328
Relator(a)
Juiz Federal FERNANDA SOUZA HUTZLER
Órgão Julgador
14ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo
Data do Julgamento
14/10/2021
Data da Publicação/Fonte
DJEN DATA: 19/10/2021
Ementa
E M E N T A
JUÍZO DE RETRATAÇÃO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. EXPOSIÇÃO
A RUÍDO. RESPONSÁVEL TÉCNICO PELOS REGISTROS AMBIENTAIS. TEMA 208 DA TNU.
1.Trata-se de Pedido de Uniformização Nacional interposto pela parte ré, objetivando a reforma
de acórdão que deu parcial provimento ao recurso da parte autora, para o fim de reconhecer a
especialidade do período exposto a ruído.
2. Foi dado provimento ao Pedido de Uniformização, determinando a devolução dos autos à
Turma de origem, para realização do juízo de retratação, de acordo com os critérios do Tema 208
da TNU.
3. Formulário PPP indica a presença de responsável técnico em período posterior ao tempo de
labor reconhecido como especial.
4. A parte autora foi intimada para, nos termos do Tema 208 da TNU, suprir a ausência da
indicação do responsável técnico, juntando LTCAT ou elementos técnicos equivalentes,
acompanhados da declaração do empregador sobre a inexistência de alteração no ambiente de
trabalho.
5.Parte autora juntou LTCAT, assinado por engenheiro do trabalho, com registro no CREA,
demonstrando que a empresa funciona no mesmo endereço, inexistindo qualquer prova, da
alteração no ambiente de trabalho (mesmo lay out).
6.Juizo de Retratação rejeitado.
Acórdao
Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos
PODER JUDICIÁRIOTurmas Recursais dos Juizados Especiais Federais Seção Judiciária de
São Paulo
14ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo
RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº0007081-18.2014.4.03.6328
RELATOR:40º Juiz Federal da 14ª TR SP
RECORRENTE: GIOVANI CARDOSO
Advogados do(a) RECORRENTE: GILMAR BERNARDINO DE SOUZA - SP243470-N,
EVERTON FADIN MEDEIROS - SP310436-N
RECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
PODER JUDICIÁRIOJUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃOTURMAS RECURSAIS
DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS DE SÃO PAULO
RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº0007081-18.2014.4.03.6328
RELATOR:40º Juiz Federal da 14ª TR SP
RECORRENTE: GIOVANI CARDOSO
Advogados do(a) RECORRENTE: GILMAR BERNARDINO DE SOUZA - SP243470-N,
EVERTON FADIN MEDEIROS - SP310436-N
RECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
R E L A T Ó R I O
Trata-se de Pedido de Uniformização Nacional interposto pela parte ré, objetivando a reforma
de acórdão que deu parcial provimento ao recurso da parte autora, para o fim de reconhecer a
especialidade do período de 08/08/1996 a 26/05/1999, convertendo- em tempo comum.
Foi dado provimento ao Pedido de Uniformização, determinando a devolução dos autos à
Turma de origem, para realização do juízo de retratação, de acordo com os critérios
estabelecidos na tese firmada pela Turma Nacional de Uniformização, no Representativo de
Controvérsia (PEDILEF 0500940-26.2017.4.05.8312/PE), após revisão por Embargos de
Declaração, no Tema 208: "1. Para a validade do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP)
como prova do tempo trabalhado em condições especiais nos períodos em que há exigência de
preenchimento do formulário com base em Laudo Técnico das Condições Ambientais de
Trabalho (LTCAT), é necessária a indicação do responsável técnico pelos registros ambientais
para a totalidade dos períodos informados, sendo dispensada a informação sobre de
monitoração biológica. 2. A ausência total ou parcial da indicação no PPP pode ser suprida pela
apresentação de LTCAT ou por elementos técnicos equivalentes, cujas informações podem ser
estendidas para período anterior ou posterior à sua elaboração, desde que acompanhados da
declaração do empregador sobre a inexistência de alteração no ambiente de trabalho ou em
sua organização ao longo do tempo."
É o relatório.
PODER JUDICIÁRIOJUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃOTURMAS RECURSAIS
DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS DE SÃO PAULO
RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº0007081-18.2014.4.03.6328
RELATOR:40º Juiz Federal da 14ª TR SP
RECORRENTE: GIOVANI CARDOSO
Advogados do(a) RECORRENTE: GILMAR BERNARDINO DE SOUZA - SP243470-N,
EVERTON FADIN MEDEIROS - SP310436-N
RECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
OUTROS PARTICIPANTES:
V O T O
Da Regularidade do Formulário:
De acordo com o disposto no art. 272, § 12º, da Instrução Normativa nº 45/2010, do INSS, o
PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) deverá ser assinado por representante legal da
empresa, com poderes específicos outorgados por procuração, contendo a indicação dos
responsáveis técnicos legalmente habilitados, por período, pelos registros ambientais e
resultados de monitoração biológica.
Nos termos do art. 262 da Instrução Normativa INSS/PRES nº 77, de 21/01/2015, o
formulário/laudo deverá ser assinado por engenheiro de segurança do trabalho ou por médico
do trabalho, indicando os registros profissionais para ambos.
Do mesmo modo, o artigo 264 da mesma Instrução Normativa INSS/PRES nº 77, de
21/01/2015 assim prevê quanto ao preenchimento do formulário PPP:
"Art. 264. O PPP constitui-se em um documento histórico laboral do trabalhador, segundo
modelo instituído pelo INSS, conforme formulário do Anexo XV, que deve conter as seguintes
informações básicas: I - Dados Administrativos da Empresa e do Trabalhador; II - Registros
Ambientais; III - Resultados de Monitoração Biológica; e IV - Responsáveis pelas Informações.
§ 1º O PPP deverá ser assinado pelo representante legal da empresa ou seu preposto, que
assumirá a responsabilidade sobre a fidedignidade das informações prestadas quanto a: a) fiel
transcrição dos registros administrativos; e b) veracidade das demonstrações ambientais e dos
programas médicos de responsabilidade da empresa.
§ 2º Deverá constar no PPP o nome, cargo e NIT do responsável pela assinatura do
documento, bem como o carimbo da empresa com a razão social, e o CNPJ.
(...)
§ 4º O PPP dispensa a apresentação de laudo técnico ambiental para fins de comprovação de
condição especial de trabalho, desde que demonstrado que seu preenchimento foi feito por
Responsável Técnico habilitado, amparado em laudo técnico pericial.
A IN 85/2016 alterou o §2º do art. 264 da INS 77/2015 para dispensar que conste no referido
carimbo da empresa a sua razão social e CNPJ.
Note-se que a partir de 2004, ano em que o PPP passou a ser necessário à comprovação do
tempo de contribuição especial, as instruções normativas do INSS passaram a exigir a
procuração com poderes específicos do representante legal da empresa para firmar o referido
documento. No entanto, tal exigência deve ser mitigada, de modo que o PPP deve ser
considerado prova idônea ao reconhecimento da especialidade dos períodos laborados, desde
que devidamente assinado e carimbado pela pessoa jurídica. Tal assinatura é suficiente para
tornar o PPP idôneo como meio de prova.
Diferente seria o caso, se se tratasse de PPP sem o responsável técnico legalmente habilitado,
visto que nesse caso, é ele o engenheiro ou médico do trabalho que fará a análise do agente
nocivo no ambiente laboral. Sem ele, de fato o PPP é irregular. Mas a extemporaneidade do
formulário ou a ausência de procuração do representante legal que o assinou, por si só, não
invalida o PPP.
Em sede de doutrina e jurisprudência, o entendimento se firmou no sentido de que, excetuados
os casos de exposição do trabalhador ao ruído e calor, para quais sempre forma exigidos o
laudo técnico, somente após a edição da Medida Provisória 1.523/1996 (convertida na Lei
9.528/1997), poderá ser exigido o laudo pericial (LTCAT) para a comprovação efetiva da
exposição do segurado aos agentes nocivos.
Para Wladimir Novaes Martinez, “a Lei 9.032 fez alusão à prova da exposição aos agentes
nocivos, mas somente a MP 1.523/1996 explicitou a exigibilidade de pericia. Logo, a não ser
nos casos de ruído, só poderá ser imposto a partir de 14/out/1996”.
Assim, a partir da MP 1.523/1996, editada em 14/10/1996, a ausência de responsável técnico
no formulário não se trata de mera irregularidade formal, visto que é o referido profissional
(médico ou engenheiro do trabalho) é quem irá aferir a presença ou não doagente nocivo no
ambiente de trabalho e irá se responsabilizar pela veracidade e eficácia das suas informações.
Sem o referido profissional, não há como se reconhecer a especialidade por agente nocivo.
De todo modo, saliente-se que a ausência de indicação de responsável técnico no PPP poderá
ser suprida pela juntada do Laudo Técnico de condições ambientais do trabalho expedido por
médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho, que deu fundamento às anotações
dos fatores de risco.
Note-se a exceção referente ao agente nocivo ruído e calor, visto que para estes agentes,
mesmo antes da Lei 9.032/95, já se exigia a elaboração de laudo técnico, e portanto, já se
exigia a presença de responsável técnico legalmente habilitado para a sua aferição (que
sempre foi quantitativa).
Saliente-se, ainda, que a identificação do engenheiro ou médico do trabalho responsável pela
avaliação das condições de trabalho, no PPP, é suficiente para que o documento faça prova da
atividade especial, sendo dispensável, portanto, que esteja assinado pelo profissional que o
elaborou, e, sendo suficiente o seu preenchimento com informações extraídas de laudo técnico
e com indicação somente do profissional responsável pelos registros ambientais, visto que,
quanto a monitoração biológica, nem mesmo o próprio INSS a exige mais, a partir de proibição
disposta pelo Conselho Federal de Medicina.
O Tema 208 da TNU, afetado como Representativo de Controvérsia (PEDILEF 0500940-
26.2017.4.05.8312/PE) analisa exatamente a citada questão, fixando a seguinte tese (após
revisão em Embargos de Declaração): "1. Para a validade do Perfil Profissiográfico
Previdenciário (PPP) como prova do tempo trabalhado em condições especiais nos períodos
em que há exigência de preenchimento do formulário com base em Laudo Técnico das
Condições Ambientais de Trabalho (LTCAT), é necessária a indicação do responsável técnico
pelos registros ambientais para a totalidade dos períodos informados, sendo dispensada a
informação sobre de monitoração biológica. 2. A ausência total ou parcial da indicação no PPP
pode ser suprida pela apresentação de LTCAT ou por elementos técnicos equivalentes, cujas
informações podem ser estendidas para período anterior ou posterior à sua elaboração, desde
que acompanhados da declaração do empregador sobre a inexistência de alteração no
ambiente de trabalho ou em sua organização ao longo do tempo.".
Assim, não havendo informação no formulário PPP sobre a presença de responsável técnico
pelos registros ambientais de forma parcial ou total, o segurado poderá suprir tal ausência com
a apresentação do LTCATou por elementos técnicos equivalentes que estejam acompanhado
de declaração do empregador sobre a inexistência de alteração do lay out da empresa.
Quanto à extemporaneidade do laudo, a TNU consolidou a controvérsia por meio da Súmula nº
68: O laudo pericial não contemporâneo ao período trabalhado é apto à comprovação da
atividade especial do segurado.
Portanto, se o laudo (LTCAT) pode ser extemporâneo, nos termos da Súmula 68 da TNU, o
PPP (que é baseado no laudo) também pode ser extemporâneo.
No entanto, não é possível ampliar a eficácia probatória do formulário PPP para data posterior à
sua emissão, visto que o referido documento comprova a exposição a agentes nocivos somente
até àquela data (data da sua expedição).
Do caso concreto:
Os autos foram devolvidos a esta Turma Recursal, para fins de eventual juízo de retratação do
julgado, à luz do entendimento estabelecido no Tema 208 da Turma Nacional de Uniformização,
acima citado.
Com efeito, não se mostra cabível o juízo de retratação, nos termos do art. 1.030, II, do Código
de Processo Civil (CPC), pois o acórdão recorrido aplicou integralmente o entendimento firmado
no Tema 208 da TNU, senão vejamos.
No que se refere ao período reconhecido como especial pela decisão atacada, no período de
08/08/1996 a 26/05/1999, o formulário PPP acostado às fls. 40 do arquivo 01, indica a presença
de responsável técnico pelos registros ambientais somente em parte do período de labor (a
partir de 07/01/2000). No entanto, após intimada a parte autora, foi anexado aos autos o LTCAT
às fls.01 do arquivo 66.
No LTCAT consta que a empresa empregadora continua a exercer as atividades no mesmo
endereço (Av. Salim Farah Maluf, 780, Presidente Prudente-SP), inexistência, assim, qualquer
prova ou mesmo alegação por parte da ré, de qualquer alteração no ambiente de trabalho ou de
sua organização ao longo do tempo. Ademais, o laudo pericial foi assinado pelo engenheiro do
trabalho, Sr. Raul Carlos Gil, com registro no órgão de classe CREA.
Assim, não havendo informação no formulário PPP sobre a presença de responsável técnico
pelos registros ambientais de forma parcial ou total, o segurado poderá suprir tal ausência com
a apresentação do LTCATou por elementos técnicos equivalentes que estejam acompanhado
de declaração do empregador sobre a inexistência de alteração do lay out da empresa.
Quanto à extemporaneidade do laudo, a TNU consolidou a controvérsia por meio da Súmula nº
68: O laudo pericial não contemporâneo ao período trabalhado é apto à comprovação da
atividade especial do segurado.
Portanto, verifica-se que a tese firmada no Tema 208 da TNU restou devidamente cumprida.
Desse modo, viável a manutenção do reconhecimento da especialidade do período ora
analisado, visto que a ausência de indicação de responsável técnico pelos registros ambientais
no PPP foi suprida pela LTCAT (e pela não alteração do lay out da empresa ao longo do
tempo), nos termos do Tema 208 da TNU.
Diante do exposto, deixo de exercer o juízo de retratação, mantendo-se o v. acórdão tal como
lançado, visto que de acordo com o Tema 208 da Turma Nacional de Uniformização.
É o voto.
E M E N T A
JUÍZO DE RETRATAÇÃO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO.
EXPOSIÇÃO A RUÍDO. RESPONSÁVEL TÉCNICO PELOS REGISTROS AMBIENTAIS. TEMA
208 DA TNU.
1.Trata-se de Pedido de Uniformização Nacional interposto pela parte ré, objetivando a reforma
de acórdão que deu parcial provimento ao recurso da parte autora, para o fim de reconhecer a
especialidade do período exposto a ruído.
2. Foi dado provimento ao Pedido de Uniformização, determinando a devolução dos autos à
Turma de origem, para realização do juízo de retratação, de acordo com os critérios do Tema
208 da TNU.
3. Formulário PPP indica a presença de responsável técnico em período posterior ao tempo de
labor reconhecido como especial.
4. A parte autora foi intimada para, nos termos do Tema 208 da TNU, suprir a ausência da
indicação do responsável técnico, juntando LTCAT ou elementos técnicos equivalentes,
acompanhados da declaração do empregador sobre a inexistência de alteração no ambiente de
trabalho.
5.Parte autora juntou LTCAT, assinado por engenheiro do trabalho, com registro no CREA,
demonstrando que a empresa funciona no mesmo endereço, inexistindo qualquer prova, da
alteração no ambiente de trabalho (mesmo lay out).
6.Juizo de Retratação rejeitado. ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, visto, relatado e discutido
este processo, em que são partes as acima indicadas, a Décima Quarta Turma Recursal do
Juizado Especial Federal da Terceira Região, Seção Judiciária de São Paulo decidiu, por
unanimidade, deixar de exercer o juízo de retratação, nos termos do voto da Juíza Federal
Relatora Fernanda Souza Hutzler, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.
Resumo Estruturado
VIDE EMENTA