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PREVIDENCIÁRIO. JUÍZO DE RETRATAÇÃO. ART. 543-C, § 7º, INC. II, DO CPC/73 (ART. 1. 040, INC. II, DO CPC/15). BENEFÍCIO PREVISTO NO ART. 203, INC. V, DA CONST...

Data da publicação: 12/07/2020, 01:17:28

PREVIDENCIÁRIO. JUÍZO DE RETRATAÇÃO. ART. 543-C, § 7º, INC. II, DO CPC/73 (ART. 1.040, INC. II, DO CPC/15). BENEFÍCIO PREVISTO NO ART. 203, INC. V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MISERABILIDADE. I- Os Colendos Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça pacificaram o entendimento no sentido de que a miserabilidade alegada pela parte autora deve ser analisada pelo magistrado, em cada caso concreto, de acordo com todas as provas apresentadas nos autos, não devendo ser adotado o critério objetivo de renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo. II- In casu, o requisito da miserabilidade encontra-se demonstrado no presente feito. O estudo social (elaborado em 14/6/11, data em que o salário mínimo era de R$545,00) demonstra que a parte autora reside com sua genitora, de 78 anos, e seu filho Sidney, de 12 anos, em casa própria, composta por 2 quartos, sala, cozinha, banheiro e despensa, em razoáveis condições, guarnecida por móveis antigos e localizada em rua asfaltada e provida de rede de água e esgoto. A renda familiar mensal é de um salário mínimo (R$545,00), proveniente da aposentadoria por invalidez de sua genitora. Os gastos mensais são de R$41,00 em água e R$160,00 em energia elétrica. Segundo a assistente social, a requerente "não tem acesso a qualquer fonte de renda, se submetendo a dependência de sua mãe. Estes apresentam contexto sócio econômico com característica de instabilidade e carência social. Dessa forma, está destituído das condições de provimento da própria subsistência, não possuindo recursos financeiros para arcar com as despesas de medicação, se submetendo a dependência de sua mãe, que também possui o estado de saúde debilitado. A renda de sua família, apesar de superior a ¼ per capita do salário mínimo vigente, está voltada à manutenção do lar, mas não garante o atendimento das necessidades especiais básicas da autora o que nos faz crer que o sistema social deve-se fazer acessível, visto que o Benefício de Prestação Continuada traria mais tranquilidade para a autora lidar com sua deficiência propiciando-lhe um viver com menos sofrimento" (fls. 83). Cumpre ressaltar que o fato de o filho Haislan, que não reside com a requerente, possuir vínculos empregatícios de 13/9/10 a 26/5/11, de 1º/6/11 a 25/10/11 e a partir de 1º/2/12, auferindo rendimentos médios de R$1.500,00, conforme consultas realizadas no Cadastro Nacional de Informações Sociais - CNIS, juntadas pelo INSS a fls. 117/119 e 164/167, não tem o condão de descaracterizar a situação de miserabilidade. III- A alegada incapacidade também ficou plenamente caracterizada no presente feito, tendo em vista que afirmou o esculápio encarregado do exame que a parte autora - com 53 anos à época do ajuizamento da ação (15/2/11) - apresenta doença coronariana crônica grave, concluindo que a mesma encontra-se total e permanentemente incapacitada para o trabalho (fls. 85/87). IV- Os juros moratórios a partir da citação, momento da constituição do réu em mora. Com relação à taxa de juros, deve ser observado o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal que estiver em vigor no momento da execução do julgado. V- Agravo provido. (TRF 3ª Região, OITAVA TURMA, Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 1751837 - 0020224-90.2012.4.03.9999, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL NEWTON DE LUCCA, julgado em 08/08/2016, e-DJF3 Judicial 1 DATA:23/08/2016 )


Diário Eletrônico

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

D.E.

Publicado em 24/08/2016
AGRAVO EM APELAÇÃO CÍVEL Nº 0020224-90.2012.4.03.9999/SP
2012.03.99.020224-0/SP
RELATOR:Desembargador Federal NEWTON DE LUCCA
AGRAVANTE:MARIUSA DA SILVA
AGRAVADO:DECISÃO DE FLS. 184/185vº
APELANTE:Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
ADVOGADO:DANTE BORGES BONFIM
:SP000030 HERMES ARRAIS ALENCAR
APELADO(A):MARIUSA DA SILVA
ADVOGADO:SP119377 CRISTIANE PARREIRA RENDA DE O CARDOSO
No. ORIG.:11.00.00012-6 2 Vr SANTA FE DO SUL/SP

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. JUÍZO DE RETRATAÇÃO. ART. 543-C, § 7º, INC. II, DO CPC/73 (ART. 1.040, INC. II, DO CPC/15). BENEFÍCIO PREVISTO NO ART. 203, INC. V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MISERABILIDADE.
I- Os Colendos Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça pacificaram o entendimento no sentido de que a miserabilidade alegada pela parte autora deve ser analisada pelo magistrado, em cada caso concreto, de acordo com todas as provas apresentadas nos autos, não devendo ser adotado o critério objetivo de renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo.
II- In casu, o requisito da miserabilidade encontra-se demonstrado no presente feito. O estudo social (elaborado em 14/6/11, data em que o salário mínimo era de R$545,00) demonstra que a parte autora reside com sua genitora, de 78 anos, e seu filho Sidney, de 12 anos, em casa própria, composta por 2 quartos, sala, cozinha, banheiro e despensa, em razoáveis condições, guarnecida por móveis antigos e localizada em rua asfaltada e provida de rede de água e esgoto. A renda familiar mensal é de um salário mínimo (R$545,00), proveniente da aposentadoria por invalidez de sua genitora. Os gastos mensais são de R$41,00 em água e R$160,00 em energia elétrica. Segundo a assistente social, a requerente "não tem acesso a qualquer fonte de renda, se submetendo a dependência de sua mãe. Estes apresentam contexto sócio econômico com característica de instabilidade e carência social. Dessa forma, está destituído das condições de provimento da própria subsistência, não possuindo recursos financeiros para arcar com as despesas de medicação, se submetendo a dependência de sua mãe, que também possui o estado de saúde debilitado. A renda de sua família, apesar de superior a ¼ per capita do salário mínimo vigente, está voltada à manutenção do lar, mas não garante o atendimento das necessidades especiais básicas da autora o que nos faz crer que o sistema social deve-se fazer acessível, visto que o Benefício de Prestação Continuada traria mais tranquilidade para a autora lidar com sua deficiência propiciando-lhe um viver com menos sofrimento" (fls. 83). Cumpre ressaltar que o fato de o filho Haislan, que não reside com a requerente, possuir vínculos empregatícios de 13/9/10 a 26/5/11, de 1º/6/11 a 25/10/11 e a partir de 1º/2/12, auferindo rendimentos médios de R$1.500,00, conforme consultas realizadas no Cadastro Nacional de Informações Sociais - CNIS, juntadas pelo INSS a fls. 117/119 e 164/167, não tem o condão de descaracterizar a situação de miserabilidade.
III- A alegada incapacidade também ficou plenamente caracterizada no presente feito, tendo em vista que afirmou o esculápio encarregado do exame que a parte autora - com 53 anos à época do ajuizamento da ação (15/2/11) - apresenta doença coronariana crônica grave, concluindo que a mesma encontra-se total e permanentemente incapacitada para o trabalho (fls. 85/87).
IV- Os juros moratórios a partir da citação, momento da constituição do réu em mora. Com relação à taxa de juros, deve ser observado o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal que estiver em vigor no momento da execução do julgado.
V- Agravo provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, em sede de juízo de retratação, dar provimento ao agravo da parte autora, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.


São Paulo, 08 de agosto de 2016.
Newton De Lucca
Desembargador Federal Relator


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AGRAVO EM APELAÇÃO CÍVEL Nº 0020224-90.2012.4.03.9999/SP
2012.03.99.020224-0/SP
RELATOR:Desembargador Federal NEWTON DE LUCCA
AGRAVANTE:MARIUSA DA SILVA
AGRAVADO:DECISÃO DE FLS. 184/185vº
APELANTE:Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
ADVOGADO:DANTE BORGES BONFIM
:SP000030 HERMES ARRAIS ALENCAR
APELADO(A):MARIUSA DA SILVA
ADVOGADO:SP119377 CRISTIANE PARREIRA RENDA DE O CARDOSO
No. ORIG.:11.00.00012-6 2 Vr SANTA FE DO SUL/SP

RELATÓRIO

O SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL NEWTON DE LUCCA (RELATOR): Os autos retornaram da E. Vice-Presidência desta Corte, com fundamento no art. 543-C, § 7º, inc. II, do CPC/73, a fim de que fosse reexaminada a questão da miserabilidade, para fins de concessão do benefício assistencial.

Trata-se de ação ajuizada em face do INSS - Instituto Nacional do Seguro Social visando à concessão do benefício previsto no art. 203, inc. V, da Constituição Federal de 1988, sob o fundamento de ser pessoa portadora de deficiência e não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Pleiteia, ainda, a antecipação dos efeitos da tutela.

Foram deferidos à parte autora os benefícios da assistência judiciária gratuita e indeferida a tutela antecipada.

O Juízo a quo julgou procedente o pedido, concedendo o benefício requerido a partir da citação, acrescido de correção monetária "a partir do vencimento de cada prestação do benefício, nos termos do artigo 41, §7º, da Lei nº 8.213/91, Leis nºs 6.899/81, 8.542/92 e 8.880/84, além das Súmulas 148 do S.T.J. e 8 do E. Tribunal Regional Federal da 3ª Região" (fls. 156) e juros de mora "a partir da data desta decisão, (...) à taxa de 12% ao ano" (fls. 156). Os honorários advocatícios foram arbitrados em 10% sobre o valor das parcelas vencidas, nos termos da Súmula nº 111, do C. STJ, e os honorários do perito e da assistente social em R$180,00 e R$120,00, respectivamente.
Inconformada, apelou a autarquia, pleiteando a reforma integral da R. sentença. Caso não seja esse o entendimento, requer a incidência dos juros moratórios nos termos do art. 1º-F, da Lei nº 9.494/97.

Com contrarrazões, subiram os autos a esta E. Corte.

A Oitava Turma, por maioria, negou provimento ao agravo interposto pela parte autora, mantendo a decisão monocrática que deu provimento à apelação do INSS para julgar improcedente o pedido.

Foram opostos embargos de declaração, os quais foram rejeitados pela turma julgadora.

A parte autora interpôs Recurso Especial contra o V. acórdão (fls. 220/233).

A E. Vice-Presidência desta Corte, com fundamento no art. 543-C, §7º, inc. II, do CPC/73, determinou a devolução dos autos a esta Oitava Turma para realização do juízo de retratação ou manutenção do acórdão recorrido, tendo em vista os julgados dos Colendos Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça.

A parte autora interpôs agravo a fls. 271/289, insurgindo-se contra decisão da E. Vice-Presidência desta Corte que não teria admitido o Recurso Especial.

Parecer do Ministério Público Federal a fls. 302/309, opinando pelo desprovimento da apelação do INSS.

É o breve relatório.



Newton De Lucca
Desembargador Federal Relator


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AGRAVO EM APELAÇÃO CÍVEL Nº 0020224-90.2012.4.03.9999/SP
2012.03.99.020224-0/SP
RELATOR:Desembargador Federal NEWTON DE LUCCA
AGRAVANTE:MARIUSA DA SILVA
AGRAVADO:DECISÃO DE FLS. 184/185vº
APELANTE:Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
ADVOGADO:DANTE BORGES BONFIM
:SP000030 HERMES ARRAIS ALENCAR
APELADO(A):MARIUSA DA SILVA
ADVOGADO:SP119377 CRISTIANE PARREIRA RENDA DE O CARDOSO
No. ORIG.:11.00.00012-6 2 Vr SANTA FE DO SUL/SP

VOTO

O SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL NEWTON DE LUCCA (RELATOR): O Plenário do C. Supremo Tribunal Federal, em sessão de 18/4/2013, apreciando o Recurso Extraordinário nº 567.985/MT, declarou a inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do § 3º, do art. 20, da Lei nº 8.742/93, nos termos do voto do E. Ministro Gilmar Mendes, in verbis:


"Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição.

A Lei de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República, estabeleceu os critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo seja concedido aos portadores de deficiência e aos idosos que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.

2. Art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 1.232.

Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que 'considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo'.

O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade social fossem consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente.

Ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.

3. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993.

A decisão do Supremo Tribunal Federal, entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per capita estabelecido pela LOAS.

Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de se contornar o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e de se avaliar o real estado de miserabilidade social das famílias com entes idosos ou deficientes.

Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios mais elásticos para a concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei 10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro a Municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações socioeducativas.

O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos critérios objetivos.

Verificou-se a ocorrência do processo de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).

4. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993.

5. Recurso extraordinário a que se nega provimento."

(STF, Recurso Extraordinário nº 567.985/MT, Plenário, Relator para acórdão Ministro Gilmar Mendes, j. em 18/4/13)

Asseverou o E. Ministro Gilmar Mendes, em seu voto, que "o critério de ¼ do salário mínimo utilizado pela LOAS está completamente defasado e mostra-se atualmente inadequado para aferir a miserabilidade das famílias que, de acordo com o art. 203, V, da Constituição, possuem o direito ao benefício assistencial."

Quadra mencionar, adicionalmente, que o C. Superior Tribunal de Justiça também analisou a questão da miserabilidade por ocasião do julgamento proferido no Recurso Especial Repetitivo Representativo de Controvérsia nº 1.112.557-MG (2009/0040999-9), in verbis:


"RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. ART. 105, III, ALÍNEA C DA CF. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. POSSIBILIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DA CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE DO BENEFICIÁRIO POR OUTROS MEIOS DE PROVA, QUANDO A RENDA PER CAPITA DO NÚCLEO FAMILIAR FOR SUPERIOR A 1/4 DO SALÁRIO MÍNIMO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

1. A CF/88 prevê em seu art. 203, caput e inciso V a garantia de um salário mínimo de benefício mensal, independente de contribuição à Seguridade Social, à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

2. Regulamentando o comando constitucional, a Lei 8.742/93, alterada pela Lei 9.720/98, dispõe que será devida a concessão de benefício assistencial aos idosos e às pessoas portadoras de deficiência que não possuam meios de prover à própria manutenção, ou cuja família possua renda mensal per capita inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo.

3. O egrégio Supremo Tribunal Federal, já declarou, por maioria de votos, a constitucionalidade dessa limitação legal relativa ao requisito econômico, no julgamento da ADI 1.232/DF (Rel. para o acórdão Min. NELSON JOBIM, DJU 1.6.2001).

4. Entretanto, diante do compromisso constitucional com a dignidade da pessoa humana, especialmente no que se refere à garantia das condições básicas de subsistência física, esse dispositivo deve ser interpretado de modo a amparar irrestritamente ao cidadão social e economicamente vulnerável.

5. A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo.

6. Além disso, em âmbito judicial vige o princípio do livre convencimento motivado do Juiz (art. 131 do CPC) e não o sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual essa delimitação do valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de miserabilidade do beneficiado. De fato, não se pode admitir a vinculação do Magistrado a determinado elemento probatório, sob pena de cercear o seu direito de julgar.

7. Recurso Especial provido."

(STJ, REsp. nº 1.112.557/MG, 3ª Seção, Relator Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 28/10/09, v.u., DJ 20/11/09)

Dessa forma, pacificou-se o entendimento no sentido de que a comprovação de a parte autora possuir (ou não) meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família deve ser analisada pelo magistrado, em cada caso concreto, de acordo com as provas apresentadas nos autos.

Outrossim, entendo que, nos termos do art. 34, do Estatuto do Idoso, deve-se descontar outro benefício no valor de um salário mínimo já concedido a qualquer membro da família, para fins de cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS.

Embora a lei refira-se a outro benefício assistencial, nada impede que se interprete a lei atribuindo-se à expressão também o sentido de benefício previdenciário, de forma a dar-se tratamento igual a casos semelhantes. A avaliação da hipossuficiência tem caráter puramente econômico, pouco importando o nomen juris do benefício recebido: basta que seja no valor de um salário mínimo. É o que se poderia chamar de simetria ontológica e axiológica em favor de um ser humano que se ache em estado de penúria equivalente à miserabilidade de outrem.

Nesse sentido, aliás, já decidiu a E. Terceira Seção desta Corte, conforme ementa abaixo transcrita, in verbis:


"EMBARGOS INFRINGENTES. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. INVÁLIDA. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. PREVALÊNCIA DO VOTO VENCEDOR.

I - A extensão dos embargos é adstrita aos limites da divergência que, no caso dos autos, recai unicamente sobre a verificação da hipossuficiência econômica da parte autora.

II - É de se manter a concessão do benefício assistencial à autora, hoje com 61 anos, total e definitivamente incapaz para o trabalho, que vive com uma filha e o marido, já idoso, o qual percebe aposentadoria no valor de um salário mínimo.

III - As testemunhas ouvidas afirmam enfaticamente que a autora reside em casa muito simples e faz uso diário de medicamentos.

IV - O rigor na aplicação da exigência quanto à renda mínima, tornaria inócua a instituição desse benefício de caráter social, tal o grau de penúria em que se deveriam encontrar os beneficiários, além do que, faz-se necessário descontar o benefício de valor mínimo, a que teria direito a parte autora, para o cálculo da renda mensal per capita.

V - O conceito de unidade familiar foi esclarecido com a nova redação do § 1º do artigo 21 da Lei nº 9.720/98, que remete ao art. 16 da Lei nº 8.213/91.

VI - Há no conjunto probatório, elementos que induzem à convicção de que a autora está entre o rol dos beneficiários descritos na legislação.

VII - Embargos infringentes não providos."

(EAC nº 2002.03.099.026301-6, Rel. Des. Federal Marianina Galante, j. em 22/9/04, DJU de 05/10/04)

Passo à análise do caso concreto.


In casu, com relação à miserabilidade, observo que o estudo social (elaborado em 14/6/11, data em que o salário mínimo era de R$545,00) demonstra que a parte autora reside com sua genitora, de 78 anos, e seu filho Sidney, de 12 anos, em casa própria, composta por 2 quartos, sala, cozinha, banheiro e despensa, em razoáveis condições, guarnecida por móveis antigos e localizada em rua asfaltada e provida de rede de água e esgoto. A renda familiar mensal é de um salário mínimo (R$545,00), proveniente da aposentadoria por invalidez de sua genitora. Os gastos mensais são de R$41,00 em água e R$160,00 em energia elétrica. Segundo a assistente social, a requerente "não tem acesso a qualquer fonte de renda, se submetendo a dependência de sua mãe. Estes apresentam contexto sócio econômico com característica de instabilidade e carência social. Dessa forma, está destituído das condições de provimento da própria subsistência, não possuindo recursos financeiros para arcar com as despesas de medicação, se submetendo a dependência de sua mãe, que também possui o estado de saúde debilitado. A renda de sua família, apesar de superior a ¼ per capita do salário mínimo vigente, está voltada à manutenção do lar, mas não garante o atendimento das necessidades especiais básicas da autora o que nos faz crer que o sistema social deve-se fazer acessível, visto que o Benefício de Prestação Continuada traria mais tranquilidade para a autora lidar com sua deficiência propiciando-lhe um viver com menos sofrimento" (fls. 83).

Cumpre ressaltar que o fato de o filho Haislan, que não reside com a requerente, possuir vínculos empregatícios de 13/9/10 a 26/5/11, de 1º/6/11 a 25/10/11 e a partir de 1º/2/12, auferindo rendimentos médios de R$1.500,00, conforme consultas realizadas no Cadastro Nacional de Informações Sociais - CNIS, juntadas pelo INSS a fls. 117/119 e 164/167, não tem o condão de descaracterizar a situação de miserabilidade.

Dessa forma, ficou comprovada a alegada miserabilidade da parte autora.

Passo, então, à análise da incapacidade.
Afirmou o esculápio encarregado do exame que a parte autora - com 53 anos à época do ajuizamento da ação (15/2/11) - apresenta doença coronariana crônica grave, concluindo que a mesma encontra-se total e permanentemente incapacitada para o trabalho (fls. 85/87).
Dessa forma, preenchidos os requisitos exigidos em lei, a parte autora faz jus à concessão do benefício assistencial.
Cumpre ressaltar que o benefício deve ser revisto a cada dois anos, haja vista a expressa disposição legal prevista no art. 21 da Lei nº 8.742/93.
Outrossim, importante deixar consignado que eventuais pagamentos das diferenças pleiteadas já realizadas pela autarquia na esfera administrativa deverão ser deduzidas na fase da execução do julgado.
Ressalto, ainda, ser vedada a acumulação do benefício assistencial de prestação continuada com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo o da assistência médica, nos termos do art. 20, §4º, da Lei nº 8.742/93, devendo ser deduzidos na fase de execução do julgado os pagamentos feitos pela autarquia na esfera administrativa.
A correção monetária deve incidir desde a data do vencimento de cada prestação e os juros moratórios a partir da citação, momento da constituição do réu em mora.
Com relação aos índices de atualização monetária e taxa de juros --- não obstante o meu posicionamento de que a referida matéria deveria ser discutida na fase da execução do julgado, tendo em vista a existência da Repercussão Geral no Recurso Extraordinário nº 870.947 a ser apreciada pelo C. Supremo Tribunal Federal ---, passei a adotar o entendimento da 8ª Turma desta Corte, a fim de que seja observado o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal que estiver em vigor no momento da execução do julgado.

Ante o exposto, em sede de juízo de retratação, dou provimento ao agravo da parte autora, para dar parcial provimento à apelação do INSS, a fim de fixar os juros moratórios na forma acima indicada. Retornem os autos à E. Vice-Presidência desta Corte.

É o meu voto.



Newton De Lucca
Desembargador Federal Relator


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Data e Hora: 08/08/2016 17:49:36



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