O aposentado W.D., de 75 anos, percebeu algo estranho ao conferir o pagamento do seu benefício do INSS, liberado em abril de 2024. O valor creditado na conta estava abaixo do usual. 

Desconfiado, acessou o site Meu INSS para entender o que havia acontecido, e descobriu um desconto de R$ 77,86, valor equivalente a 1% do teto previdenciário daquele ano, então fixado em R$ 7.786,02.

O desconto havia sido feito por uma associação com a qual ele nunca teve contato. Sem saber da existência da entidade, o aposentado percebeu que estava sendo vítima de um esquema de desconto indevido diretamente na aposentadoria. Saiba mais detalhes desta notícia. Com informações da Folha de S. Paulo. 

Relembre: Presidente do INSS é afastado após operação da PF que investiga fraudes contra aposentados.

Tentativas frustradas e negativa de devolução

Com a ajuda do filho e da nora, W.D. conseguiu bloquear o desconto no Meu INSS, processo que, segundo ele, foi difícil devido à falta de clareza no sistema. Em seguida, procurou a associação para exigir o reembolso em dobro do valor, conforme prevê o Código de Defesa do Consumidor. A entidade, porém, condicionou a devolução ao envio de um documento com foto.

Com receio de cair em um novo golpe, W.D. se recusou a fornecer a documentação e, por isso, não recebeu o reembolso. “Uma vez que descontaram sem me contatar, deveriam devolver pelo mesmo meio”, afirmou à Folha.

Ações judiciais e justificativa da associação

Diante da negativa, o aposentado entrou com ação na Justiça. Segundo ele, meses depois, foi informado por seu advogado que a associação alegava ter uma “autorização” dele por meio de assinatura digital, algo que o aposentado garante jamais ter feito. “Não sei nem onde e nem como fazer isso. Mais uma tentativa de tirar dinheiro do aposentado e se livrar da responsabilidade”, desabafou.

Fraude generalizada mobiliza PF e CGU

O caso de W.D. não é isolado. Em 2024, o INSS passou a investigar o aumento de queixas sobre descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas. As apurações levaram à deflagração da operação Sem Desconto, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União, realizada no dia 13 de março.

A operação revelou que, entre 2019 e 2024, foram aplicados R$ 6,3 bilhões em descontos (legais e ilegais) nos benefícios. Somente nos três primeiros meses de 2024, cerca de 5,4 milhões de beneficiários solicitaram o cancelamento de mensalidades cobradas por associações ou sindicatos.

Medidas emergenciais e demissão no alto escalão

No mesmo mês da denúncia de W.D., uma instrução normativa publicada pelo INSS e pelo Ministério da Previdência Social, sob comando de Alessandro Stefanutto, impôs novas exigências para os chamados ACTs (Acordos de Contribuição Técnica), firmados com associações e sindicatos.

Entre as novas regras, destacam-se a obrigatoriedade de assinatura eletrônica e o uso de biometria para validar o consentimento do segurado.

Apesar da tentativa de endurecimento das regras, Stefanutto acabou sendo exonerado do cargo após o avanço das investigações da operação Sem Desconto.

O que fazer em caso de desconto indevido? 

Aposentados e pensionistas que desconfiarem de cobranças não autorizadas em seus benefícios podem acessar o Meu INSS, via site ou aplicativo, e solicitar o bloqueio ou exclusão da mensalidade de associações e sindicatos.

Para saber como solicitar a devolutiva dos descontos indevidos, entre em contato com um advogado previdenciário, que será capaz de oferecer a você os direcionamentos adequados para o seu caso. 

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