aposentadaO antigo costume das mulheres não trabalharem para cuidar de seus esposos e de seu lar já mudou há muito tempo. Atualmente, até as aposentadas trocam o sossego de suas casas para continuarem trabalhando. De acordo com o economista Adriano Paranaíba, muitas mulheres se aposentam no auge de suas carreiras, mas têm total capacidade para continuar no mercado. “Quando falamos em aposentada, a gente pensa em uma velhinha, de cabelo branco e bengala. Mas com a qualidade de vida de hoje, não é assim, as mulheres se aposentam e têm condições de continuar economicamente ativas”, diz o economista.

“Eu acho que se você tem saúde e disposição, você deve continuar trabalhando, porque ficar com a cabeça ocupada até evita problemas de saúde”, opina a aposentada de 62 anos, Marizene da Cunha Pereira. Ela conta que se aposentou há 14 anos, como professora de História na rede de ensino estadual, mas não parou por aí, pois até hoje, atua na área dando aulas particulares para crianças. “Aposentei em maio de 1998 e trabalhei na mesma escola até setembro. No outro ano já comecei como autônoma oferecendo reforço escolar ou acompanhamento e, desde então, eu continuei”, conta a professora.

Já Domingas Cipriani dos Santos, 61, trabalhou na copa da Xerox Brasil e da Doc Center, e se aposentou há pouco mais de seis anos. “Continuei trabalhando, porque senão, eu não daria conta de sustentar meus dois filhos, já que na época eu era a única que trabalhava. Mas não consigo ficar parada e, assim, tenho um motivo a mais para eu me movimentar, tanto o corpo quanto a cabeça.” Ela acredita que as mulheres com a oportunidade de trabalhar até quando estão mais velhas vivem mais, já que não têm tempo para pensar em bobeiras ou se deprimir.

O caso de Luiza Gonçalves, 63, não é diferente. Ela conta que trabalhou em uma empresa por 23 anos e saiu simplesmente porque a empresa fechou. “Eu gostava muito da empresa onde eu trabalhava. Sempre gostei de trabalhar, pois eu comecei com 14 anos. Além disso, apenas com a minha aposentadoria não dava para manter o padrão de vida que eu estava acostumada”, assume.

 

MERCADO

O mercado, porém, não está fácil para este perfil de trabalhadoras. “Hoje existe uma aceitação maior do que no passado, mas depende muito de que tipo de cargo e empresa a pessoa está procurando, mas o mercado é mais restrito sim”, informa a gerente de seleção nacional do Grupo Empreza, Renata Tavolano.

A aposentada Luiza Gonçalves é prova, já que desde o ano passado, quando a empresa em que trabalhava fechou, ela não conseguiu mais arrumar emprego. “Se a empresa estivesse aberta, eu ainda estaria lá, porque disposição eu tenho, com 63 anos eu me sinto mais disposta do que muitos jovens por aí, o problema é achar um emprego”, declara.

“A geração nova é muito impulsiva, então muitos empregadores procuram por maturidade e um perfil comportamental diferente, que é encontrado nelas, sendo que, como elas sabem, suas oportunidades são restritas, elas procuram por excelência no trabalho e são mais estáveis”, incentiva a gerente de seleção.

 

DIREITOS

De acordo com o advogado especializado em Direito Previdenciário Osório Evandro de Oliveira, todas as mulheres que contribuem por 30 anos, ou chegam aos 60 com pelo menos 15 anos de contribuição, podem se aposentar. “Muitas não sabem que existe também a figura do contribuinte facultativo, para aquelas que não têm atividade remunerada, mas que querem contribuir para ter direito aos benefícios. Estas pessoas também se aposentam por idade ou tempo de contribuição”, explica.

A aposentada Domingas Cipriani conta que não sabia que para receber seu salário integral deveria ter 30 anos de trabalho, e por isso acabou ficando com uma aposentadoria menor. “Faltavam dois anos para completar os 30, mas disseram que eu já poderia, e eu aposentei recebendo só um salário mínimo. Se eu soubesse não teria feito na época, já que desde então nunca fiquei sem trabalhar nenhum dia, só fiquei de férias.”

 

DESAPOSENTAÇÃO

Porém, o advogado conta que, como Domingas continuou trabalhando com carteira assinada, pode ter direito a uma nova aposentadoria. “Existe um processo chamado desaposentação, conhecido como nova aposentadoria, direito que o INSS administrativamente não reconhece, tem que ser pelo Judiciário”, afirma, orientando que nem todos os casos são compensatórios, por isso é importante procurar um profissional, e a Associação dos Aposentados e Pensionistas.

Luiza Gonçalves de Melo conseguiu sua desaposentação. A antiga auxiliar de escritório aposentou-se em 2004 e continuou trabalhando na mesma empresa até 2012, quando conseguiu uma nova aposentadoria, aumentando seu benefício em cerca de 50%.

 

MOTIVAÇÃO

Marizene diz que o gosto pelo trabalho está, principalmente, no serviço que realiza, inclusive ao ensinar crianças deficientes. Ela também diz que a única razão de continuar ativa depende de outro fator. “O salário com o qual eu aposentei é muito pequeno, então não dava para continuar ganhando pouco. Por isso, precisei arrumar uma forma de complementar a renda”, revela.

O economista Adriano Paranaíba também diz que dependendo do cargo oferecido, pode ser que a idade e a prática dos anos sejam até um diferencial. “Hoje a experiência está sendo o essencial para as empresas. As mulheres cada vez mais ocupam cargos altos, independente da idade”, diz, emendando que as mulheres, no geral, se sobressaem aos homens por serem mais dedicadas e detalhistas, prestando atenção nos mínimos detalhes.

Osório de Oliveira diz que uma desvantagem que as aposentadas encontram no mercado é a falta de benefícios garantidos pelo INSS. “Na condição de aposentada e trabalhadora, ela continua recebendo a aposentadoria e o salário, além de continuar contribuindo, mas não tem nenhum benefício, a não ser a licença e o salário maternidade, o que é irônico”. Osório conta ainda que é muito raro as mulheres fazerem uso deste benefício depois de já aposentadas.

 

EMPREENDEDORISMO

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Uma saída que pode ser uma grande oportunidade para as mulheres aposentadas, e que precisam de renda extra ou para aquelas que não conseguem ficar sem trabalhar, é optar por empreender. “Mesmo depois de aposentadas, também é momento para empreender, já que as características de um empreendedor podem ser desenvolvidas em qualquer estágio de sua vida. Então, mesmo na terceira idade, elas são capazes”, atesta a gerente da unidade de inovação e competitividade do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Elaine Moura.

Este foi o caso de Domingas dos Santos, que, além de trabalhar em uma empresa terceirizada que presta serviço para o Sebrae, resolveu tomar conta de seu próprio negócio. “Faço pão de queijo, salgados, bolos e até almoço para umas 30 pessoas, e vendo no Sebrae”, narra. De acordo com ela, mesmo com 61 anos não se sente cansada e nem desanimada, já que a aposentadoria, junto com o salário e a renda extra de seu negócio, lhe proporciona uma vida tranquila.

“As pessoas também buscam a necessidade de se ocupar, mesmo com a segurança da aposentadoria. Algumas desenvolvem trabalho comunitário, cuidam de netos, escrevem livros e outras vão empreender”, comenta Elaine Moura, ao dizer que outro motivo para muitas mulheres empreenderem depois de aposentadas é a insegurança. “Algumas vezes elas não se sentem encorajadas quando estão presas a serviços públicos e até à iniciativa privada. Mas após a aposentadoria, se sentem mais seguras e arriscam.”

 

DICA

“Tenham confiança de que vão conseguir e estejam antenadas em mídia social, o que esse pessoal muitas vezes não faz, mas que é a nova ferramenta para o mercado. O currículo tem que estar na internet, então é preciso se atualizar tecnologicamente para conseguir vagas almejadas mesmo depois de aposentadas”, instrui Renata Tavolaro.

 

Fonte: Diário da Manhã

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